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reportagem cultural

- Publicada em 13 de Junho de 2019 às 21:16

Hique Gomez prepara livro e fala de projetos pós-Tangos e Tragédias

Aos 60 anos, multiartista celebra carreira marcada pela música e pelo espetáculo Tangos&Tragédias

Aos 60 anos, multiartista celebra carreira marcada pela música e pelo espetáculo Tangos&Tragédias


CLAITON DORNELLES /JC
Hique Gomez tem muito o que fazer pela frente. Além de A Sbørnia KontrÁtaka, sequência natural do projeto Tangos & Tragédias, ele tem se dedicado a escrever um livro de memórias. A ideia surgiu há quase cinco anos, pouco depois da morte de Nico Nicolaiewsky, seu parceiro e amigo por três décadas. "Decidi começar a escrever. Foram 30 anos dentro do Tangos & Tragédias e outros 30 fora", explica Hique, contando que acredita ter muito o que contar e que pretende também fazer comentários contextualizando os temas que viu no Brasil nessas três décadas.
Hique Gomez tem muito o que fazer pela frente. Além de A Sbørnia KontrÁtaka, sequência natural do projeto Tangos & Tragédias, ele tem se dedicado a escrever um livro de memórias. A ideia surgiu há quase cinco anos, pouco depois da morte de Nico Nicolaiewsky, seu parceiro e amigo por três décadas. "Decidi começar a escrever. Foram 30 anos dentro do Tangos & Tragédias e outros 30 fora", explica Hique, contando que acredita ter muito o que contar e que pretende também fazer comentários contextualizando os temas que viu no Brasil nessas três décadas.
"Quando iniciamos o Tangos & Tragédias, eu tinha 24 anos. Agora vejo a loucura que é começar a escrever e acompanhar as mudanças políticas nesse tempo." E comenta: "Como observador político, espero que as pessoas notem as diferenças entre os lideres políticos, diferenciando quem faz parte dos processos de construção e de desconstrução da nação. E que possamos dominar mais as decisões deixando menos espaço para a manipulação midiática".
Hique vem escrevendo há muito tempo. Inicialmente, sem método, sem regularidade. Agora, com mais afinco. Pretende entregar os originais ao seu editor o quanto antes para que o livro esteja pronto já para a próxima Feira do Livro de Porto Alegre. Serão mais de 200 páginas de texto enriquecidas com fotos de diversas épocas da carreira do compositor (leia trecho inédito do livro no final da reportagem).
Recentemente, Hique participou de um concerto com Renato Borghetti e a Orquestra da Ulbra em Santa Maria. "O Borghettinho é o HiperPampa (grupo de músicos dirigidos por Hique em que o folclore local se mescla com as vertentes da música brasileira contemporânea) em pessoa. Eu tinha 22 anos quando convidei o Borghettinho para gravar comigo antes ainda de ele ter lançado o primeiro disco."
Há também o projeto de um documentário, dirigido por Aloisio Rocha, que inclui um show inteiro de 1997, com performances exclusivas. Além disso, existe a possibilidade de se desenvolver um roteiro para uma série de oito capítulos para ser negociado com alguma emissora de TV. Por fim, Hique Gomez também tem feito palestras - participou do TedX Unisinos com uma teoria sobre música e consciência (A escuta consciente), e tem se dedicado mais ao estudo de seu instrumento, o violino.
Se tanto olha para o futuro, Hique Gomez não se descuida do passado. Aos 60 anos recém-completos, ele virou um símbolo da música e do humor feito no Brasil encarnando Kraunus Sang, parceiro do Maestro Plestkaya. Sobre a origem da dupla, Hique lembra que há registros de que os dois nasceram num país chamado Sbórnia e foram obrigados a fugir da terra natal após a chegada do rock and roll. Optaram por buscar asilo no Rio Grande do Sul, porém sem nunca romper o cordão umbilical que os prendia ao seu país.
Para quem não sabe, vale explicar: a Sbórnia era um país ligado ao continente por um istmo e que acabou se separando após sucessivas explosões nucleares mal-sucedidas, sendo atualmente uma ilha à deriva, navegando livremente pelos mares do mundo. O país, cujo sistema político vigente era o anarquismo hiperbólico, vivia a reciclar o lixo cultural de outras nações, embora tenha criado algumas peças originais como o Copérnico e a Aquarela da Sbórnia.
E esta é uma história que nunca termina.

A Sbórnia faz história no palco

Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky em Tangos&Tragédias, espetáculo que conquistou plateias por 30 anos

Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky em Tangos&Tragédias, espetáculo que conquistou plateias por 30 anos


PAULA FIORI/DIVULGAÇÃO/JC
Já a história verdadeira - ou será fictícia? - do Tangos & Tragédias começa quando Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, dois nomes já respeitados no cenário musical gaúcho da década de 1980, resolvem criar um show que recuperasse antigos sucessos musicais e tivesse a dinâmica de um espetáculo teatral.
Tangos & Tragédias estreou no fim de setembro de 1984 no Bar do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil). Mesmo apresentado para um público restrito, a proposta bem humorada chamou atenção e garantiu à dupla uma série de apresentações por vários outros bares da Capital - época que Nico e Hique ainda brincavam com o título dizendo que estava previsto que, num futuro, próximo fosse montado o show Sambas e Sadismos. O upgrade viria logo depois, quando o espetáculo passou a ser apresentado em teatros e chegaria a um patamar mais alto quando Tangos & Tragédias se transformou no primeiro espetáculo a ter data cativa no Theatro São Pedro. A partir de 1987, nas temporadas do mês de janeiro, a dupla conseguia com seus delirantes personagens a incrível façanha de lotar todas as sessões em pleno verão gaúcho. "Quem não ia à praia, ia ao Tangos & Tragédias", lembra Hique.
A surpreendente e precoce morte de Nico, no começo de 2014, mudaria tudo. "Aprendi muita coisa com o Nico. Um artista original, com uma visão de arte bem definida. Juntos, conhecemos alguns dos principais artistas brasileiros de quem já éramos fãs, de Hermeto Pascoal a Rita Lee, além do maestro Hans Joachim Koellreuter e também Millôr Fernandes, Luis Fernando Verissimo e Moacyr Scliar, que eram nossos admiradores e escreveram sobre nosso trabalho."
A originalidade de Tangos & Tragédias residia na maneira inteligente como o espetáculo se equilibrava entre polos diferentes. Era um espetáculo musical reunindo um acordeonista e um violinista que sabia trabalhar bem com situações histriônicas e com elementos teatrais. Era, ainda, um show que conseguia dar um tratamento criativo e original a um repertório antigo, que a ouvidos menos atilados poderia soar como decadente. Mais: mesmo tendo um padrão definido, Tangos & Tragédias pôde ser adaptado para pequenas salas com poucas dezenas de espectadores e também para imensos espaços ao ar livre - a dupla chegou a tocar para mais de 15 mil pessoas.
Sem Nico, Hique foi buscar novos caminhos. Ao lado de Simone Rasslan, ele idealizou A Sbørnia Kontr'Atacka, que seria uma evolução natural do trabalho já desenvolvido no tempo do Tangos & Tragédias. "Em nenhum momento duvidei que poderíamos continuar sem o Maestro Pletskaya, mas até isso virar uma realidade é preciso convencer muita gente", avalia Hique.
Simone Rasslan é sul-matogrossense e desde 1988 vive em Porto Alegre. Pianista, cantora e compositora, ela foi uma das criadoras do espetáculo Rádio Esmeralda, que ficou em cartaz durante nove anos. O acaso trágico aproximou Simone de Hique. Assim como ele, ela também perdeu sua parceira, com quem havia criado a Rádio Esmeralda, a cantora Adriana Marques. E as duas haviam inclusive feito uma participação em Tangos & Tragédias.

Com Simone Rasslan, nova parceria sborniana

Simone Rasslan com Hique em Sbornia KontrAtracka!

Simone Rasslan com Hique em Sbornia KontrAtracka!


NILTON SANTOLIN/DIVULGAÇÃO/JC
Assim, A Sbørnia Køntr'Atacka é uma continuação e, ao mesmo tempo, algo totalmente diferente. O público de cara percebe que está no mesmo ambiente. É uma legítima sequência da saga sborniana, incluindo citações e imagens do Maestro Pletskaya. Algumas peças do Tangos & Tragédias permanecem, como A trágica paixão de Marcelo por Roberta, com novos efeitos e até trovões. E tem também Ana Cristina, com a participação do seu autor, Claudio Levitan, o professor Kanflutz, presente desde o início do projeto. "Hique Gomez se aprofunda em tudo o que faz, se exige e exige do grupo. É um cara gentil, empático, afetuoso, um ser humano em maiúsculas, genial em todos os seus detalhes. Um pensador lunático, daqueles que estão acima e à frente. Multifacetado, nada ingênuo, revolucionário na busca da nova era, um poeta movedor de montanhas", classifica o amigo Levitan.
Outro fator decisivo no espetáculo atual é que Kraunus continua sendo Kraunus, agora contracenando com Nabiha. "Simone é uma grande artista e já era escolada nesse tipo de performance de música e humor", explica Hique. E acrescenta: "Na época da Rádio Esmeralda derramei lágrimas de emoção vendo e ouvindo a harmonia entre as duas artistas. E agora experimento esta química diretamente com ela no palco. O público reconhece nela uma autêntica personagem sborniana. Ela é uma pessoa com o senso da construção diária que o nosso projeto exige e que preenche o projeto com as melhores qualidades".
Simone devolve os elogios: "Hique Gomez é um dos poucos artistas completos. Compõe bem, canta bem, toca bem muitos instrumentos, é arranjador, ator, dramaturgo, diretor. Além disso, faz tudo parecer fácil! Suspeito que ele só consegue tal façanha porque faz cada uma dessas coisas como uma tarefa sagrada. Dedica-se integralmente: corpo, mente, alma!".

Da infância no Interior à paixão pela música

Tangos e Tragédias com Rita Lee, uma das grandes parcerias

Tangos e Tragédias com Rita Lee, uma das grandes parcerias


arquivo pessoal
Hique Gomez é filho de Leo, ex-jogador do Renner, time campeão gaúcho de futebol de 1954. Nascido em Porto Alegre em março de 1959, ele iniciou na música aos 11 anos, quando teve as primeiras aulas de violão. Após viver com a família em Giruá, Soledade e Passo Fundo, decidiu seguir a carreira de músico influenciado por Rita Lee. Tocou bateria na banda Filtrasom, da cidade de Soledade, e se apresentou por toda região.
Logo depois, Hique entrou na Faculdade de Filosofia, mas saiu já no segundo ano para servir o Exército. Na sequência, casou-se com Heloiza e teve a primeira e única filha, Clara. "Aí encontrei trabalho na noite. O primeiro foi na Cantina Itália, meu único trabalho com carteira assinada até hoje, com a Norminha, uma excelente violonista. Fizemos uma dupla por quase dois anos ali tocando todos os dias. Éramos pitorescos na cantina, circulando, tocando nas mesas e ganhando gorjetas. Tocávamos chorinho, cançonetas italianas e tarantelas."
Hique lembra que foi a vida noturna que lhe deu desenvolvimento e traquejo musical "Trata-se de uma escola. A gente aprende muito com outros músicos." Em 1981, formou dupla com Sá Brito. "Ele era experiente e havia chegado da França, onde morara alguns anos. Foi a primeira vez que ganhei algum dinheiro com minhas composições", recorda. Hique também conta que foi por essa época que começou a pensar em uma carreira musical mais intensa. Desse período, a principal influência foi a música de Frank Zappa, em especial o álbum Studio Tan. "Escuto este disco até hoje."
Além da parceria com Nico Nicolaiewsky, iniciada em 1984, Hique sempre manteve projetos musicais paralelos. Foi aluno de violino do maestro Fredi Gerling a partir dos 20 anos de idade e, em 1985, atuou na peça infantil As aventuras de Mime Apestovich do início ao meio, em que também compôs a trilha sonora. Em 1994, criou o espetáculo O Teatro do Disco Solar, e, logo depois, realizou concertos com a Banda Municipal de Porto Alegre e com diversas outras orquestras, como solista, com a participação inclusive de seu personagem Laszlo, o Homem-Banda.
Ampliando sua área de interesse, Hique, em 2002, participou de A festa de Margarette, longa-metragem mudo e em preto e branco, no qual ele foi protagonista, além do responsável pela trilha sonora. Sobre esta fase, Hique avalia: "Até então minha maior experiência no cinema sempre era na poltrona. Porém, a atmosfera que foi se criando no set de filmagem estabeleceu uma cumplicidade entre todos, que transparece no resultado do trabalho. A escolha do cast foi adequada, e eu como protagonista encontrei parceria e cumplicidade em todas as sequências, especialmente com a Ilana Kaplan, uma parceira extraordinária".
Voltando à música, Hique acredita que a arte oferece padrões de criatividade a serem aplicados na vida prática. "Se tu reconheces o estilo de Prokofiev por exemplo, tu sabes que tipo de ousadia ele foi capaz. Se você escutou suficientemente a Sagração da Primavera, tu sabes do que Stravinsky foi capaz."
E hoje, o que o inspira musicalmente? "O Vitor Ramil é um amigo inspirador. Tom Jobim, Milton Nascimento, Prokofiev, Astor Piazzolla, Ravel, Tom Waits, Rita Lee, Frank Zappa, Pixinguinha, Nico Nicolaiewsky. Todos pela ousadia e claro pela originalidade, cada um em sua área."

Fora do palco, marido, pai e avô dedicado

Casado desde 1978 com a fotógrafa e designer de luz Heloiza Averbuck, pai da escritora Clara Averbuck e avô de Catarina, 16 anos, Hique define Heloiza como sendo sua quarta esposa. "Mas também é a terceira, a segunda e a primeira. Estamos juntos há mais de 40 anos. Ela é uma pessoa absolutamente sincronizada com tudo que faço, compartilhamos todos os estudos. Sempre complementamos as buscas um do outro", elogia.
Fora do palco, Hique está sempre ligado. Além de estar 100% conectado com Marilourdes Franarim, sua produtora há 30 anos. Ele sempre quer saber os detalhes de onde será o próximo show, como estão sendo articulados as temporadas, a divulgação, os patrocínios... "Os mistérios da vida colocaram no meu caminho essa pessoa tão criativa, mas tão criativa que não me deixa ficar quieta. E isso não é uma queixa: é um privilégio. Conviver com o Hique Gomez é ser desafiada e surpreendida. E eu me deixo ser surpreendida", conta Marilourdes. E completa: "O Hique é generoso, amoroso, bem humorado e faz disso a sua forma de trabalho. Ele costuma dizer que, como diretor, vê sempre as melhores qualidades de cada um. E assim vem explorando o melhor de mim por 33 anos e eu saboreando toda essa magia".
 

Trecho do livro inédito

"Erechim. Não lembro o ano, mas lembro que estava 4 graus. Normal para o inverno da região. Estávamos no teatro da cidade com Tangos & Tragédias. Até que, depois da entrada do público no teatro, Marilourdes veio ao camarim e disse: 'o Hermeto Pascoal está aí'. Rimos! Pensei que fosse piada. Seria mais provável uma nave alienígena pousar em Erechim do que o Hermeto aparecer. Mas ela disse que era verdade Eu pensei que deveria ser alguém parecido. Velho, albino, de barba comprida. Fui por trás da cortina e coloquei um olho pra ver a plateia, e lá estava ele! Erechim, com 4 graus centígrados e Hermeto Pascoal esperando para ver Tangos e Tragédias. Entramos e fizemos o show 'normal', eu totalmente desconcentrado, pensando no que ele iria achar do nosso trabalho. Entendam que quando se fala de Hermeto, a gente está acostumado com aquela figura curiosa que se vê pela televisão. Mas para mim é o cara de quem Miles Davis roubou uma música. É o cara que ultrapassou todos os limites em termos de criatividade musical e que havia elevado a música brasileira ao máximo da sofisticação e que criou um estilo internacionalmente reconhecido. Um dos seres humanos mais inspirados que eu havia escutado. Eu tinha os discos. Tirava as músicas dele, sabia das histórias através da mitologia que ele havia criado no meio musical.
Acima de tudo, ele também era engraçado, uma espécie de clown-músico. Completamente maluco, mas gênio musical. Uma espécie de Duende-Gênio-da-Música do Nordeste brasileiro. Um cara admirado em todo o planeta. O tipo de pessoa capaz de colocar o seu país inteiro numa categoria superior de possibilidades criativas, porque o que ele faz é música brasileira! Hermeto é o arco-íris da música universal. Não tem o mesmo status de um Villa-Lobos, porque com sua grande habilidades com os instrumentos, se voltou para o jazz e para música de improviso. Mas em vários aspectos superou Villa, o maior representante da música de concertos do Brasil. Conhecido por suas excentricidades, como tocar chaleira soprando no bico ou por ter pedido dois porcos, um grave e um agudo ao americano que produziu um de seus álbuns mais criativos, uma de suas obras-primas, o Slave Mass, quem conhece sua obra, sabe que suas invenções musicais são mais relativas a inventividade de um Frank Zappa que era outro clown-músico. A esposa de Hermeto na época, Aline, que fazia parte de sua banda, era de Erechim e eles tinham vindo visitar a família dela. Quase no final do show Nico falou: 'Hermeto vamos fazer um som!'. Ele hesitou meio segundo, levantou e veio para o palco! Sentou-se no piano e estávamos tocando O Trenzinho do Caipira. Começou a fazer uns clusters e foi aumentando a velocidade da música e passou para um ritmo russo. Ele sugeria um czardas e fomos na onda dele. No final nos abraçamos e ele disse que eu tocava bem, foi generoso. Depois veio a TV de Erechim e fez uma matéria com ele onde ele disse que havia gostado muito do show, que tinha achado muito criativo e acima de tudo 'brasileiro'! Achei o máximo isso, quando muita gente nos achava meio argentinos. Ele sacou a brincadeira que fazíamos com o estilo tangueiro, que no Brasil é um pouco demodê. Hoje eu fico pensando que se isso aconteceu de fato diante de uma plateia de umas 500 pessoas, então, certamente não vai causar lá grandes surpresas o fato de Erechim esconder uma base alienígena!"
 

**Márcio Pinheiro é portoalegrense e jornalista. Trabalhou em diversos veículos de Porto Alegre, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Lançou ano passado o livro Ayrton Patineti dos Anjos - Lembranças, sons e delírios de um produtor musical (Plus Editora), escrito em parceria com Roger Lerina.