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Cultura

- Publicada em 25 de Novembro de 2019 às 21:26

Elizabeth Bishop é a 1ª estrangeira a ser autora homenageada pela Flip

PAN ELIZABETH BISHOP DVG JOSEPH BREITENBACH

PAN ELIZABETH BISHOP DVG JOSEPH BREITENBACH


JOSEPH BREITENBACH/DIVULGAÇÃO/JC
Do átrio de seu apartamento no Rio de Janeiro, Elizabeth Bishop via o mar do Leme e uma paisagem que afirmou não ser "a cidade mais bela do mundo, apenas o lugar mais belo do mundo para uma cidade". Quarenta anos após a sua morte, a escritora americana está de volta a esse lugar.
Do átrio de seu apartamento no Rio de Janeiro, Elizabeth Bishop via o mar do Leme e uma paisagem que afirmou não ser "a cidade mais bela do mundo, apenas o lugar mais belo do mundo para uma cidade". Quarenta anos após a sua morte, a escritora americana está de volta a esse lugar.
Ou quase - desta vez, ela estará a cerca de 260 quilômetros do Leme. Bishop acaba de ser anunciada como a homenageada da 18ª edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, que ocorre de 29 de julho a 2 de agosto de 2020.
Considerada uma das principais poetas recentes dos Estados Unidos, a escritora é o primeiro nome internacional a ser celebrado pelo evento. "Além de ser uma das grandes autoras do século 20, ela tem um olhar estrangeiro e conflituoso em relação ao Brasil", justifica Fernanda Diamant, responsável pela programação pelo segundo ano seguido.
Bishop viveu 20 anos no país, de 1951 a 1971, com temporadas no Rio, em Petrópolis, na serra fluminense, e em Ouro Preto, no interior mineiro.
Nascida em 1911 e com quase toda a vida dedicada à poesia, a escritora publicou só cerca de cem poemas - o que é creditado ao seu perfeccionismo e à sua autocrítica, que a deixavam mostrar só o que tivesse de melhor.
No meio desses versos, o Brasil surge em imagens como o Carnaval, a cadela com "tetas cheias de leite", o ladrão do morro da Babilônia, os mendigos jogados num canal, a cerveja, o chouriço, as biroscas.
"Fora isso, a Flip foi criada por uma estrangeira", acrescenta Diamant, lembrando Liz Calder, britânica que foi uma das idealizadoras do evento.
A defesa da curadora se deve à repercussão e à resistência causadas pela escolha de Bishop, sobretudo nas redes sociais. Em outubro, Ancelmo Gois, em sua coluna no jornal O Globo, antecipou que a poeta seria a homenageada da próxima Flip, o que foi desmentido na época pela organização.
"Naquele momento, ainda estávamos trabalhando com três nomes", conta Diamant. A resistência partiu de três grupos em especial. Primeiro os nacionalistas, que reclamaram do nome estrangeiro e questionaram se não havia mais brasileiros disponíveis. Na opinião de Diamant, porém, a homenagem não é uma desfeita à literatura nacional.
"A Flip sempre traz muitos estrangeiros, e Bishop observou o que se passava por aqui. Não vamos tirar os olhos do país, mas precisamos nos comunicar com todos", afirma.
A segunda resistência veio de quem esperava um autor mais ligado a causas identitárias --caso de Carolina Maria de Jesus, por exemplo, que coroaria anos de esforços da Flip para se tornar mais diversa e menos elitista. "A programação não vai abandonar o que está sendo feito, independentemente do homenageado. No caso da Bishop, ela é uma poeta homossexual, embora isso não tenha sido a razão central da escolha", diz Diamant.
No Brasil, a americana viveu um relacionamento com a arquiteta Lota de Macedo Soares, que idealizou a construção do Aterro do Flamengo, no Rio.
Por último, um terceiro grupo lembrou o apoio de Bishop ao golpe militar de 1964. Na época, em cartas ao escritor americano Robert Lowell, a poeta afirmou que havia ocorrido uma "revolução rápida e bonita" no Brasil e que a suspensão de direitos "tinha de ser feito, por mais sinistro que pareça".
"Era um momento de muita polarização. Essas opiniões vinham da turma com quem ela andava por aqui --o que chocou alguns amigos americanos, todos eles democratas, como ela", conta Paulo Henriques Britto, que traduziu cartas e poemas de Bishop no Brasil.
Mesmo diante das controvérsias, o poeta e tradutor vê mais argumentos a favor da escolha do que contra ela. "Além de ter tematizado o Brasil, Bishop é uma poeta muito boa", diz. "Ela une a forma fixa com a linguagem oral do projeto modernista, como se escrevesse em americano, não em inglês."
Outros nomes do mercado também viram a opção com bons olhos --para alguns, é a maior oxigenação do evento desde que Ana Cristina César foi homenageada, em 2016.
"Embora a fila de autores brasileiros a serem homenageados ainda seja longa, a opção por Bishop tem a beleza de iluminar uma autora do primeiro time da poesia universal", acredita Cassiano Elek Machado, diretor editorial da Planeta no Brasil e ex-curador da Flip.
"É uma leitura deliciosa, uma poesia sem solenidade, que dialogou com poetas brasileiros de seu tempo como Drummond e Bandeira", diz Paulo Werneck, fundador da revista Quatro Cinco Um e também ex-curador do festival. "Se proporcionar apenas a reedição de suas cartas, já valeu."
Outros escritores festejados:
  • Vinicius de Moraes (2003)
  • Guimarães Rosa (2004)
  • Clarice Lispector (2005)
  • Jorge Amado (2006)
  • Nelson Rodrigues (2007)
  • Machado de Assis (2008)
  • Manuel Bandeira (2009)
  • Gilberto Freyre (2010)
  • Oswald de Andrade (2011)
  • Carlos Drummond de Andrade (2012)
  • Graciliano Ramos (2013)
  • Millôr Fernandes (2014)
  • Mário de Andrade (2015)
  • Ana Cristina Cesar (2016)
  • Lima Barreto (2017)
  • Hilda Hilst (2018)
  • Euclides da Cunha (2019)
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