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reportagem cultural

- Publicada em 02 de Maio de 2019 às 21:29

Recuperação do patrimônio histórico de Pelotas avança

Em 2018, Iphan tombou o conjunto arquitetônico de Pelotas como Patrimônio Cultural do Brasil

Em 2018, Iphan tombou o conjunto arquitetônico de Pelotas como Patrimônio Cultural do Brasil


PEDRO ANTÔNIO HEINRICH/DIVULGAÇÃO/JC
Um mundo antigo espreita nas ruas úmidas de Pelotas. Um simples passeio pelo Centro da cidade é capaz de abrir imensas janelas no tempo, de onde se pode espiar o passado com fartura de detalhes. Nas fachadas de velhos casarões ou no interior de majestosos sobrados está contada uma parte importante da trajetória da mais rica e opulenta sociedade que se desenvolveu no Rio Grande do Sul.
Um mundo antigo espreita nas ruas úmidas de Pelotas. Um simples passeio pelo Centro da cidade é capaz de abrir imensas janelas no tempo, de onde se pode espiar o passado com fartura de detalhes. Nas fachadas de velhos casarões ou no interior de majestosos sobrados está contada uma parte importante da trajetória da mais rica e opulenta sociedade que se desenvolveu no Rio Grande do Sul.
Durante décadas, a cidade cresceu em volta desses testemunhos de outras épocas, muitas vezes virando-lhes as costas e tratando-os como entraves à inevitável modernidade. Nos últimos 20 anos, porém, projetos de restauração e requalificação vem devolvendo à vida prédios, praças e técnicas construtivas que contam, em cimento, mármore e cal, a trajetória de uma cidade singular.
Em 2018, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou o conjunto arquitetônico de Pelotas como Patrimônio Cultural do Brasil. No mesmo dia, reconheceu também a tradição doceira como Patrimônio Cultural Imaterial.
Duas iniciativas foram decisivas para inserir Pelotas no ciclo positivo da preservação sustentável: a aprovação do Inventário do Patrimônio Histórico da cidade, no ano 2000, e a inscrição, em 2001, no Programa Monumenta, uma parceria do governo federal com a Unesco para apoiar a educação e a preservação da paisagem histórica e cultural em cidades brasileiras. A partir daí, tudo vem mudando.
Mais do que tombar e restaurar prédios, Pelotas está enfrentando com sucesso um desafio que pouquíssimas cidades brasileiras conseguem vencer: a convivência entre o patrimônio histórico e a comunidade, integrando, gerando renda e aquecendo um mercado promissor. Hoje, há escritórios de arquitetura especializados em projetos de restauração que empregam, além dos arquitetos, historiadores, pesquisadores, fotógrafos designers e os profissionais diretamente envolvidos nas obras de restauração.
Para formar mão de obra especializada, tem gente dando curso de cimento penteado, estuque e escaiola. O que é isso? Antigas técnicas construtivas utilizadas no interior dos casarões e que permanecem vivas graças ao trabalho de artífices e restauradores.
Quando um prédio está devidamente restaurado, outra ponta desse mercado entra em ação. São projetos comerciais e de serviços que já enxergam um grande valor em ter suas marcas ligadas à conservação do patrimônio. Assim, lojas, restaurantes, cafés e grandes empresas de variados segmentos vem instalando suas sedes em edifícios recuperados, muitos deles sem o uso de dinheiro público na restauração.
Sem falar nos cerca de 40 mil visitantes, segundo estimativa da Secretaria de Turismo, que vão a Pelotas todos os anos exclusivamente em busca dos velhos testemunhos de outros tempos. Parece que a cidade vive um novo ciclo, no qual a riqueza edificada que os antepassados deixaram volta a representar cultura, identidade e prosperidade.

Preservação: um esforço de décadas

Primeira restauração do programa Monumenta foi a Fonte das Nereidas, na Praça Cel. Pedro Osório

Primeira restauração do programa Monumenta foi a Fonte das Nereidas, na Praça Cel. Pedro Osório


MICHEL CORVELLO/DIVULGAÇÃO/JC
Os marcos iniciais da virada de Pelotas com relação ao seu patrimônio ocorreram há 20 anos, mas faz muito mais tempo que alguns pelotenses perceberam o valor inestimável de sua história - membros da sociedade civil, políticos e pesquisadores ligados especialmente ao curso de Arquitetura da Universidade Federal de Pelotas. O primeiro imóvel tombado pelo município foi o Obelisco Republicano, em 1955.
Ao longo das décadas seguintes, outras iniciativas ocorreram, de forma esparsa. Até que no ano 2000 foi aprovada, com muita polêmica, a lei do Inventário do Patrimônio Histórico da cidade. "Depois da aprovação, muitos proprietários se sentiram punidos, mesmo com o incentivo da isenção do IPTU para quem preservasse. Ao mesmo tempo, havia um grupo de pessoas espalhadas por diversas áreas que estavam preocupadas com o patrimônio. Esse foi um momento efervescente e decisivo", relembra a Secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo, que na época já atuava em projetos culturais envolvendo conservação de patrimônio em Pelotas e que também foi Secretária de Cultura do município em duas ocasiões.
A lei que protegeu 1,7 mil imóveis em diferentes níveis possibilitou a inscrição de Pelotas no programa Monumenta. Com seis projetos aprovados, Pelotas começou a ver, aos poucos, o seu Centro Histórico renascer. A primeira restauração do Monumenta foi a Fonte das Nereidas, o chafariz importado da França em 1873 para abastecer a cidade de água potável e também para substituir o pelourinho que ficava no coração da antiga praça.
Não somente para a elaboração dos projetos, mas também para executar as obras, formou-se um escritório do programa na cidade. Coordenado pela arquiteta pelotense Simone Neutzling, o local chegou a reunir 35 técnicos por meio de um convênio entre a prefeitura e as universidades. "A aprendemos muito com a empresa contratada para as obras, o que possibilitou que todos nós pudéssemos continuar atuando em outros projetos. Foi o começo de tudo", destaca Simone. Além de projetar o futuro dos velhos prédios, o grupo pretendia aprender as técnicas de restauro se familiarizar com os mecanismos de viabilização financeira de obras de conservação. Outras iniciativas para restauração de edificações, não contempladas pelo programa Monumenta, começaram a ser vistas pela cidade, com investimento dos herdeiros e proprietários, que aos poucos reconheciam o valor histórico do imóvel da família.
Em 2013, o PAC Cidades Históricas, outro programa do Governo Federal, injetou novo ânimo na cidade. Dos 17 projetos apresentados, seis foram aprovados e quase todos ainda estão em fase de execução ou licitação.
A revitalização da Praça Coronel Pedro Osório, por exemplo, estava ocorrendo enquanto a reportagem do Jornal do Comércio circulava pelo Centro de Pelotas, entre uma entrevista e outra. Já o majestoso Theatro Sete de Abril, o primeiro do Rio Grande do Sul, inaugurado em 1833 e há anos fechado por necessitar de reformas, está em fase de licitação para o começo das obras.

Opulência e sangue no Brasil Meridional

Pioneiro do Estado, Theatro Sete de Abril foi inaugurado em 1833

Pioneiro do Estado, Theatro Sete de Abril foi inaugurado em 1833


/IGOR SOBRAL/DIVULGAÇÃO/JC
O belíssimo patrimônio edificado que renasce aos poucos nas ruas surgiu em circunstâncias singulares que não se repetiram em nenhuma outra cidade brasileira no período. Instaladas no final do século XVIII às margens dos arroios que ligam Pelotas à Lagoa dos Patos e ao porto de Rio Grande, as charqueadas eram o ponto de chegada dos tropeiros que traziam rebanhos da Campanha e da Fronteira. O gado era recebido e abatido. A carne era salgada e exposta ao sol em mantas. O couro era beneficiado nos curtumes. É conhecida a história das águas do Arroio Pelotas vermelhas de sangue em dias de abate. Um trabalho insalubre e sacrificante, feito sempre pelos negros. Exportado para todo o mundo justamente para a alimentação da mão de obra escrava que atuava em muitos países no início do século XIX, o charque se tornou uma fonte de renda inesgotável. O historiador pelotense Mário Osório Magalhães, no livro Opulência e Cultura na Província de São Pedro, conta que as ricas famílias dos charqueadores tinham contato direto com o que havia de mais elevado em termos de educação, moda e cultura na Europa. Para reproduzirem um estilo de vida semelhante à sua condição financeira, mandaram erguer os casarões, além de espaços públicos para o entretenimento, como o Theatro Sete de Abril e o Clube Caixeiral. Arquitetos e artistas vinham da Europa, especialmente da Itália, para trabalhar na construção das casas dos barões do charque.
O auge deste ciclo ocorreu na segunda metade do século XIX, quando Pelotas era a principal cidade do Sul do País e os charqueadores, os homens mais poderosos da província. O Visconde da Graça, avô do escritor Simões Lopes Neto, chegou a emprestar quantias volumosas ao Estado, a fundo perdido, para cobrir dívidas ou investir em obras públicas. São dessa época os casarões mais rebuscados, em estilo eclético com influências de art nouveau e art déco. Neles se desenvolveram técnicas importadas como a escaiola, para solução ornamental e de acabamento de tetos e paredes.
O escritor, filósofo e professor Luís Rubira relembra que os prédios não testemunham apenas a riqueza e o refinamento da elite. Eles também revelam a exploração e o sacrifício dos negros, que construíam os casarões na entressafra do charque. "Uma parte desse patrimônio ainda revela uma outra face da mesma história, que é o florescimento do comércio, especialmente no centro da cidade. A partir de 1840 os comerciantes também edificaram suas casas com opulência e estilo, demonstrando sua inserção na dinâmica urbana", comenta.
No final do século XIX e início do XX, alguns fatores encerraram o ciclo de prosperidade. A abolição da escravidão e a invenção dos navios frigoríficos, que possibilitaram a exportação de carne in natura, mataram a atividade. Pelotas tentou se industrializar e fazer crescer seu comércio. Nunca mais, porém, experimentou um ciclo de riqueza tão intenso. Ficaram pelas famílias os tradicionais sobrenomes. E pelas ruas os testemunhos verdadeiramente eternos de um período curto e intenso, durante o qual Pelotas foi o centro de muitos mundos.

Um passeio pela história

Casa 6 e 8 abrigam o Museu da Cidade de Pelotas e o Museu do Doce

Casa 6 e 8 abrigam o Museu da Cidade de Pelotas e o Museu do Doce


GUSTAVO VARA/DIVULGAÇÃO/JC
Guia rápido para um passeio pela cidade de Pelotas e seus locais históricos:
  • Praça Coronel Pedro Osório - Uma das praças mais bonitas e antigas da cidade, em seu entorno estão grandes monumentos. Antigamente chamada de Praça da República, é citada muitas vezes pelo escritor Simões Lopes Neto na série de crônicas Inquéritos em contraste, que publicou na imprensa pelotense em 1913. No centro da praça está a Fonte das Nereidas.
  • Casa da Banha - O casarão em estilo colonial totalmente restaurado serviu como quartel para as tropas legalistas durante a Revolução Farroupilha, em 1836. Na metade do século XIX, abrigou um famoso açougue, o que lhe rendeu o apelido de Casa da Banha.
  • Casas Geminadas- Conjunto de duas casas geminadas com acesso central, construídas entre 1912 e 1913. Em sua fachada se encontra vários estilos arquitetônicos, como o art nouveau.
  • Castelo Simões Lopes - Erguido entre 1920 e 1922, pertenceu a Augusto Simões Lopes, advogado, professor e político pelotense. Foi construído com características da arquitetura medieval. Passou anos fechado, mas agora vive um empolgante processo de restauro, com a participação intensa da comunidade, que se reúne no local aos finais de semana, em eventos com programação cultural.
  • Mercado Público Central- Também localizado no Centro Histórico, foi construído na primeira metade do século XIX e sofreu uma grande reforma no início do XX. Hoje, abriga lojas, restaurantes e tem uma intensa programação cultural, especialmente aos finais de semana.
  • Grande Hotel - Majestoso prédio localizado no Centro, foi inaugurado em 1928. Hoje não hospeda mais ninguém, funcionando apenas como hotel--escola para o curso de Hotelaria.
  • Casas 6 e 8 - No entorno da Praça Coronel Pedro Osório ficam essas duas lindas edificações, que hoje abrigam o Museu da Cidade de Pelotas e o Museu do Doce. No interior dos dois prédios é possível observar os forros trabalhados ricamente em estuque e as paredes revestidas com escaiolas.
  • Solar da Baronesa- Residência da famosa sinhá Amélia de Britto Hartley, cuja personalidade se tornou famosa em Pelotas e acabou dando nome ao casarão e ao grande terreno do entorno.

Educação para preservar

Ação do Dia do Patrimônio, criado há sete anos, no Museu da Cidade

Ação do Dia do Patrimônio, criado há sete anos, no Museu da Cidade


/MICHEL CORVELLO/DIVULGAÇÃO/JC
"Nasci em uma cidade histórica, mas minha geração não sabia disso." A descoberta foi do atual secretário de Cultura de Pelotas, Giorgio Ronna, que deixou a cidade para morar no exterior e, quando voltou, percebeu de cara uma mudança de atitude. "As pessoas se apossaram do patrimônio, estavam reconhecendo a história como sua. Isso ocorreu graças à reconfiguração do espaço público, com os projetos de restauração", completa.
Para o arquiteto e especialista em iconografia, Guilherme Almeida, o maior desafio de um projeto de conservação é fazer com que a comunidade se reconheça no patrimônio, sinta-se parte do conjunto. A solução para isso, segundo ele, passa obrigatoriamente pela educação patrimonial. Compreender a história e identificar em que ponto essa história coletiva toca a trajetória individual de cada um é o segredo para engajar a sociedade. "Hoje, apesar de termos mais informação, o tempo para descobrir um bem e salvá-lo é menor. Por isso a conservação tem que ser um ideal de todos", salienta.
Criado há sete anos, o projeto do Dia do Patrimônio é uma das iniciativas que busca o engajamento e a educação da sociedade para a causa da conservação. No ano passado, a programação teve visitação gratuita em mais de 30 sítios históricos, além de oficinas, palestras e atividades culturais. Em um ou mais dias de programação, alunos da rede pública são incentivados a participar, formando uma nova geração preocupada com o legado histórico da cidade.
Em 2018, os saberes e ofícios que fazem parte da cultura foram tema do Dia do Patrimônio, seguindo uma tendência que já é visível na cidade: a preservação das técnicas construtivas. Um exemplo disso ocorre no escritório da arquiteta Simone Neutzling, que em parceria com a jornalista Yara Baumgarten prepara a publicação de manuais que detalham técnicas antigas como a escaiola, o cimento penteado e o estuque, usadas hoje na restauração das edificações. Em seu escritório, sediado em um antigo casarão, ela também planeja oferecer oficinas de restauro, além de vender pequenas porções de matéria prima específica para cada restauração. "Já sabemos que não basta restaurar. Temos que educar a sociedade para a preservação. E a recuperação dessas antigas técnicas, para formar mão de obra especializada, faz parte desse processo. Isso também cria um mercado importante, gerando renda", explica Simone.

Cultura no sabor dos doces

Museu do Doce salvaguarda memória da tradição doceira da região

Museu do Doce salvaguarda memória da tradição doceira da região


/GUSTAVO VARA/DIVULGAÇÃO/JC
Com o apoio da Unesco, pesquisadores e entidades conseguiram levar a cabo o inventário da tradição doceira da região. Ficou provado que, mais do que uma reprodução dos doces conventuais portugueses, a doçaria tradicional pelotense é única, originada no mesmo contexto que fez surgir o majestoso patrimônio edificado.
Ao mandar toneladas de charque em navios para os engenhos do Nordeste, os charqueadores recebiam parte do pagamento em açúcar. A mescla da tradição portuguesa com os doces religiosos dos africanos deu origem a uma doçaria diferente, refinadíssima e digna de ser servida em pequenas porções, nos elegantes saraus que a aristocracia frequentava.

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Tradição doceira é patrimônio imaterial. Foto Prefeitura Municipal de Pelotas/Divulgação/JC

É o antigo modo de fazer desses doces que mereceu o título de Patrimônio Cultural Imaterial, conferido pelo Iphan. Os doces de Pelotas tradicionais também possuem um selo de rastreamento e de Indicação de Procedência, assegurando que foram feitos de acordo com a velha tradição que mistura as trajetórias do charque, dos salões e das cozinhas repletas de cozinheiras negras e cadernos de receita portugueses. A próxima vez que você deixar um ninho de fios de ovos, um pastel de Santa Clara ou um bem-casado derreter na sua boa, o faça sem culpa. Afinal, esse doce é muito mais do que um acúmulo de calorias: é uma pequena e deliciosa testemunha da história.

Turismo virtual

Aplicativo Turismo Virtual em Pelotas ajuda o turista a andar pelos principais pontos da cidade

Aplicativo Turismo Virtual em Pelotas ajuda o turista a andar pelos principais pontos da cidade


REPRODUÇÃO/JC
Iniciativa da Secretaria de Turismo em parceria com outras entidades, um aplicativo ajuda o turista a andar pelo Centro Histórico de Pelotas identificando seus principais monumentos. Um QR Code na entrada de cada local, entre eles a Praça Coronel Pedro Osório e a Catedral, permite que o turista receba todas as informações históricas do prédio, além de horários de visitação e valores de ingressos. Basta entrar na loja do seu dispositivo e procurar pelo App Turismo Virtual em Pelotas.

Natural de Rio Grande (RS), Patrícia Lima é jornalista formada Universidade Católica de Pelotas e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.