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Cultura

- Publicada em 06 de Fevereiro de 2019 às 01:00

Trio 'As Bahias e a Cozinha Mineira' lança single e promete novo disco e shows

Canção inédita, 'Das estrelas' já está disponível nas plataformas digitais

Canção inédita, 'Das estrelas' já está disponível nas plataformas digitais


JOSÉ DE HOLANDA/DIVULGAÇÃO/JC
Desde o disco de estreia Mulher (2015), o grupo As Bahias e a Cozinha Mineira tem mantido um ritmo de trabalho intenso, que coloca a banda - formada pelas cantoras Assucena Assucena e Raquel Virgínia com o músico Rafael Acerbi - como nome forte da MPB a cada ano. Em 2019, não será diferente. O trio está de volta com uma canção inédita, Das estrelas, e promete um novo disco e dois shows completamente distintos.
Desde o disco de estreia Mulher (2015), o grupo As Bahias e a Cozinha Mineira tem mantido um ritmo de trabalho intenso, que coloca a banda - formada pelas cantoras Assucena Assucena e Raquel Virgínia com o músico Rafael Acerbi - como nome forte da MPB a cada ano. Em 2019, não será diferente. O trio está de volta com uma canção inédita, Das estrelas, e promete um novo disco e dois shows completamente distintos.
Pela primeira vez na carreira, o grupo assinou com uma gravadora, a Universal, com quem vai lançar o seu terceiro álbum, sucessor de Bixa (2017). A intenção do trio é realizar um trabalho que se aproxime mais do grande público. "O nosso maior desafio, agora, é aumentar a audiência", analisa Raquel. "Optamos por estar dentro de uma gravadora. Já disseram que os nossos discos são como de butique, e eu concordo."
Assucena também pensa assim: "Precisamos conquistar mais terreno no imaginário social, mais espaços". Para Acerbi, o momento é de animação. "Existe uma mudança na nossa perspectiva de trabalho, tudo que fizemos até hoje foi de maneira independente, então estamos animados. É uma experiência que nunca tivemos."
A primeira aposta do grupo nessa nova fase é a música carro-chefe do novo disco, Das estrelas, lançada nas plataformas digitais há alguns dias. "Ela tem um apelo mais popular, é romântica, tem um refrão marcante", acredita Raquel. "Por mais que o texto seja complexo e subversivo, pode passar como uma música romântica simples. E o Brasil ama música romântica, todos os nossos grande ídolos são românticos."
O tom "subversivo", citado por Raquel, vem de um protesto existente entre os versos. "Essa música tem a ver com as minhas relações, os meus afetos", diz Assucena. "Ela fala para a humanidade: 'você se perdeu'. A gente se perdeu dentro da nossa perspectiva de progresso, de ordem. O que é progresso quando o Brasil é o país que mais mata travestis no mundo?", questiona a cantora, que, assim como Raquel, é transexual.
O protesto é mais visual no clipe da faixa, estrelado pela atriz transexual Renata Carvalho, conhecida por ser a protagonista da polêmica montagem brasileira da peça O Evangelho segundo Jesus, Rainha do céu. O vídeo traz um romance que acaba em tragédia, como em muitas relações vividas por pessoas transexuais. "No clipe, a gente colocou uma tragédia que acontece por causa do amor. O tempo todo nas redes sociais o tema é o amor, mas o amor, na prática, é narcisista", lamenta Raquel. "A gente só ama o que parece com a gente. As pessoas amam o garoto branco que é assassinado, o preto que é assassinado já não amam tanto assim."
Raquel explica que, para pessoas transexuais, a busca pelo amor tem dificuldades e temores próprios. "Nos dizem que, quando encontrarmos alguém, não vai ter essa de ser travesti, vamos ficar juntos. É mentira! Já encontrei com um monte de gente que se apaixonou por mim, mas entre quatro paredes, sem ninguém poder ver."
Segundo ela, há uma relação muito próxima do prazer com a morte. "No clipe, o cara mata a travesti. Se alguém tiver que morrer vai ser a gente", afirma. "O nosso prazer, o gozo, a diversão está num limiar com a morte. Quando saio de casa, estou pensando que talvez eu morra hoje. Isso porque sou uma travesti privilegiada, mas, mesmo assim, me sinto desprotegida."
Para Das estrelas, Rafael tocou sua guitarra de forma a acompanhar a tragédia da música. "Nosso empresário pediu uma guitarra que fosse um terceiro canto, quase acompanhando a voz das duas", explica. De acordo com o músico, a faixa tem a cara dos três e deve servir de prenúncio para o que estará no terceiro disco, ainda sem título ou data de lançamento definidos, tanto em relação aos ritmos quanto às letras. "São músicas mais românticas, mas temos um bloco de canções mais 'pé na porta', ainda estamos tentando achar o fio condutor."
Apesar de estarem em um caminho mais pop, o grupo garante que os fãs não vão se decepcionar. "Essas músicas respeitam o nosso público, as pessoas vão identificar a banda ali, ao mesmo tempo que tem uma linguagem que pode atingir outras pessoas", acredita Raquel.
Para Assucena, não apenas o grupo, a MPB como um todo tem um desafio especial para atingir um público cada vez maior. "A MPB tem sido desvalorizada. Temos que provar muita coisa para nos consolidarmos como artistas vendáveis. Temos uma grande riqueza musical, mas que nas rádios não recebe o mérito devido, é triste", analisa. "Não que o pop ou o sertanejo não devam estar lá, mas o problema é o monopólio."
Raquel critica não apenas o domínio de determinados ritmos nas rádios brasileiras, mas também o aspecto monotemático das canções. "Não aguento mais ouvir falar de bunda. Temos oportunidades mil de fazer canções, mas é um tal de abaixa a bunda e sobe a bunda insuportável, já entrou na zona do emburreceu", critica. "A música pode e deve ser mais múltipla, especialmente para os artistas LGBT, que precisam de mais temas, a gente tem muita coisa a falar."
Para homenagear a MPB, o trio prepara, para 2019, uma turnê mais intimista, em tributo ao cancioneiro popular do País. "É um show para teatro, com uma homenagem ao violeiro, já que a banda é muito enraizada no violão do Rafa", diz Assucena. "É a história dos nossos primeiros encontros, lá em casa e na casa da Raquel, quando a gente ficava tirando músicas o tempo todo, mas agora organizado, de fato, como um show", completa Rafael.
Além dessa turnê especial, que vai misturar músicas de outros artistas com canções da própria As Bahias e a Cozinha Mineira, a banda já começa a planejar também os shows de divulgação do terceiro disco. "Toda vez que estou muito tranquila, sinto que estou errada", diz Raquel. "Temos um ritmo de trabalho de não deixar a coisa estancar, não entrar em zona de conforto, e essa nossa próxima fase é justamente isso, queremos buscar novos lugares, novos sonhos e conquistar um espaço no imaginário popular."
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