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Cultura

- Publicada em 13 de Maio de 2019 às 03:00

Escritor Luiz Ruffato lança mais recente romance, 'O verão tardio'

Na obra, Ruffato opta por reciclar o fluxo de consciência

Na obra, Ruffato opta por reciclar o fluxo de consciência


COMPANHIA DAS LETRAS/DIVULGAÇÃO/JC
Em O verão tardio, seu novo romance, o escritor Luiz Ruffato opta por reciclar o fluxo de consciência. O narrador é Oseias, um homem de meia-idade que volta para Cataguases, a cidadezinha mineira onde nasceu, depois de 20 anos trabalhando como representante comercial em São Paulo. Ele descreve os cinco dias que passou a vagar por Cataguases, misturando as percepções do presente com as dolorosas lembranças do passado.
Em O verão tardio, seu novo romance, o escritor Luiz Ruffato opta por reciclar o fluxo de consciência. O narrador é Oseias, um homem de meia-idade que volta para Cataguases, a cidadezinha mineira onde nasceu, depois de 20 anos trabalhando como representante comercial em São Paulo. Ele descreve os cinco dias que passou a vagar por Cataguases, misturando as percepções do presente com as dolorosas lembranças do passado.
Oséias narra sempre no presente e, ao contrário do que sugere o clichê, seu fluxo de consciência não é esparramado e sentimental. Ele parece um operário diante de uma linha de montagem, descrevendo só o que é repetitivo e literal: "urino", "apago a luz", "chaveio a porta'.
Operários, aliás, povoam os romances de Ruffato. Em Inferno provisório, ele recriou as angústias e andanças do proletariado brasileiro, dos anos 1950 à eleição de Lula. O verão tardio junta as inovações formais com a discussão, frequente nos livros do escritor mineiro, sobre as classes sociais brasileiras.
"Inferno provisório termina no dia 31 de dezembro de 2002, na corrida de São Silvestre, porque eu pensava que estávamos todos correndo na mesma direção. Mas será que estávamos mesmo", diz Ruffato. "Em O verão tardio, eu quis retomar essas reflexões a partir do que estamos vivendo hoje."
Diferentemente dos personagens dos outros romances de Ruffato, que vinham de Cataguases (terra natal do escritor) para ganhar a vida em São Paulo, Oseias volta para o interior depois do desmoronamento de sua vida de classe média na metrópole. Ao retornar, encontra uma Cataguases violenta, suja e intolerante.
"O pessoal de Cataguases diz que eu só mostro o lado ruim da cidade. Não sou persona grata por lá. Volto com frequência, mas não deixo de ser "aquele rapaz que escreve livros", filho da lavadeira e do pipoqueiro", relata Ruffato.
"Apesar disso, sempre achei uma felicidade ter nascido em Cataguases, porque a cidade é um microcosmo do Brasil. Quando a nossa economia era o café, tinha café em Cataguases. Quando veio a indústria, houve indústria em Cataguases. Agora que a indústria enfrenta problemas, esses problemas também aparecem lá", conta.
A tensão entres as classes sociais e como elas se relacionam no Brasil atual aparece o tempo todo em O verão tardio. Oséias se espanta ao descobrir quais de seus antigos colegas de escola conseguiram ascender socialmente e por quais meios. Percebe também que alguns nunca conseguiram se livrar do peso de sua origem social pobre, por mais dinheiro que tivessem conseguido acumular. Um deles é sua irmã, Rosana, que sempre se envergonhou da pobreza familiar - o pai era operário; a mãe, costureira.
Além de Rosana, que posa de madame com o dinheiro talvez ilícito do marido, Oseias tem outros dois irmãos vivos (e uma outra irmã, Lígia, que se suicidou). Isinha é pobre, evangélica e casada com um alcoólatra. João Lúcio se casou com uma moça rica, filha da aristocracia mineira, e acumulou um patrimônio invejável. Os irmãos não conversam.
Apesar de escrever romances políticos, nos quais dá voz aos pobres que pouco aparecem na ficção brasileira contemporânea, Ruffato não crê que a literatura possa ajudar a reconstruir o diálogo social rompido.
"O bacana é que o discurso literário engloba todos os outros discursos, como o sociológico e o filosófico, mas continua sendo discurso literário. A literatura aponta problemas e propõe reflexões, mas não é seu papel oferecer uma solução. Isso é tarefa de outras instâncias", relata. "É por isso que, independente de qual seja o governo, sempre vou ser oposição", completa.
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