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reportagem cultural

- Publicada em 04 de Julho de 2019 às 21:26

Vitor Ramil faz novo show e reflete sobre a Estética do Frio

Artista sintetiza a estética sulina do frio e reinventa a própria obra a cada novo trabalho

Artista sintetiza a estética sulina do frio e reinventa a própria obra a cada novo trabalho


MARCELO SOARES/DIVULGAÇÃO/JC
Em Pelotas, Vitor Ramil toca com paciência uma grande reforma que se arrasta há mais de um ano e deve deixar o velho casarão onde mora, construído em 1920, muito mais confortável, preservando nos ladrilhos, nas escaiolas das paredes e nas grandes janelas o estilo eclético que floresceu por lá no século XIX. Já em Satolep, a cidade espelhada e labiríntica na qual o artista se reconhece e que é o ponto de partida de sua criação, dedica-se ao novo projeto: transformar em canções a poesia de Angélica Freitas, conterrânea sua que mora a um quarteirão de distância. Sem pressa, dividindo-se entre os fazeres da construção e da arte, Ramil acresce mais uma nuance à trajetória que sintetiza os movimentos da música popular feita a partir do centro de um novo lugar: o mundo do Sul, do frio, do pampa e do Prata. O mundo de Ramil em Satolep.
Em Pelotas, Vitor Ramil toca com paciência uma grande reforma que se arrasta há mais de um ano e deve deixar o velho casarão onde mora, construído em 1920, muito mais confortável, preservando nos ladrilhos, nas escaiolas das paredes e nas grandes janelas o estilo eclético que floresceu por lá no século XIX. Já em Satolep, a cidade espelhada e labiríntica na qual o artista se reconhece e que é o ponto de partida de sua criação, dedica-se ao novo projeto: transformar em canções a poesia de Angélica Freitas, conterrânea sua que mora a um quarteirão de distância. Sem pressa, dividindo-se entre os fazeres da construção e da arte, Ramil acresce mais uma nuance à trajetória que sintetiza os movimentos da música popular feita a partir do centro de um novo lugar: o mundo do Sul, do frio, do pampa e do Prata. O mundo de Ramil em Satolep.
Como tudo o mais na carreira de Vitor, este é um novo projeto que não é tão novo assim. Nada acontece de uma hora para outra com ele. Na época do lançamento de seu segundo romance, Satolep, conheceu a obra de Angélica por indicação do então editor da Cosac Naify, extinta editora que publicava ambos. Gostou do que leu e começou a musicar alguns poemas. Encontrou Angélica um tempo depois, quando ela voltou da Holanda para ser sua vizinha. Com naturalidade e sem data marcada, foi musicando, musicando. Em 2017, ao gravar o álbum Campos neutrais, incluiu uma das canções em parceria com a poeta, Stradivarius.
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"Leio a poesia da Angélica e enxergo a música, como no Borges. O primeiro poema que musiquei dela foi Vida aérea, que deve ser a última música do show. Mas ainda estou aprendendo algumas canções, ensaiando. Gosto do risco, da improvisação, especialmente no palco. O público vai acompanhar esse processo", explicou Vitor durante entrevista em sua casa, na semana passada, em Pelotas.
Metódico, obsessivo e inimigo da repetição, Vitor persegue, desde a adolescência, quando compôs suas primeiras canções, uma forma que o defina e que diga algo de concreto sobre ele, seu lugar, sua identidade. Em 1997, depois de mais de uma década morando em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, volta a Pelotas e estabelece, em um disco, os termos musicais daquilo que já estava no ensaio A estética do frio, de 1992.
Encontra na milonga a linguagem adequada para expressar o olhar que lança sobre a arte a partir de um ângulo sulino, entre Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, no frio do pampa, longe dos estereótipos de samba, Carnaval e calor que definem os clichês da brasilidade. A canção Ramilonga, composta mais de uma década antes, finalmente encontra lugar, dando nome ao disco que traduz essa síntese.
Outro artista seguiria apostando na forma vencedora de Ramilonga. Mas não Vitor. Ele ainda vê sentido em compor milongas - recentemente, no Uruguai, foi comparado a Alfredo Zitarrosa, um dos ícones do gênero. Mas não quer ficar preso a elas.
"Não quero rótulos, não quero ser 'o milongueiro'. Tomei a milonga como um movimento de largada, por que faz um link com países do Sul. Sempre estive em busca de um conceito, que encontrei na milonga. Mas não quero fazer só isso."
Os shows previstos para sexta-feira e fim de semana (confira o serviço no final deste texto), no Theatro São Pedro, são uma prova disso. Nas poesias de Angélica, Vitor encontrou o eco de outras musicalidades, o que o fez mergulhar em gêneros ainda não explorados na longa carreira.
"Estou experimentando coisas novas. Por exemplo, sempre evitei compor blues, mas no show tem um. Tem uma outra canção com uma levada meio Roberto Carlos. Para o poema Mulher de Malandro, fiz um samba na hora."
Os shows são uma espécie de laboratório para um trabalho futuro que pode ou não acontecer. Ele não sabe ainda se vai gravar essas canções em disco, aliás, nem sabe se vai seguir gravando discos. Por enquanto, o que importa é apresentar este esboço, feito em parceria com a filha, Isabel Ramil, artista plástica responsável pela cenografia do espetáculo.
Sem pressa. Sem rótulos. Mas sempre a partir do seu lugar, do centro de um mundo que Vitor materializa, pacientemente, em torno da sua arte.
Vitor Ramil em Avenida Angélica

Musicalidade genialidade do sul

Nascido em Pelotas em 1962, Vitor Ramil cresceu em uma família musical

Nascido em Pelotas em 1962, Vitor Ramil cresceu em uma família musical


MARCELO SOARES/DIVULGAÇÃO/JC
Em algumas entrevistas, Vitor Ramil costuma dizer que apostou tudo na sua própria maturidade. Segundo ele, somente com o tempo teria a consistência que desejava imprimir em sua obra. Quem afirma isso, porém, é um Vitor maduro e consciente de sua estética, capaz de olhar para si depois de mais de 30 anos de carreira. Ao observar a trajetória do artista, vê-se que ele sempre esteve em busca dos conceitos, da síntese formal de uma musicalidade que somente intuía na juventude.
Sexto filho da dona de casa Dalva e do engenheiro-agrônomo uruguaio Kleber, Vitor é o mais novo de uma família musical, nascido em 1962, no mesmo dia e mês que dão nome ao primeiro teatro do Rio Grande do Sul, o Sete de Abril, localizado no centro de Pelotas (erguido em 1834). O adjetivo musical, nesse caso, é bastante anterior à óbvia referência aos irmãos mais velhos, Kleiton e Kledir, que, depois de fundarem o icônico grupo Almôndegas, fizeram carreira nacional, que segue ainda hoje.
A relação dos Ramil com a música vem dos pais, que serviam os rebentos de variada influência musical, desde os discos que percorriam de Beatles a MPB, passando pelas aulas de música e, principalmente, as muitas vezes em que as crianças viram Dalva e Kleber dançando tango na sala de casa, ou quando testemunhavam o choro emocionado do patriarca ao ouvir e cantar suas amadas canções portenhas e uruguaias. Essas cenas ficaram marcadas de forma profunda no caçula. "Aprendi, vendo o meu pai chorar, que a música é emoção, é sentimento. Sempre achei que uma canção tem que tocar as pessoas. Por isso, não perco tempo com o que não me toca", comenta Vitor.
Aos 11 anos, iniciou os estudos em violão clássico por incentivo da mãe. Ao chegar nas aulas, já sabia muito do que o professor ensinaria, fruto das horas em que ficava na volta dos irmãos, rodeado de instrumentos. Com a mesma idade, ganhou um concurso de contos promovido pela fábrica de chocolates Neugebauer, cujo prêmio foi uma viagem a Salvador. Ao lado da mãe Dalva, desembarcou no aeroporto da capital baiana e, coincidentemente, encontrou quem mais desejava conhecer, por acaso: Caetano Veloso e Gal Costa passavam pelo local no mesmo momento.
Vitor Ramil começou a compor aos 12 anos, ao natural, como ele gosta de dizer. Antes disso, aos 10, já tinha subido ao palco ao lado dos irmãos. Adolescente, formou um grupo musical na Escola Técnica de Pelotas. Em 1977, acabou em terceiro lugar em um festival estudantil com uma canção composta com Kledir. Em 1979, por sua vez, montou o show solo Vitor Ramil e Corpo de Baile, ao lado do igualmente jovem Arthur Nestrovski, que, desde 2010, é diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), e dos irmãos e das irmãs. As apresentações geraram repercussão positiva em Pelotas.
No ano seguinte, já morando em Porto Alegre, conheceu o produtor carioca Arthur Laranjeira em um sarau na casa de Nestrovksi. Mostrou a ele a canção Minas de prata, composta quando tinha 14 anos, que acabou sendo gravada por Zizi Possi em seu terceiro LP. A fita com essa e outras canções foi parar na mão de outro produtor, João Augusto, que gostou do que ouviu e chamou Vitor para um teste na Polygram.
Foi o primeiro movimento de uma carreira que parecia destinada a um grande sucesso comercial pelo Brasil, com as portas das poderosas gravadoras abertas, mas acabou se transformando depois que as mesmas gravadoras desistiram do sujeito turrão, que, apesar da pouca idade, não fazia concessões e não abria mão dos conceitos que já tentava elaborar.

Ócio na Praia do Laranjal e fama de reclamão

Com 17 para 18 anos, enquanto curtia o ócio e o calor do verão na Praia do Laranjal, Vitor Ramil pegou o violão e fez nascer, de uma vez só, a canção Estrela, estrela, título do seu primeiro disco, que seria gravado, de fato, pela Polygram. Mais ou menos na mesma época, compôs a milonga Semeadura ao lado de José Fogaça, inspirado pela voz de Mercedes Sosa, segundo ele. O garoto urbano, tímido e esquisitão apresentou a música na 10ª edição da Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana, recebendo vaias, mas vencendo na linha Projeção Folclórica. As duas canções foram gravadas por muitos artistas e regravadas por Vitor e são, ainda hoje, das mais conhecidas e amadas de seu repertório.
Depois do disco Estrela, estrela, ainda morando em Porto Alegre, Vitor entra em uma fase pesada de estudos, meditação, leituras e macrobiótica. O casamento com Ana Ruth em 1983 interrompe a fase monástica, possibilitando a concretização do segundo disco, A paixão de V segundo ele próprio. Um álbum experimental, com microcanções ao lado de longos devaneios, entre eles a autobiográfica e filosófica Satolep. Foi a primeira tentativa de encontrar a síntese formal para uma voz que o próprio artista tentava compreender.
A fama de reclamão e avesso aos shows adquirida nos anos 1980, quando deu alguns chiliques antes de shows em Porto Alegre, ele abandonou há algum tempo. Pelo menos desde que subiu ao palco como o Barão de Satolep, personagem inventado por ele para se apresentar com o Tangos e Tragédias, no fim da mesma década de 1980.
"Eu era perfeccionista e não conseguia lidar com os problemas que ocorriam no palco. Aí, surtava. Até que meus irmãos me chamaram a atenção, me disseram que, se eu queria aquilo mesmo, tinha que aprender a lidar com os imprevistos e relaxar. Depois, inventei o Barão, que era um personagem, uma coisa descontraída. Desde então, me conectei com o palco, é onde me sinto bem", comenta Vitor.
Em 1986, se mudou para o Rio de Janeiro com a mulher e o primeiro filho, Ian, ainda bebê. Lá, seguiu suas buscas estéticas, tentando, com pouco sucesso, conciliar suas formulações com os interesses comerciais das gravadoras. Estava nascendo o disco Tango, cujo problema já começou com o nome: "ninguém iria comprar um disco de tangos", segundo os executivos. Tudo se agravou quando o pessoal do marketing e comercial ouviu o resultado. Detestaram, como relembra Vitor. "Ouviram Joquim e ficaram apavorados, o que iam fazer com aquela porcaria de quase nove minutos? Eles tinham razão, o disco não era comercial, mas também não estavam certos em tudo. Joquim foi a canção que mais tocou no rádio naquele ano", relembra.
 

um pouco de vitor ramil

Discografia
  • 1981 Estrela, estrela
  • 1984 A paixão de V segundo ele próprio
  • 1987 Tango
  • 1995 À Beça
  • 1997 Ramilonga - A estética do frio
  • 2000 Tambong
  • 2004 Longes
  • 2007 Satolep Sambatown (com Marcos Suzano)
  • 2010 Délibáb
  • 2013 Foi no mês que vem
  • 2017 Campos neutrais
Livros
  • 1995 Pequod
  • 2004 A estética do frio
  • 2008 Satolep
  • 2014 A primavera da pontuação
 

A estética do frio no calor do Rio de Janeiro

O músico em um registro familiar na década de 1960

O músico em um registro familiar na década de 1960


ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
A história já é velha conhecida de quem acompanha a carreira de Vitor Ramil. Estava ele no seu apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro, sem camisa e tomando chimarrão. Era junho. No Jornal Nacional, uma reportagem mostrava algum Carnaval fora de época no Nordeste, com pessoas se divertindo atrás dos trios elétricos. Em seguida, o apresentador mostra, em tom exótico, o frio que fazia no Rio Grande do Sul naquela mesma época. Ali, no Rio de Janeiro, Vitor se sentiu um estranho no universo de calor que definia o Brasil. Sua identificação era com o frio mostrado em tom de estranheza pelo jornal. Nasceram, assim, as primeiras formulações do ensaio A estética do frio, publicado pela primeira vez no livro Nós, os gaúchos, em 1992. Já que os estereótipos que representavam o Brasil, como o Carnaval, o calor e o samba não serviam para definir um sujeito urbano do Sul, o que definiria?
Com essas inquietações na cabeça, ainda no começo dos anos 1990, Vitor voltou a morar em Pelotas. Era o primeiro passo para a realização estética que tomaria forma em 1997, com o disco Ramilonga, no qual conseguiu transpor para a forma o deslocamento que sentia ao tentar pertencer à tradição da música brasileira estando localizado no Sul do País. Posicionou na milonga o centro de um outro mundo, cujo elemento de identificação não era o calor, mas o frio. Autor do livro Vitor Ramil: nascer leva tempo, o professor Luís Rubira observa em Ramilonga e na elaboração de A estética do frio os pontos em que a consciência de estar no centro de um outro lugar, e não na periferia do Brasil, tornou-se determinante na obra do músico. "Distanciar-se dos estereótipos, portanto, é abrir o espaço necessário para buscar aquelas singularidades. Consciente do que é artificial em sua cultura, divisando o frio como símbolo não redutor, Vitor desvela elementos que permitem constituir uma estética própria", diz Rubira, em trecho da obra.
Vivendo no casarão da família, na rua Dr. Amarante, e às voltas com as constantes reformas de que o local sempre precisou, Vitor passou a circular conscientemente no centro de um universo que é brasileiro, mas que também dialoga com o espanhol platino, com os ritmos sulinos, como o candombe e a milonga, sem ficar preso aos estereótipos do gauchismo, igualmente redutores.
Nesse processo, se aproximou de músicos como os argentinos Pedro Aznar e Carlos Moscardini; o uruguaio Jorge Drexler; o paraibano Chico César; e o maranhense Zeca Baleiro - com todos eles gravou canções ou fez shows. Sem contar as parcerias com artistas consagrados da MPB, como Milton Nascimento e Caetano Veloso. Com a mesma destreza, musicou poemas do argentino Jorge Luis Borges, do português Fernando Pessoa e do galego Xöel Lopes, além de ter revelado o obscuro e impressionante poeta alegretense João da Cunha Vargas, cujas letras estão presentes, na sua maioria, nos discos Ramilonga e Délibáb.

Alegoria, solidão e obsessão na literatura

É relativamente fácil encontrar o escritor Vitor Ramil vivendo dentro do cancionista. É com o mesmo perfeccionismo, a mesma obsessão e a mesma busca por uma linguagem particular que ele se expressa nos livros. E, para as páginas, teve ainda menos pressa do que para as canções. Quando ainda morava no Rio de Janeiro, começou a escrever a primeira novela, Pequod, lançada em 1995. Mais de 10 anos depois, em 2008, saiu o romance Satolep. Em 2014, seu último livro, A primavera da pontuação, foi publicado.
Para o escritor e professor de literatura Luís Augusto Fischer, a obra literária de Vitor tem um forte sentido alegórico, com aspiração de significar mais do que está dito, embora mantenha uma vocação realista. Ainda segundo Fischer, especialmente nos dois primeiros livros, fica evidente a presença de personagens solitários, o que é um traço profundamente sulino e que encontra eco na tradição literária do Rio Grande do Sul.
"Esses personagens não têm amor, não têm mulher. É uma espécie de ética masculina, heroica, do indivíduo confrontado com seu destino. Isso representa um pouco a ideia fatalista de gaúcho, do cara que aceita o destino com grandeza de alma", explica.
O rigor e a aguçada consciência formal são, para Fischer, os primeiros fatores que ligam o Vitor Ramil escritor ao cancionista. Nos dois casos, é um artista que se leva a sério e que não se contenta com as primeiras soluções. Na temática, o parentesco dos dois também é evidente.
"Tanto nos romances como nas canções, Vitor está disposto à aventura do autoconhecimento, à procura de uma verdade que não se conecta com o valor de mercado. Na busca pela posição do artista no mundo, ele não quer saber o que está na moda. Quer a verdade essencial", completa Fischer.
 

O maior cancionista

Para o professor, poeta e pesquisador Guto Leite, Vitor Ramil é o maior cancionista popular do Rio Grande do Sul em função da sua capacidade sintetizadora, que se origina na habilidade de assimilar a tradição do centro do País - o que o torna, segundo Leite, um grande "caetanista" e, por consequência, um "joãogilbertiano". Isso sem abandonar a tradição poética e musical platina e sul-rio-grandense. "Você ouve o Vitor e sente sua ligação com o Caetano, em termos de timbre e também de composição, e sua ligação com o João Gilberto, no modo obsessivo de fazer canção. Ao mesmo tempo, é o cara que recupera milonga, mobiliza poesia gauchesca, circula em outra paisagem. É o sintetizador dessas coisas", afirma.
Sobre a recepção de Ramil, o amigo, músico e pesquisador Arthur de Faria salienta que a obra rompeu as barreiras do Rio Grande do Sul em um nível cult, sem nunca ter sido um sucesso popular e de massas em lugar nenhum, mas com grande acolhimento por parte do público no Brasil e no exterior. Faria destaca que, além de ter pensado sua carreira nacionalmente desde o começo, Vitor atingiu um nível de excelência altíssimo, fruto de seu temperamento perfeccionista - além do talento, é claro.
"Uma das coisas que faz o Vitor ser muito interessante para quem é de fora do Rio Grande do Sul é, em primeiro lugar, o fato de ele ser muito gaúcho. Quando o cara diz muito de onde ele veio, não concorre com os genéricos. E quando faz isso com o nível alto de sofisticação, como é o caso dele, a chance de chegar a outros lugares como a síntese mais bem acabada do que se produz ali é muito grande", completa Faria.
 

*Patrícia Lima é jornalista, especialista em Estudos de Jornalismo pela UFSC e Mestre em Literatura pela Ufrgs. Em 2016, editou, sob a coordenação do professor Luís Augusto Fischer, as crônicas das séries Inquéritos em contraste e Temas gastos, de Simões Lopes Neto, para o livro Inquéritos em contraste, publicado pela Edigal.