Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 27 de Outubro de 2019 às 16:17

Festival traz mais de cinco horas de blues e rock pesado em Porto Alegre

Zakk Wylde em apresentação no palco na Capital

Zakk Wylde em apresentação no palco na Capital


FABIANO PANIZZI/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Porto Alegre teve uma chance de ouro para curtir o peso, o sentimento e a melodia do blues neste sábado (26). Durante mais de cinco horas, o Samsung Best of Blues trouxe uma sequência de atrações gratuitas, levando cerca de 40 mil pessoas ao Anfiteatro Pôr do Sol, segundo números da organização. Com ótima estrutura de palco e um som de muito boa qualidade, o público teve as melhores condições possíveis para curtir os shows de Stones Blues Band, Tati e Nina Pará, Kenny Wayne Shepherd e Zakk Wylde, na segunda passagem do festival pela Capital.
Porto Alegre teve uma chance de ouro para curtir o peso, o sentimento e a melodia do blues neste sábado (26). Durante mais de cinco horas, o Samsung Best of Blues trouxe uma sequência de atrações gratuitas, levando cerca de 40 mil pessoas ao Anfiteatro Pôr do Sol, segundo números da organização. Com ótima estrutura de palco e um som de muito boa qualidade, o público teve as melhores condições possíveis para curtir os shows de Stones Blues Band, Tati e Nina Pará, Kenny Wayne Shepherd e Zakk Wylde, na segunda passagem do festival pela Capital.
Diferente da grande maioria dos festivais e grandes eventos internacionais de rock, o clima era despojado e casual. Além do caráter gratuito do evento, a localização junto à orla do Guaíba fez com que o público fosse chegando aos poucos, encarando os shows quase como uma continuação dos passeios típicos de um sábado de sol. Famílias traziam cadeiras de praia, enquanto jovens chegavam de bicicleta e alguns traziam, em isopores, bebidas e até lanches para encarar a maratona musical. De qualquer forma, a presença de camisetas alusivas ao heavy metal era grande, deixando claro quem era a atração principal da noite.
Diante de um público já bastante razoável, a Stones Blues Band abriu os trabalhos pouco depois das 18h. A proposta do quarteto é simples, mas bastante funcional: versões instrumentais de temas do lendário Rolling Stones, em arranjos fortemente calcados no blues. Foi uma apresentação bastante agradável, com momentos como Paint it black e Sympathy for the devil arrancando a reação mais positiva dos presentes.
É seguro imaginar que, antes do show, a maioria do público não fizesse ideia de quem fossem Tatiana e Nina Pará. E não é nada absurdo apostar que, nos próximos dias, muita gente vai estar procurando mais informações sobre as duas nas redes sociais, já que as gêmeas fizeram uma apresentação de muita qualidade. Foi a primeira vez que Tati (guitarra) e Nina (bateria) se apresentaram sem outros músicos, usando como suporte apenas algumas bases pré-gravadas. Simpáticas e tecnicamente impecáveis, as duas trouxeram trechos de músicas como Crazy train (Ozzy Osbourne) e Back in black (AC/DC) em meio a composições próprias, além de uma ótima versão para Frankestein (Edgar Winter Group), fazendo por merecer os aplausos do público ao final do set.
Talvez a mais tipicamente blues de todas as atrações do festival, o norte-americano Kenny Wayne Shepherd fez sua primeira apresentação no Brasil, e demonstrou os predicados que o fizeram ser considerado o "garoto de ouro" do estilo. Com excelente timbre, a guitarra de Kenny soou límpida e melodiosa pelo Anfiteatro Pôr do Sol, acompanhada de uma banda versátil e coesa. O resultado foi um espetáculo divertido de assistir, que colocou muita gente para dançar.
Mesmo desconhecidas do público, faixas do novo CD The traveler, como Woman like you e I want you foram muito bem recebidas, e seções instrumentais como Shame, shame, shame seguraram a onda com um balanço agradável e ótimos solos. Após a bela Blue on black, talvez o principal sucesso da carreira do músico, o show encerrou com uma longa e empolgada versão de Voodoo chile / Voodoo child (slight return), canções quase homônimas do inesquecível Jimi Hendrix. Kenny Wayne Shepherd certamente sairá do Brasil com mais fãs do que entrou - e fica a curiosidade de assistir seu show em um contexto mais intimista, que deve jogar ainda mais a favor de sua visão renovada de fazer blues.
Depois das boas apresentações anteriores, e com a visível expectativa positiva do público, era de se esperar que Zakk Wylde entrasse em campo com a partida ganha. É difícil, portanto, explicar o que levou seu show a ser bem menos empolgante do que o esperado. Acompanhado pelos demais músicos da Black Label Society - Jeff Fabb (bateria), Dario Lorina (guitarra) e John DeServio (baixo) - Zakk trouxe um show que se propunha a realçar os laços de sangue entre o blues e o rock pesado. Na maior parte do tempo, porém, o quarteto soou apenas como uma banda de heavy metal tentando tocar blues - o que não é necessariamente um erro, mas simplesmente não funcionou bem no formato proposto.
Após uma divertida introdução, trazendo um mashup entre Whole lotta love (Led Zeppelin) e War pigs (Black Sabbath), Zakk Wylde e sua banda se lançaram em uma versão de Whipping post (The Allman Brothers Band), entremeada por outros clássicos do blues rock. Usando longos e velozes solos para unir diferentes pedaços musicais, a viagem acabou durando rendendo mais de 30mins ininterruptos de música - uma proposta que acabou visivelmente cansando muitos dos presentes. A bela Still got the blues (Gary Moore) veio na sequência, e foi outra que acabou inflada por longos solos, durando mais de 15mins ao todo.
Se parte da plateia parecia ter entrado no espírito do espetáculo, era possível ver muita gente indo embora pelas laterais do palco, alguns falando abertamente sobre a ausência de músicas do próprio Black Label Society ou da carreira de Zakk Wylde ao lado de Ozzy Osbourne. All along the watchtower (Bob Dylan, mas imortalizada por Jimi Hendrix) recebeu uma versão competente, mas acabou realçando outro problema do show: o som distorcido e estridente da banda, que funciona às maravilhas para o metal, mas acabou deixando os clássicos do blues rock com uma sonoridade suja e que eliminou as nuances das composições.
Depois de mais de uma hora de blues tocado como se fosse heavy metal, surgiu War pigs, a primeira - e única - música tipicamente metálica do setlist. E foi, sem dúvida, o momento de maior empolgação e participação do público - o que demonstra que muitos estavam lá para ouvir Zakk Wylde tocando heavy metal, e devem ter ficado confusos com as extensas jams que constituíram mais de 80% do show. Após o jogo de cena usual - com direito a Zakk imitando King Kong em cima de uma caixa de equipamentos - a banda retirou-se do palco. Um show que não chegou a ser ruim, muito menos a estragar o saldo positivo do festival, mas que deixou a multidão que saía do anfiteatro com a nítida sensação de que poderia ter sido melhor.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO