Uma trajetória de 15 anos que chega ao seu derradeiro capítulo. O Sarcáustico estará encerrando suas atividades com as apresentações de A última peça nas sextas-feiras, às 20h, e aos sábados, às 18h, até 22 de junho, no Instituto Ling. Os ingressos são vendidos por R$ 40,00.
Mesmo que seja um fim de um ciclo, o encerramento é uma ocasião ainda a ser comemorada, em razão do aniversário de 15 anos. O espetáculo em si é uma celebração, que lembra a trajetória de sucesso do Sarcáustico. "É uma história de um grupo marcante no teatro do Rio Grande do Sul, além de falar sobre como as companhias de teatro terminam", afirma a diretora da peça, Gabriela Poester.
O ambiente festivo é justificado pelos motivos que levaram ao fim do grupo. Segundo o ator e diretor Daniel Colin, em nenhum momento houve brigas ou problemas entre os integrantes. "A questão política está deteriorando a cultura e o teatro", afirma. Os membros também estão mais ocupados com projetos individuais, que até poderiam ser levados para dentro do grupo, mas questões financeiras inviabilizam essa dinâmica. "Nós já ganhamos prêmios e notoriedade. Havia festivais, editais, e conseguíamos contratar pessoas. Agora, temos menos espaços culturais e falta de investimento, o que acaba por podar artistas", reforça Colin.
A nova - e última - montagem foi selecionada pelo projeto Ponto de Teatro, do Instituto Ling, com apresentações no local. "É um paradoxo por conseguirmos participar de um edital, de uma organização privada", destaca o ator. Pelo fato de A última peça somente ser apresentada no Ling, ela teve de ser pensada para o local e suas particularidades. "Assim, o projeto Ponto de Teatro propiciou que encerrássemos as atividades, pois não sabíamos por quanto tempo ainda ficaríamos juntos", esclarece Colin.
Na construção do espetáculo, havia a ideia de convidar alguém de fora da companhia para a direção - e veio Gabriela Poester. Os ensaios duraram dois meses. "Criação é sempre um processo difícil. Eu os conhecia à distância, mas o contato direto possibilitou que eu aprendesse e descobrisse mais sobre o Sarcáustico e as pessoas que o formam. Tudo isso entrou na dramaturgia", destaca a diretora.
E uma destas considerações no processo de pensar A última peça foi a inclusão do público como um ator ativo, sendo o WhatsApp o meio para tal interação. Gabriela já havia utilizado o recurso em outro trabalho, servindo como uma nova forma de linguagem ao passo em que transforma a plateia em participantes do processo de criação, o qual a diretora considera que torna toda apresentação uma experiência única e particular.
Além de retratar o contexto vivido pelo grupo e revisitar memórias, o texto conta com uma crítica à sociedade espetacularizada, definida como aquela que sustenta a cultura do ridículo, o jogo de aparências e banaliza a teatralidade. Tal conceito foi trazido por Gabriela para o centro do espetáculo. "Essa abordagem é algo inerente com a minha carreira de artista. Vejo como sendo a teatralidade do cotidiano, em que as pessoas tentam materializar aspectos ficcionais em suas vidas, uma válvula de escape do ordinário. E o WhatsApp acaba sendo um desses canais, que têm uma relevância social enorme, até no cenário político."
Já Daniel Colin deseja que a lembrança do Teatro Sarcáustico recaia sobre as pessoas que fizeram a história desses 15 anos do grupo. "Somos três no corpo administrativo, mas foram mais de 50 indivíduos, além de alunos em projetos. A última peça é uma abordagem macro do fim de um grupo. São 15 anos em que comemoramos uma insistência, uma resistência", completa.