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Cultura

- Publicada em 21 de Abril de 2019 às 16:23

Morre em Porto Alegre aos 94 anos o artista plástico Danúbio Gonçalves

Ele foi pintor, gravador, desenhista e professor e atualmente vivia em uma casa de repouso

Ele foi pintor, gravador, desenhista e professor e atualmente vivia em uma casa de repouso


divulgação/equipe filme/jc
Caroline da Silva
Foi justamente em um domingo de Páscoa (quando se celebra o renascimento) que a área artística do Estado recebeu, com pesar, a notícia que era temida há tempos. Internado em uma clínica geriátrica na Capital, o artista plástico bajeense Danúbio Gonçalves morreu na manhã deste domingo (21), aos 94 anos. Segundo a família, as causas foram naturais. “Era a crônica de uma morte anunciada. Desde que caiu doente, estava num exílio. Não me reconhecia mais”, comenta Luiz Coronel.
Foi justamente em um domingo de Páscoa (quando se celebra o renascimento) que a área artística do Estado recebeu, com pesar, a notícia que era temida há tempos. Internado em uma clínica geriátrica na Capital, o artista plástico bajeense Danúbio Gonçalves morreu na manhã deste domingo (21), aos 94 anos. Segundo a família, as causas foram naturais. “Era a crônica de uma morte anunciada. Desde que caiu doente, estava num exílio. Não me reconhecia mais”, comenta Luiz Coronel.
Trineto de Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha – que ele tanto retratou –, era o único remanescente do conceituado Grupo de Bagé, formado também por Carlos Scliar (1920-2001), Glauco Rodrigues (1929-2004) e Glênio Bianchetti (1928-2014). Tema do filme Danúbio (2010), de Henrique de Freitas Lima, foi pintor, gravador, desenhista e professor.
No cinema, também foi destaque no documentário Grupo de Bagé (2018), de Zeca Brito. Para o cineasta e mestre em Artes Visuais, “Danúbio foi um artista que buscou sua inspiração no passado e nos prazeres da vida. Aluno de Portinari, foi o elo gaúcho com a segunda fase do Modernismo brasileiro”. Conforme Brito, foi no pós-guerra, em Paris, que conheceu o mexicano Leopoldo Mendes e a técnica da xilogravura. “Em Bagé, no fim dos anos 1940, revolucionou a sociedade, democratizando a arte enquanto denunciava as condições de trabalho na obra máxima do Grupo de Bagé: Xarqueadas.”
Em Porto Alegre, tornou-se um dos maiores pintores do Rio Grande do Sul. O diretor conclui: “Mestre generoso, sempre dividiu tudo o que sabia em práticas coletivas de ateliê. Tem seu acervo gráfico nos principais museus do País, deixa uma obra a ser redescoberta e muitos discípulos”.
Retornando do velório que foi realizado no Cemitério João XIII, o poeta e também conterrâneo Coronel fez questão de manifestar ao Jornal do Comércio a alegria de ter convivido com um artista desta grandeza, por quem tinha amizade e admiração. Danúbio ilustrou livros seus e foram parceiros nos projetos dos murais públicos (painéis com azulejos pintados, necessitando hoje de reparos) do artista em locais emblemáticos da Capital: Epopeia Rio-grandense, Missioneira e Farroupilha, em frente ao Mercado Público, e Centenário da imigração judaica no Rio Grande do Sul, na rótula das avenidas Carlos Gomes e Protásio Alves. “É um patrimônio da cidade. Tenho muito orgulho de ter proposto isso ao Grupo Zaffari, que foi o patrocinador da realização. Ele já idoso, carregando aquelas lajotas...” E, para Coronel, a série Xarqueadas é um monumento das artes plásticas do Brasil: “Ele captou a força do trabalho humano”. “Tinha domínio dos movimentos corpóreos e era um colorista que inventava nuances. Isso o coloca entre os grandes artistas do País, elogiado até pelo muralista mexicano Diego Rivera”, completa.
Coronel também ressalta a humildade e a honestidade da arte do falecido: “Tinha uma vitalidade criativa, nunca teve acomodação, sempre se recriando. Ele não tinha a ansiedade do ego, dos salões. E foi mestre de gerações. Tinha uma angústia estética, combatia fortemente quem não cumpria sua arte, só tinha pose de artista. Pois ele era muito sério, era um verdadeiro pintor. Criticava quem se metesse a pintar sem saber desenhar, sem dominar o traço dos movimentos. Tinha um vanguardismo estético nos seus retratos de mulheres, elas também foram um tema de sua obra”.
Em nota, a secretária da Cultura do Estado, Beatriz Araujo, lamentou a morte do artista. "Penso que a trajetória do artista, do professor, o seu comprometimento enquanto ativista, sua extensa obra, são um legado importante para a cultura do Rio Grande do Sul. O Danúbio era um artista brilhante e hoje estamos mais pobres com sua morte", ressaltou.
O diretor do Margs, Francisco Dalcol, também se manifestou sobre o falecimento do artista: “É um dos nomes mais importantes da história das artes visuais do Estado, tendo pertencido a uma geração que se empenhou em introduzir e difundir no Rio Grande do Sul as linguagens artísticas modernas. E, ao mesmo tempo, foi um artista que se projetou fora do Estado por sua postura de não adesão a modismos e por seu engajamento político e social, representado na fase de sua obra marcada pelas xilogravuras inspiradas nos trabalhadores das charqueadas e nos mineiros, nas quais se destacou pelo exímio tratamento gráfico e documental. Defendia que o artista tinha de ter posicionamento político, e que o papel da arte não se desvinculava da realidade”.
O sepultamento também está marcado ainda para este domingo (21).
Em julho de 2018, o trabalho do Grupo de Bagé foi tema da reportagem especial do caderno de cultura do Jornal do ComércioDe Bagé para o mundo: os homens que revolucionaram as artes plásticas no RS. Em setembro daquele ano, o legado de Danúbio foi tema da reportagem especial Casa que abriga antigo ateliê de Danúbio Gonçalves está a perigo.
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