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Cultura

- Publicada em 14 de Julho de 2019 às 22:47

Cidade abandonada por Henry Ford no interior do Pará inspira nova série

Werner Herzog retorna ao Brasil para dirigir 'Fordlândia'

Werner Herzog retorna ao Brasil para dirigir 'Fordlândia'


MOSTRA ECOFALANTE/DIVULGAÇÃO/JC
Nos anos 1920, o magnata Henry Ford desembarcou no Brasil com o ambicioso plano de construir uma comunidade-modelo na Floresta Amazônica, extensão de seu império automobilístico nos Estados Unidos. Parte desse símbolo do empreendedorismo norte-americano, que resultou em uma cidade-fantasma no interior do Pará, será recuperado pela série Fordlândia, desenvolvida pela produtora Hyde Park Entertainment a partir do livro homônimo do historiador Greg Grandin.
Nos anos 1920, o magnata Henry Ford desembarcou no Brasil com o ambicioso plano de construir uma comunidade-modelo na Floresta Amazônica, extensão de seu império automobilístico nos Estados Unidos. Parte desse símbolo do empreendedorismo norte-americano, que resultou em uma cidade-fantasma no interior do Pará, será recuperado pela série Fordlândia, desenvolvida pela produtora Hyde Park Entertainment a partir do livro homônimo do historiador Greg Grandin.
O projeto traz de volta ao País o diretor alemão Werner Herzog, de 76 anos, que já rodou na selva amazônica dois de seus filmes mais monumentais, Aguirre, a cólera dos deuses (1972) e Fitzcarraldo (1982), este sobre um outro empresário, que desejou erguer uma casa de ópera no meio da mata. Herzog assume a dupla função de diretor e produtor executivo da série, junto com o roteirista Christopher Wilkinson, autor do texto de títulos como Ali (2001) e Nixon (1995), com o qual concorreu ao Oscar. Na entrevista a seguir, concedida à Agência Globo, Herzog fala sobre a utopia de Ford e o processo de criação de uma obra para a TV na era do streaming.
A região amazônica lhe é familiar, cenário de seus filmes mais épicos. Isso foi determinante no convite para participar de Fordlândia?
Werner Herzog - Eles tinham certeza de que eu seria a pessoa mais indicada para o projeto, porque, depois de vários trabalhos lá, entendo a mentalidade do lugar e, portanto, saberia como lidar com a complexidade da região. Todo mundo em Hollywood tem medo de florestas. Temem encontrar tarântulas, ataques de jaguares... (risos). Veem a região como uma série de restrições. É uma atitude meio covarde deles.
O que o atrai na ambição de Henry Ford?
Herzog - Esse capítulo da história de Henry Ford é muito curioso, para dizer o mínimo. Ele adquiriu uma grande porção de terras no meio da Floresta Amazônica com a ideia de construir uma cidade e controlar, a partir dela, o suprimento de borracha extraída da floresta pelos habitantes locais, garantindo, assim, o fornecimento para suas fábricas de automóveis nos Estados Unidos. Mas a coisa toda provou ser um desastre, desde o início.
O que deu errado?
Herzog - O problema maior foi que ele tentou transplantar para dentro de uma comunidade na selva brasileira os valores puritanos típicos de uma pequena cidade norte-americana. Não podia dar certo. A criação de Fordlândia envolve também dramas pessoais, intrigas geradas tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Há um grande pano de fundo a ser explorado.
O senhor pretende filmar Fordlândia em todo o Brasil?
Herzog - Ainda não temos certeza absoluta. Mas posso afirmar que algumas locações no Brasil serão testadas, em regiões próximas a rios ou cidades pequenas da Região Norte.
Já há um cronograma de trabalho até a estreia?
Herzog - O projeto está evoluindo lentamente. Estou achando que antes de a série ficar pronta terei feito uns 18 filmes (risos).
Isso não deve ser problema para quem trabalha rápido, em projetos simultâneos. Em dois anos, o senhor já lançou dois documentários e a ficção Family romance, LLC, rodada no Japão...
Herzog - Não tenho muito problema com o acúmulo de projetos. Mas o caso de Fordlândia é particular, porque algo assim envolve muito dinheiro, negociações, até porque ainda não fechamos com nenhum canal ou empresa de streaming. Criar conteúdo para a TV é um processo lento e ritualizado, não se consegue fazer um filme ou uma série sem um acordo comum muito bem amarrado. Isso é impensável.
Fordlândia surgiu enquanto o senhor finalizava Meeting Gorbachev, sobre o último presidente da antiga União Soviética. Como aconteceu sua entrada no documentário?
Herzog - Atendi ao chamado de Andre Singer, meu parceiro de produção há mais de 20 anos, codiretor do documentário. Ele queria fazer um filme sobre Gorbachev e me convidou para fazer as entrevistas. Também escrevi a narração e os comentários do filme.
Isso aconteceu antes ou depois de Family romance, que o senhor filmou no Japão?
Herzog - Durante (risos). Minha última conversa com Gorbachev aconteceu no final de abril do ano passado, quando eu já tinha filmado alguns dias no Japão, para aproveitar a temporada da florada das cerejeiras. Tento ser econômico com minhas viagens. Na volta para Los Angeles, onde moro, de uma retrospectiva de meus filmes na China, fiz uma parada em Tóquio para filmar mais seis dias. No verão, em agosto, precisei filmar com aborígenes no interior da Austrália e, na volta, parei no Japão para filmar mais.
Family romance é inspirado em uma empresa real que aluga substitutos para parentes ou amigos mortos ou desaparecidos. Por que as pessoas compram ilusões?
Herzog - Faz parte da nossa vida. É por isso que assistimos a shows de mágica, ou vamos à igreja, onde te dizem que você será aceito no paraíso, e rezamos para um Deus que nunca responderá (risos). Ou, por exemplo, quando você vê sua representação no Facebook ou numa outra mídia social qualquer. É uma versão sua embelezada ou parcialmente adulterada, uma reinvenção de você mesmo. Por trás dessa realidade, há uma monumental solidão existencial.
O senhor consegue resistir ao apelo do mundo digital?
Herzog - Não tenho aparelhos. Não estou no Facebook nem no Twitter. Mas, se você buscar por mim na internet, encontrará endereços nessas redes com meu nome. Mas são todos falsos. São imitadores que dão conselhos sobre a sua tumultuada vida amorosa (risos).
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