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Cultura

- Publicada em 15 de Outubro de 2019 às 03:00

Adriana Giora abre ampla instalação com peças de cerâmica no Margs

Exposição 'No limiar do jardim' tem curadoria do artista e gestor André Venzon

Exposição 'No limiar do jardim' tem curadoria do artista e gestor André Venzon


LEONARDO KERKHOVEN/DIVULGAÇÃO/JC
Igor Natusch
Um amplo e inusitado jardim estará no coração do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) a partir de hoje. A sala Oscar Boeira será completamente ocupada pela exposição No limiar do jardim, da artista gaúcha Adriana Giora. Formada por peças de cerâmica branca, a ampla instalação traz um jardim imaginário que reúne artesanal e tecnológico, provocando uma reflexão entre o que há de primitivo na modernidade, e vice-versa.
Um amplo e inusitado jardim estará no coração do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) a partir de hoje. A sala Oscar Boeira será completamente ocupada pela exposição No limiar do jardim, da artista gaúcha Adriana Giora. Formada por peças de cerâmica branca, a ampla instalação traz um jardim imaginário que reúne artesanal e tecnológico, provocando uma reflexão entre o que há de primitivo na modernidade, e vice-versa.
Com curadoria de André Venzon, a instalação terá abertura a partir das 18h. A visitação vai até 8 de dezembro, de terças-feiras a domingos, das 10h às 19h, sempre com entrada gratuita. Dialogando com a vindoura Feira do Livro de Porto Alegre, será promovida, no dia 16 de novembro, às 17h, uma conversa com a artista e o curador, seguida de lançamento do catálogo da exposição e sessão de autógrafos.
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Adriana começou a manusear cerâmica há cerca de 35 anos, de forma autodidata, como um hobby. Com o tempo, o fascínio pelo barro e pela argila foi ganhando corpo - em tal dimensão que, há 12 anos, ela resolveu largar a carreira profissional e se dedicar exclusivamente à expressão artística. No limiar do jardim é a sua terceira exposição individual e alude a um tema que ela vem desenvolvendo já há alguns anos: o jardim, enquanto lugar de pensamento e introspecção.
Formada por quase 300 mil peças, boa parte delas de dimensões bastante reduzidas, a instalação traz um contraste claro entre o artesanal inerente à cerâmica e o uso de elementos sequenciais, característicos da contemporaneidade.
"Geralmente, quando se fala em arte contemporânea, há uma conexão imediata com tecnologia, com processos industrializados. E, às vezes, parece que isso faz com que se perca um pouco a valorização do fazer", reflete Adriana. "Fazer cerâmica é um processo vagaroso, que requer a modelagem, secar, queimar. Há acidentes no percurso, a peça pode quebrar. Ao mesmo tempo, parte das peças foi feita com o uso de um torno, ou seja, também usando um processo mais moderno. Parte da minha proposta é pensar o que, de fato, constitui uma arte contemporânea."
Segundo o curador André Venzon, No limiar do jardim foi pensada de forma a aprofundar a pesquisa poética da artista, ao mesmo tempo que traz, desde a sua concepção, um estímulo ao esforço de síntese. Foi dessa forma que se chegou ao elemento vertical do cipó - e, em paralelo, abordou-se a questão do pote, representação do uso prático e cotidiano da cerâmica, transfigurado como cactus. Assim, surge uma relação entre o céu e a terra, com a fragilidade dos elementos pendentes dialogando com a rudeza das peças rente ao chão.
Há também uma discussão sobre linguagens artísticas, a partir da valorização da argila, considerada uma matéria "menor" no universo artístico. Na visão de Venzon, esse preconceito está ligado ao fato de ser uma linguagem primitiva, teoricamente sem a sofisticação das formas mais reconhecidas na atualidade. "As crianças gostam tanto de brincar na areia, molhá-la e usá-la para montar um castelo. Ninguém precisa ensiná-las a fazer isso. É uma matéria que extrai de nós algo muito profundo, muito ancestral."
Em uma proposta sensorial, No limiar do jardim faz uso de sons da natureza, além de aromas relacionados ao campo e uma iluminação que gera sensação de acolhimento. É possível andar em meio às peças e tocá-las, em uma interação que aproxima o visitante do caráter frágil das pequenas cerâmicas. Uma construção que ganhou conotações não imaginadas de início - em especial, a partir das discussões sobre meio ambiente disparadas pelo aumento das queimadas na Amazônia.
"Esse trabalho remete à natureza, e pode fazê-lo de forma árida, pela argila branca, que parece estéril pela cor. Mas aí entra a luz, o aroma e os ruídos, que se referem a esse lugar que a gente já vivenciou, a natureza, preenchendo esse vazio aparente", diz o curador.
Tratar dessa busca humana de um espaço idealizado de paz e contemplação é, como lembra a artista por trás da exposição, também falar sobre a incompletude inerente à experiência humana. "Eu dizia para mim mesma: 'o dia que tiver 35 mil peças, vou fazer o paraíso'. Já utilizo quase 300 mil e ainda estou longe do paraíso", brinca. "Nunca estamos totalmente felizes ou infelizes, nunca somos ou seremos plenamente bem ou malsucedidos. Explorando esses dois limites (da instalação), do cipó e do cactus, também quis trazer um pouco essa conotação."
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