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reportagem cultural

- Publicada em 09 de Maio de 2019 às 21:56

Reportagem traz a trajetória do produtor Carlos Eduardo Miranda

Falecido há um ano, Carlos Eduardo Miranda marcou época como produtor musical no País

Falecido há um ano, Carlos Eduardo Miranda marcou época como produtor musical no País


Canal Brasil/Divulga��o/JC
Oficializado em 1992, o município de Maquiné é um verdejante recanto encravado no sopé da Serra do Mar, Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Em tupi-guarani, Maquiné quer dizer "Grande ave que voa". O nome alude ao pássaro que um dia habitou a região: a magnífica harpia, também conhecida por gavião-real. É lá, naquele cenário bucólico, que está situado o estúdio-residência do músico Flávio Santos, o "Flu" (integrante de lendárias bandas como o DeFalla e a Expresso Oriente).
Oficializado em 1992, o município de Maquiné é um verdejante recanto encravado no sopé da Serra do Mar, Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Em tupi-guarani, Maquiné quer dizer "Grande ave que voa". O nome alude ao pássaro que um dia habitou a região: a magnífica harpia, também conhecida por gavião-real. É lá, naquele cenário bucólico, que está situado o estúdio-residência do músico Flávio Santos, o "Flu" (integrante de lendárias bandas como o DeFalla e a Expresso Oriente).
Devido ao exuberante ruralismo que envolve o ambiente, por todos flancos, este lugar, teoricamente, deveria ser o menos provável para ressuscitar-se um dos projetos mais urbanos, radicais e iconoclastas um dia gerados pela música underground porto-alegrense: a banda Atahualpa Y Us Panqui, uma das primeiras criações de Carlos Eduardo Miranda, também carinhosamente conhecido como "Gordo Miranda". Nos últimos tempos, o grupo voltara a reunir-se com intenção de gravar músicas (compostas entre 1986 e 1987) que jaziam engavetadas ou, em outros casos, cujos registros haviam ficado muito toscos quando gravados à época.
Infelizmente, porém, dessa vez, Miranda não conseguiu alçar seu último voo e, assim, dar seu precioso "toque de Midas" no projeto que vinha confabulando com seus velhos parceiros de guerra (Castor Daudt, Jimi Joe e Paulo Mello). De forma súbita, Miranda morreu na noite do dia 22 de março de 2018, aos 56 anos, em sua residência em São Paulo. Deixou a esposa e cantora Isabel Hammes e a filha Agnes, de dois anos.
Entrevistas realizadas com Miranda - produzido por Drégus de Oliveira:
Na quietude do Estúdio do Mato 17, Flu conta que, entre as regravações, constam peças de musicalidade bastante "torta", a exemplo de Shoobidabidooba POA é meu lar. Também foram revisitadas músicas como Não me pergunte por quê, 22 minutos e o "hino" Sandina. "As gravações dessas músicas eram tão ruins que só podíamos tocá-las ao vivo", conta Flu, enquanto, em primeira mão, mostra algumas prévias das faixas que integrarão o embrionário álbum.
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O projeto, agora tocado pelos demais integrantes e cuja previsão de lançamento é este ano, resultará num álbum contendo 12 faixas (nove antigas e três novas). Detalhe: nenhuma das faixas do atual disco - que poderá chamar-se MiniMundo (o codinome que Miranda usava no Instagram) - constavam no LP Agradeça ao Senhor, o único lançado pelo grupo, em 1993. Bancado pela paulistana Baratos Afins, o álbum foi um retumbante fracasso comercial. Conforme Luiz Calanca, proprietário do selo, Agradeça ao Senhor vendeu exatamente sete cópias.
Quantificar todos os feitos musicais de Carlos Eduardo Miranda é uma tarefa quase impossível. Do forró ao hardcore, dos ritmos paraenses ao dance rock, da new wave ao manguebeat, nada passou batido por seus ouvidos em constante estado de alerta. De tudo ele fez na vida: atuou como músico, jornalista, agitador cultural. Todavia, era enfurnado num estúdio de gravação que a exuberância de seu talento aflorava. Não restam dúvidas de que foi um dos mais importantes produtores musicais da história fonográfica brasileira.

Antimúsico do rock

Produtor começou carreira em Porto Alegre e rumou depois para São Paulo

Produtor começou carreira em Porto Alegre e rumou depois para São Paulo


ACERVO LUCIENE ADAMI/DIVULGAÇÃO/JC
Uma das primeiras aparições artísticas do jovem Miranda, ainda como "Carlos Miranda", aconteceu em setembro de 1976, durante o II Festival Anchietano da Canção (FAC) - que, no corpo de jurados, tinha o lendário músico e compositor Carlinhos Hartlieb. Aos 14 anos, o adolescente Miranda chegou ao final do festival com a música Espectro. No livro Gauleses irredutíveis, Miranda conta que participou apenas "para zueirar". Em depoimento ao site Relicário do Rock Gaúcho, o músico Antonio Villeroy, lembrou, mais de 40 anos depois, a inesquecível cena que presenciou: "O Miranda subiu ao palco de fraque e bermuda. Ele começava tocando docemente uma pequena lira e, lá pelas tantas, ensandecia, para, logo a seguir, numa performance roqueira e original, tocar o horror ao piano".
Foi na esteira dessa excentricidade que, em 1978, Miranda montou - ao lado de Flávio Santos (baixo), Marcelo Truda e Rodrigo Correia (nas guitarras) e Cau Hafner (bateria) - o Taranatiriça. Primeiramente, o grupo perseguia uma sonoridade mais "experimentalista", que fazia mais a cabeça de Miranda. Mas quando o "Tara" decidiu mudar de fase, voltando sua mira para o heavy rock, ele resolveu pular fora. Porém, a verdade é que Miranda foi expulso da banda.
Em 1987, demonstrando inabalável segurança, Miranda afirmava suas habilidades composicionais. E se autodefinia radicalmente: "Não sou músico: sou antimúsico, o antivirtuose. Não tenho instrumento, não sou prisioneiro disso. Se quiser, faço música folheando um gibi, como fiz recentemente com o Carlos Gerbase". O cineasta diz não recordar a tal "música folheando gibis", mas guarda "cinematográficas memórias" da amizade: "Ele (Miranda), generosamente, me emprestou muitos gibis e discos importados. E me apresentou a bandas como, por exemplo, o Gang of Four", relembra Gerbase.
Ao ser "saído" do Taranatiriça, Miranda acometeu-se de uma febre cujo direcionamento estético apontava múltiplas direções. O nome de seu mais novo projeto ele já tinha: Urubu Rei. Tratava-se, segundo ele, apenas de uma farsa. O alvo era o sistema, que deveria ser ultrajado com música de má qualidade e desvairadas performances.
A estreia da Urubu Rei nos palcos porto-alegrenses aconteceu no auditório da Assembleia Legislativa, no inverno de 1983. Artisticamente, foi um momento paradigmático. Ele deixava claro, de uma vez por todas, que dominava como ninguém a arte do vilipendio artístico. Foi memorável, a começar pelo nome do show: Tem um albino ao meu lado.
"Sacanamente performático", como definiu Miranda, o espetáculo contava com a participação do grupo teatral Balaio de Gatos. Na ocasião, Miranda inflamou tudo e a todos com sua flamejante iconoclastia. Em Gauleses, ele narra como quase levou o incauto público à loucura: "Rolava assim: primeiro as pessoas tinham de comprar o ingresso num guichê. Só que, de propósito, a gente criou uma série de entraves para que o público não conseguisse entrar no teatro. Para se ter ideia, a 'roleta' era uma mulher que abria e fechava as pernas. E, ao mesmo tempo em que ela fazia esse ato, do nada surgia um vampiro andando de patins. Daí começávamos a tocar com as portas fechadas: o show rolando numa barulheira infernal. O teatro vazio e o público ali, do lado de fora, puto da cara se espremendo na porta, querendo entrar. Foi muito hilário".

Jacaré no topetinho em Santa Catarina

Dudu afirma que Miranda era um exímio professor na arte de pegar o jacaré perfeito

Dudu afirma que Miranda era um exímio professor na arte de pegar o jacaré perfeito


ACERVO LUCIENE ADAMI/DIVULGAÇÃO/JC
Dudu Marote, conhecido produtor de artistas como Skank, Pato Fu e Jota Quest, conta que o primeiro trabalho em parceria com Miranda foi uma produção envolvendo a banda Charlie Brown Jr. Depois disso, tornaram-se parceiros no projeto Skol Music. Mas, música à parte, Marote prefere relembrar alguns inesquecíveis momentos que passou com Miranda, do qual era amigo há mais de 30 anos, na Praia da Barrinha, ao lado Ferrugem, em Floripa: "Eu tive o privilégio de passar tardes inteiras com o Miranda pegando jacaré na Praia da Barrinha. Dá para imagina o que é isso?", diverte-se. Dudu afirma que Miranda era um exímio professor na arte de pegar o "jacaré perfeito": "Ele me ensinou que, na Barrinha, havia dois tipos de onda: uma que vinha 'normal' e outra que vinha 'de lado'. E explicou que, na junção daquelas duas diferentes ondas, se formava um 'topetinho'. O lance todo era sempre pegar o jacaré no topetinho da onda", conta Dudu.
Por onde Miranda andava, observa Dudu Marote, as pessoas, quanto mais simples fossem, mais demonstravam amor por ele. "Por causa do SBT, o Miranda se transformou na alegria de um montão de gente que não tinha muitas outras alegrias na vida", acredita. O produtor diz que só ficou sabendo do quão debilitado Miranda estava pouco antes de ele falecer. Dias antes, conta Dudu, ele encontrou, por acaso, uma foto do Miranda, na qual, no verso, ele deixara rabiscada uma mensagem. Uma perfeita síntese do "coração de ouro" que batia em Carlos Eduardo Miranda: "É porque eu, velhinho, gosto sempre de passar alegria para as pessoas".

Urubu Rei e a caótica estreia em Porto Alegre

A cafajestagem estética da Urubu Rei, ou melhor, especialmente de Miranda, era tão descarada que nem o Balaio de Gatos - cuja função cênica era dançar no palco - foi poupado. Sem que ninguém soubesse (nem mesmo os integrantes da banda) Gordo Miranda convocou o grupo Plateia (todos colegas seus da faculdade de jornalismo) para avacalhar o show. Sentados na primeira fila, eles ficavam xingando, tocando objetos, ovos e tomates no palco. "Ficaram todos apavorados", relembra a atriz Patsy Cecato. Menos, obviamente, o "mentor" da farsa. Patsy, uma das integrantes do Balaio de Gatos, depois seria convidada para compor o trio de cantoras do Urubu Rei, ao lado das atrizes Luciene Adami e Lila Vieira.
A despeito da caótica estreia da Urubu (que gerou muita curiosidade no diminuto meio artístico porto-alegrense), quando o questionavam sobre "influências da época", Miranda - sempre de olho na vanguarda - fazia questão, primeiramente, de se esquivar de quaisquer estereótipos ligados às anacrônica culturas punk e pós-punk (embora no Brasil se vivesse, à época, o clímax destes gêneros). Aos invés disso - ainda que mais para confundir do que para explicar - Miranda preferia categorizar o impactante show da Urubu Rei de "totalmente Dadá". A Urubu Rei, ele postulava, chegara para "desmascarar a ideia de palco, espetáculo e artista".
Impostores ou não, a incontestável verdade é que a banda é responsável por dois dos mais importantes (e perenes) hits da música rock porto-alegrense: a esquisitice pop-multifacetada Nega vamos pra Boston? e, depois, a ode de desamor enrustido Não me mande flores, cuja autoria é de Luciene Adami. Uma história, ela diz, totalmente verídica: "Ao contrário do que a maior parte das pessoas pensam, Não me mande flores é uma recalcada canção de amor. E a recalcada ali sou eu", confessa. Luciene conta que, após ter expurgado a letra de dentro de si, como num exorcismo, entregou-a nas mãos de Miranda, Castor e Flávio e, em questão de meia hora, nascera a emblemática canção.

Eu sou um passageiro

Com o término da Urubu, Gordo Miranda ainda montou outras três bandas em Porto Alegre - suas últimas: a Vingança de Montezuma, Três Almas Perdidas e Santíssima Trindade. Em 1988, aos 26 anos, rumou para São Paulo com o objetivo de ver em ação um de seus grandes ídolos: o mitológico Iggy Pop, em sua primeira passagem pelo Brasil. Na mala, levava suas inseparáveis fitas demo (pelas quais era conhecido em função do selo Vórtex, dos Replicantes) e que, futuramente, o fariam conhecido em todo Brasil. As demo tapes passaram a ser a marca registrada de Miranda. "Fitas demo eram praticamente minha vida. Eu fui para São Paulo por causa do Iggy, mas, o que me fez ficar, na real, era que todo mundo vinha falar comigo por causa do lance das fitinhas. Tornei-me uma ponte entre artistas, jornalistas e mídia."
Por conta de sua popularidade em torno das demo tapes, algo, naqueles dias, ainda incipiente na cultura roqueira do Brasil - mas que começava a ganhar vulto -, Miranda, naturalmente, acabou sendo cooptado para trabalhar na redação da Bizz. Na revista, passou a assinar colunas polêmicas e também a fazer entrevistas nada usuais (em uma das mais célebres entrevistou a banda de trash metal Slayer numa churrascaria) com artistas de todas as constelações. Seus textos o tornaram conhecido no universo da música e, como não poderia deixar de ser, em se tratando de Carlos Eduardo Miranda, dividiram opiniões.
Miranda disse certa vez que, no raiar da década de 1990, houve o fatídico momento em que não havia sequer um artista, banda ou nome que prestasse para estampar a capa da revista. Urgia que instigantes novidades fossem descobertas. Como Miranda era o jornalista que mais dispunha de tempo na redação, ele não desperdiçou o seu: "Eu fuçava todas as demos que chegavam e fui organizando tudo. Montei um grande arquivo de demo tapes na redação da revista. Era fita para tudo quanto é lado". A antológica sessão assinada mensalmente por Miranda na revista chamava-se Conexão Brasil.
O trabalho de Gordo Miranda era escrever sobre as (boas) novidades, as quais ele havia descoberto, que frutificavam na incipiente cena daquela época. Tímida, porém, a tal "cena" ainda não despertara completamente de sua pasmaceira. "O (André) Forastieri, editor da Bizz, na época, um dia me falou: 'Vamos fazer um levantamento geral de novas bandas no Brasil'. Juntei todas as fitas que eu tinha e, aos correspondentes, pedi que enviassem novidades de suas cidades. Aí pintou um momento estranhamente exótico: eu não tinha descoberto nada de novo vindo de Brasília e Recife. Nenhuma mísera fita demo. Então sugeri ao Forastieri viajar até lá para ver o que estava rolando, mas ele me disse: 'Não precisa ir. Sabe o que tu faz? Bota na tua coluna que não tá chegando nada de demo aqui. Você vai ver, logo vai aparecer. Alguém vai ligar'. Não deu outra. Choveram fitas demo de tudo quanto era lugar."

Cara dura e várias ideias na cabeça

Flavia Moraes, Luciene Adami e Gordo Miranda em 1986

Flavia Moraes, Luciene Adami e Gordo Miranda em 1986


ROCHELLE COSTI/DIVULGAÇÃO/JC
Na sua coluna de estreia na revista General, de dezembro de 1993, Miranda escrevia o provocativo texto: "Como inventei o Rock Gaúcho". Ironicamente é que, ao passo em que meditava sobre seu passado, ele (talvez sem dar-se conta conscientemente) estava prestes a comandar uma revolução não só musical, mas também cultural. E qual seria um dos pilares dessa revolução insuflada por Miranda? Sem dúvida, a negação estética daquilo que restara da década anterior e que, na sua visão, não mais servia para nada.
Buscando legitimar que o rock, o pop e a música brasileira em geral careciam de imediata renovação, Miranda literalmente chafurdou as estranhas do underground nos quatro cantos deste gigantesco País. Vivia a obstinação de caçar talentos originais, regionais, distantes do viciado jogo das majors - algo, até então, que ninguém se aventurara fazer.
Irônica, porém, foi a maneira como Miranda conseguir ampliar seu "negócio" das fitinhas quase como num passe de mágica. Não se pode negar que foi uma verdadeira tacada de mestre. Explica-se. Ocorre que durante toda a existência da Bizz, os Titãs sempre foram a banda mais criticada pela publicação. O ódio entre a banda e a revista era mútuo e notório. Miranda era o único, entre todos os colaboradores da Bizz, que nunca tivera qualquer "treta" com a banda.
Com um grande insight na cabeça e paz no coração, Miranda resolveu, na cara dura (e toda elegância que sempre lhe caracterizou), procurar a banda, na época contratados da Warner Music Brasil. Além de escancarar a situação de penúria criativa que a música jovem brasileira atravessava, Miranda expôs-lhes sua carta de intenções: criar um selo dentro da Warner somente para atender à multidão de grupos - à margem do mainstream - que existia em todos cantos do Brasil. Os Titãs toparam a proposta no ato (a gravadora também) e, assim, nascia o histórico selo "Banguela Records".
Em seus dois meteóricos anos de existência, a Banguela lançou 12 discos. O suficiente, entretanto, para fazer as estruturas do adormecido rock brasileiro estremecer. O estopim de tudo foi o estrepitoso disco de estreia dos Raimundos - ousando em sua nunca vista amálgama de punk e forró -, que causou enorme barulho na cena e marcou, em grande estilo, o debute do selo. Depois vieram os igualmente contundentes Samba Esquema Noise (Mundo Livre S/A), Lírou Quêiol en de Méd Bârds (Little Quail and The Mad Birds) e Coisa de Louco II (Graforréia Xilarmônica).
Com o fim da Banguela Records, Miranda tornou-se sócio da Excelente Discos, responsável por colocar no mercado várias outras bandas importantes. O primeiro lançamento da gravadora foi estreia em disco da gaúcha Maria do Relento. O renome, porém, veio com dois reputados álbuns: Carnaval na obra e Guentando a Ôia, do Mundo Livre S/A.
Em 1998, na sua nova empreitada, Gordo Miranda uniu-se ao produtor João Marcelo Bôscoli, filho de Elis Regina, na criação da gravadora Trama. O foco de atuação era o fomento à cena independente. E, de fato, muito a Trama ajudou a moldar a face da música produzida no Brasil a partir do século XXI. Nomes, por exemplo, como Otto, Rappin Hood, Cansei de Ser Sexy (que experimentou sucesso internacional), Câmbio Negro e Rumbora, saíram de lá.
Em 2001, o visionário Miranda (antevendo que, inexoravelmente, o futuro da música seria na internet) teve outro presságio: propôs a criação da plataforma digital que se converteria numa das mais importantes ferramentas de alavancagem da cena independente: a Trama Virtual. Em 2013, quando a Trama Virtual encerrou suas atividades, contabilizou-se que a plataforma hospedara cerca de 205 mil arquivos, de 78 mil artistas.
Fora isso tudo, não se deve esquecer, que Carlos Eduardo Miranda ainda atuou, durante 13 anos, como jurado em vários programas de calouros no SBT, entre os quais Ídolos, Astros e Qual é o Seu Talento? Arnaldo Sacomani, parceiro de Miranda nestes televisivos todos (e produtor de artistas como Tim Maia, Rita Lee e Os Mutantes) diz que, até hoje, "a ficha não caiu" e Miranda se foi. Sacomani não poupar elogios ao amigo que lhe era muito próximo querido: "O Miranda era um gênio revolucionário".

Alguns discos produzidos por Miranda

  • Screw You! - DeFalla (1989)
  • Raimundos - Raimundos (1994)
  • Coisa de Louco II - Graforréia Xilarmônica (1995)
  • Guentando a Ôia - Mundo Livre S/A (1996)
  • 'Cowboys Espirituais - Cowboys Espirituais (1998)
  • Júpiter Apple - Plastic Soda (1998)

Cristiano Bastos é jornalista, autor de Júpiter Maçã: A efervescente vida & obra (Plus Editora). Atualmente, prepara uma biografia sobre Nelson Gonçalves, que deve ser lançada neste ano.
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