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Cultura

- Publicada em 21 de Outubro de 2019 às 03:00

Convidado do Fronteiras do Pensamento, Contardo Calligaris fala sobre os desafios de existir

Psicanalista e cronista promete entregar qual é o sentido da vida em palestra no Centro de Eventos da Pucrs

Psicanalista e cronista promete entregar qual é o sentido da vida em palestra no Centro de Eventos da Pucrs


LUIZ EVANGELISTA/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
"Eu vou responder ao tema. A minha palestra vai se chamar O sentido da vida. Eu vou entregar o que me foi pedido, eu vou dizer qual é o sentido da vida." Escrita assim, sem muito contexto, a frase talvez soe um pouco áspera e pretensiosa. Mas foi dita, na verdade, com bom humor e fina ironia. E é assim, transitando com segurança entre a profundidade e a leveza, que o psicanalista e cronista Contardo Calligaris vem conduzindo décadas de reflexão sobre o profundo desafio humano de existir.
"Eu vou responder ao tema. A minha palestra vai se chamar O sentido da vida. Eu vou entregar o que me foi pedido, eu vou dizer qual é o sentido da vida." Escrita assim, sem muito contexto, a frase talvez soe um pouco áspera e pretensiosa. Mas foi dita, na verdade, com bom humor e fina ironia. E é assim, transitando com segurança entre a profundidade e a leveza, que o psicanalista e cronista Contardo Calligaris vem conduzindo décadas de reflexão sobre o profundo desafio humano de existir.
Ele será o conferencista desta segunda-feira (21) no ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento, em evento que se inicia às 19h45min e será realizado, excepcionalmente, no Centro de Eventos da Pucrs (Ipiranga, 6.681). Os passaportes para a edição 2019 - que tem como tema, justamente, Os sentidos da vida - estão esgotados.
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A postura divertida não deve, é claro, ser confundida com falta de seriedade. Afinal, como ele mesmo faz questão de frisar logo em seguida, querer saber qual é o sentido da vida reflete aspectos bastante sérios - e profundos - da nossa existência coletiva. "A cultura ocidental, há quase 3 mil anos, acabou, de uma maneira patética, acreditando que precisávamos encontrar o sentido da vida a partir de uma transcendência. Isso é, de fato, uma doença, da qual estamos longe de sermos curados. Eu não tenho nenhuma pretensão de sarar desta doença sequer as pessoas que estarão presentes (à conferência), é claro. Mas penso que é possível viver uma vida interessante, e que isso é bem mais desejável do que viver em busca de uma felicidade projetada na transcendência."
A defesa de uma vida interessante é um dos principais motes do trabalho de Contardo Calligaris. Italiano radicado no Brasil, morou até 1989 em Paris, tendo aulas com nomes emblemáticos da filosofia como Michel Foucault e Jacques Lacan. Mais tarde, porém, fixou residência em nosso País, que conheceu por ocasião do lançamento de seu primeiro livro de psicanálise, Hipótese sobre o fantasma, em 1985.
Desde então, livros não faltam na trajetória do pensador, incluindo romances e uma peça teatral. O mais recente, recém-lançado, é Coisa de menina? Uma conversa sobre gênero, sexualidade, maternidade e feminismo, escrito em parceria com a psicanalista Maria Homem. Em formato de diálogo, a obra propõe uma discussão sobre desejo e o modo como ele influencia diferentes aspectos do feminismo contemporâneo - tudo com o objetivo declarado de enfrentar os obstáculos à reflexão, em um mundo cada vez mais polarizado.
"A brutalidade tornou-se uma postura frequente diante da divergência, e essa não é uma característica unicamente brasileira", comenta. "Acho muito divertido perceber, nos e-mails que recebo após publicar uma coluna, que são obviamente escritos por pessoas que estão na quarta linha (de leitura), que não esperam chegar nem aos 2 mil toques (de texto) e já têm uma resposta. É mais urgente dizer 'aí está, eu respondi a esse filho da puta' do que entender o que esse cara está querendo dizer", reflete.
O livro mais recente conecta-se a uma pesquisa mais profunda, que Contardo vem desenvolvendo nos últimos cinco ou seis anos e que, espera ele, poderá ser abordada com alguma profundidade no Fronteiras do Pensamento desta segunda-feira (21). "É, em termos gerais, um estudo sobre cristianismo primitivo, sobre os primeiros quatro séculos do mundo cristão. Sobretudo para tentar entender como a cultura ocidental tornou-se uma cultura de ódio ao corpo e ódio ao prazer. Essa é uma das questões que mais me interessam e mais me intrigam no momento."
Contardo Calligaris é também o criador da bem-sucedida série de televisão Psi, exibida pelo canal por assinatura HBO e que já está na quarta temporada. Mais um aspecto da frequente intersecção entre o complexo e a linguagem popular que marca sua obra - e que, garante o psicanalista, é bem menos calculada do que parece. 
"Eu tenho uma teoria, que pode ser um pouco fatalista, de que depois dos grandes triunfos da morte sobrevêm períodos de liberalização dos costumes. Como se fosse necessário retomar um pouco o gosto pela vida", diz Contardo.
Em sua visão, o momento que vivemos hoje, com todas suas hostilidades e incapacidades de diálogo, é uma reação a essa tentativa de retomar a paixão pela vida. E é fiel a essa leitura que o pensador posiciona-se, de forma afiada, sobre o difícil momento que a cultura e o conhecimento vivem no País. 
"Não mandei o livro para nossa ministra da Mulher (Damares Alves) mas, de qualquer modo, tenho pouca esperança que ela leria". Seria bom que ela lesse?, pergunta o repórter. "Imagino que seria bom que ela lesse qualquer coisa", conclui Contardo, com uma gargalhada.
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