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Cultura

- Publicada em 16 de Outubro de 2019 às 03:00

Yoko Tawada está na Capital para promover livro 'Memórias de um urso-polar'

Japonesa radicada na Alemanha autografa no Goethe-Institut na noite desta quarta-feira (16)

Japonesa radicada na Alemanha autografa no Goethe-Institut na noite desta quarta-feira (16)


MARCO QUINTANA/JC
Igor Natusch
Era uma vez um filhote de urso-polar chamado Knut, que foi abandonado por sua mãe em 2006 e passou a ser criado por um cuidador, em um drama entre espécies que transbordou do Zoológico de Berlim para emocionar o mundo. E era uma vez a escritora Yoko Tawada, japonesa vivendo na Alemanha há mais de 30 anos, que encontrou na história o gatilho para um livro sobre o que é ser uma animal em meio ao humano, e vice-versa.
Era uma vez um filhote de urso-polar chamado Knut, que foi abandonado por sua mãe em 2006 e passou a ser criado por um cuidador, em um drama entre espécies que transbordou do Zoológico de Berlim para emocionar o mundo. E era uma vez a escritora Yoko Tawada, japonesa vivendo na Alemanha há mais de 30 anos, que encontrou na história o gatilho para um livro sobre o que é ser uma animal em meio ao humano, e vice-versa.
Publicado originalmente em 2011, Memórias de um urso-polar (Todavia, 272 págs.) recebeu, neste ano, uma versão em português, com tradução de Gerson Roberto Neumann e Lúcia Collischonn de Abreu. É a primeira vez que a obra de Yoko, autora com dezenas de livros publicados, é editada no Brasil. Hoje, às 19h, ela estará no auditório do Goethe-Institut Porto Alegre (24 de Outubro, 112) participando de uma conversa com o público, seguida de sessão de autógrafos - em evento promovido também pela Fundação Japão e Instituto de Letras da Ufrgs. A ocasião terá momentos musicais da pianista Olinda Alessandrini, além da leitura de trechos do livro.
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Como pessoa que se tornou, a seu modo, uma ponte entre dois mundos, Yoko Tawada escreve suas obras tanto em japonês quanto em alemão - às vezes, ao mesmo tempo, fazendo uma "tradução contínua" de uma língua para a outra. Foi a partir do pedido de alguns editores japoneses, que queriam que ela escrevesse um livro sobre sua experiência na capital alemã, que Memórias de um urso-polar começou a tomar forma. "Pensei que poderia escrever sobre mim ou meus amigos, mas isso não me interessou tanto, porque, no fundo, é algo normal. No fim das contas, somos todos migrantes em Berlim", pondera.
A presença constante de Knut no noticiário fez a imaginação da autora refletir sobre um tipo diferente de migração. "Me ocorreu que todos, ou quase todos os animais daquele zoológico nasceram em Berlim, mesmo que suas espécies venham de lugares diferentes. Como é isso para os animais? É diferente para eles nascer no comunismo ou no capitalismo, em um país rico ou pobre, islâmico ou cristão? Deve fazer ao menos uma pequena diferença, do mesmo modo que faz para nós."
Pensando no urso-polar como um tipo especial de estrangeiro, Yoko Tawada adotou um recurso comum à literatura de migrantes: o resgate ancestral. É assim que o livro narra três gerações da família de Knut, contando também a história de sua avó (nascida na extinta União Soviética e que escreve um livro de memórias que vira best-seller) e sua mãe (uma dançarina de circo que vive na Alemanha Oriental).
Com elementos típicos de fábula, o livro cria uma convivência ao mesmo tempo fantástica e casual entre o antropocêntrico e a animalidade. Ursos e humanos interagem, conversam e se relacionam, ainda que sempre esteja clara a diferença entre uns e outros. Essa subjetividade dá margem para falar não apenas sobre a exploração em circos e zoológicos, mas também para uma série de observações irônicas sobre o cotidiano, momentos históricos e dilemas da atualidade, sempre a partir do olhar inusitado dos animais.
Construir essa tapeçaria de vozes animais e humanas não foi tão complexo quanto parece, garante Yoko. "Quando escrevo em alemão, é um pouco como criar uma figura fictícia, mas muito humana, de mim mesma. Há alguma distância entre a minha pessoa e como me represento (escrevendo em alemão). Por outro lado, na Alemanha, sou vista como uma japonesa, e essa também é uma figura ficcional, porque o modo como me veem não é como me enxergo enquanto japonesa. São papéis que interpreto, todos os dias. No fundo, não é uma distância tão grande entre ser uma alemã, ser uma japonesa na Alemanha e ser uma urso-polar", ironiza Yoko - deixando nas entrelinhas, como em todas as ironias, uma boa dose de verdade.
A versão em português de Memórias de um urso-polar surge em um momento emblemático para o Brasil e para o mundo, com preocupações crescentes a respeito do aquecimento global e das queimadas na Amazônia. A esse respeito, Yoko Tawada conclui a entrevista para o Jornal do Comércio com uma metáfora. "(Escrevendo o livro) Eu descobri como o frio é importante para contrabalancear o calor. Um urso-polar não pode sobreviver se a temperatura é muito alta. E o inverno é um momento de voltar para a casa, de ficar protegido e talvez um pouco sozinho, refletindo. Talvez vocês, no Brasil, e nós todos no mundo precisemos de um pouco de frio e de inverno para apagar esse fogo."
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