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reportagem cultural

- Publicada em 31 de Janeiro de 2019 às 22:35

Os 35 anos da banda Os Replicantes

Cláudio Heinz, Wildner, Gerbase, Luciana e Heron Heinz nas primeiras formações da banda

Cláudio Heinz, Wildner, Gerbase, Luciana e Heron Heinz nas primeiras formações da banda


PRANA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Em 16 de maio de 1984, o "ano de Orwell", com Wander Wildner (vocal), os irmãos Cláudio (guitarra) e Heron Heinz (baixo) e Carlos Gerbase (bateria), a banda Os Replicantes apresentou-se profissionalmente, pela primeira vez, no Bar Ocidente, em Porto Alegre. Na verdade, os noviços punks haviam feito dois outros shows: um na casa de um amigo e outro em Canela, durante o Festival de Cinema de Gramado. Nada, porém, poderia ser comparado ao tipo de experiência underground que eles vivenciariam no Ocidente. Uma experiência "punk" em toda sua completude.
Em 16 de maio de 1984, o "ano de Orwell", com Wander Wildner (vocal), os irmãos Cláudio (guitarra) e Heron Heinz (baixo) e Carlos Gerbase (bateria), a banda Os Replicantes apresentou-se profissionalmente, pela primeira vez, no Bar Ocidente, em Porto Alegre. Na verdade, os noviços punks haviam feito dois outros shows: um na casa de um amigo e outro em Canela, durante o Festival de Cinema de Gramado. Nada, porém, poderia ser comparado ao tipo de experiência underground que eles vivenciariam no Ocidente. Uma experiência "punk" em toda sua completude.
Naqueles dias, os Repli possuíam - além de Princípio do nada, que fora editada na coletânea Rock Garagem, de 1984 - somente Nicotina ("Corre nas minhas veias / Mata meu coração"), sua única "música de trabalho". Nicotina, Cláudio Heinz recorda, foi gravada num pequeno estúdio de áudio para publicidade com a luxuosa ajudinha do produtor musical Carlos Eduardo Miranda.
Pouco mais tarde, ainda no mesmo ano, Nicotina serviria de base para o primeiro videoclipe gravado no Rio Grande do Sul. E, em 1985, devido ao seu sucesso, abriu o compacto-duplo bancado, de forma totalmente independente, pela banda. A tiragem era expressiva: mil cópias. Heinz conta que ele mesmo distribuía os discos a radialistas e também os enviava para São Paulo. A estratégia, de fato, funcionou, e Nicotina virou um hit em todo o Estado.
Em meados daquele ano, o Brasil ainda vivia os estertores da ditadura, que assombrou a vida da população ao longo de 21 anos. Com os dias contados, a opressão militar, contudo, ainda fazia-se sentir. Especialmente entre a juventude. Todavia, o País inteiro contagiara-se pelas Diretas Já - a redemocratização era um processo sem volta. E um dos alvos prediletos das batidas policiais, que ainda rolavam, eram os bares da cidade.
O Ocidente, em especial, era o predileto por juntar uma tão excêntrica quanto democrática fauna de tipos oriundos das subculturas rock: góticos, punks, pós-punks, new wavers. E, claro, gente também absolutamente "comum" que lá frequentava.

Repli-memórias

Mas a questão é que naquela noite de 16 de maio de 1984, uma quarta-feira, a polícia nem deu a sua habitual batida. Na realidade, eram as bruxas que andavam à solta no Ocidente. De tão caótica foi a estreia dos Repli que o "show" acabaria sendo incorporado, mesmo que não-intencionalmente, ao fabulário do "rock gaúcho". Não pela música que deveria estar sendo celebrada, mas, sim, pela anarquia despropositada que terminou se instaurando.
Ironicamente, o grupo acabou sendo acossado pelos próprios punks que lá foram assisti-lo. Logo que os Replicantes deram os primeiros acordes, o que se sucedeu foi uma saraivada de ovos, cusparadas e outros objetos arremessados contra a banda.
Carlos Gerbase acredita piamente: "O fantasma de Syd Vicious [baixista dos Sex Pistols], com certeza, estava presente nesse primeiro show dos Replicantes".
Fiapo Barth, proprietário do Ocidente, em Gauleses irredutíveis, de 2001, contou que algumas imagens "catastróficas" da estreia dos Replicantes haviam permanecido vívidas em sua memória. A coisa foi realmente "punk", descreveu. Fiapo dá mais detalhes sobre a insanidade que se apoderou de seu bar:
"Num determinado momento, o Wander desatarrachou uma lâmpada da iluminação de palco e fez uma performance que era enfiar a língua no soquete. E o bar estava com uma das mesas de luz em curto. Foi um pânico, com medo de que aquela lâmpada estivesse realmente ligada: e o Wander repetiu aquilo o tempo inteiro."

Multimídia:  

Heron Heinz prefere não citar nomes, mas diz saber muito bem quem foram os responsáveis pelo arremesso dos fatídicos ovos: os instauradores do caos. Conforme o baixista, gente que os achava escrotos porque falavam mal de Caetano e do Chico Buarque na letra de Porque não. Heron também acredita em outra teoria: "Em resumo, o pessoal - todo ainda meio hippie - que não admitia tal nível de iconoclastia. Gente de rádio, inclusive, tomou as dores por aqueles de quem falávamos mal. Entretanto, foram tão cagões que, na época, não tiveram coragem de dizer nada", critica.

O futuro ainda é vórtex


CARLOS GERBASE/DIVULGAÇÃO/JC
Superada a prova de fogo, ou melhor, dos ovos, ninguém mais poderia deter a "pulsão" punk e criativa que movia a furiosa e vanguardista arte dos Replicantes. O passo seguinte, após a bem-sucedida realização do clipe de Nicotina, foi a produção de um novo videoclipe: Surfista calhorda, o qual obteve ainda mais sucesso e repercussão que seu antecessor, ultrapassando as barreiras do Rio Grande do Sul.
Em 1986, a banda assina contrato com a RCA (depois BMG), peitando a maior major do Brasil: a banda só gravaria O futuro é vórtex - numa vitória um tanto quanto rara e alienígena para a dominadora indústria fonográfica - sob a condição de não ter de fazer qualquer concessão ao tipo de som que perseguiam.

Multimídia: O Futuro é Vórtex (1986)

O futuro é vórtex, explica Carlos Gerbase, alude a uma máquina de pinball, muito popular no início dos anos 1980, que tinha como cenário um perigoso futuro. O LP foi lançado com o estigma da censura federal, que vetou a execução pública de músicas como Choque, Mulher enrustida e Porque não. Em Porque não (a mesma canção que conflagrara a confusão no Ocidente), a alegação era de que continha "palavras de baixo calão".
Deliberadamente, então, a RCA picotou a frase "Eu quero que o Caetano vá pra puta que o pariu!" O trecho foi banido da faixa, como se o vocalista Wander Wildner emudecesse repentinamente no refrão. Gerbase relembra que, na época, a justificativa da RCA para a solução tosca é que "não ficava bem atacar um artista de outra gravadora".
No ano de 1987, os Replicantes tornaram-se mais violentos, niilistas e acidamente críticos ao establishment social. É este encolerizado estado de espírito que rege o disco Histórias de sexo e violência, também pela BMG. Como o título indica, trata-se de um álbum cujas intenções estéticas - seja no som ou nas temáticas - são claramente mais sujas, corrosivas e selvagens que o anterior. Em Histórias de sexo e violência, a banda manufatura mais canções absolutamente originais, como, por exemplo, Sandina, Astronauta, África do Sul, Tom e Jerry.
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Replicantes se encontram e relembram trajetória da banda. Foto: Mariana Carlesso/JC

E, não se pode nunca deixar de mencionar, um dos grandes hinos da banda: a metalinguística Festa punk. Mas nem tudo foram "flores". Em pleno ano de 1987, a faixa Adúltera foi censurada. Outra peculiaridade é que este é o primeiro álbum da banda em que há composições de Wander Wildner. Em 1989, ainda lançam Papel de mal, o terceiro e último pela BMG. O disco traz o hit Só mais uma chance - que não dá em nada.

Repli-retrô

Na Protásio Alves, um estúdio roqueiro

Estabelecido na avenida Protásio Alves, 737, o Estúdio Vórtex, criado e concebido pelos Replicantes, foi um espaço que, de 1986 a 1987, agregou em Porto Alegre uma gama distinta de artista.
Um espaço que continha bar, estúdio, opções de lazer e arte. A essas alturas com dois discos lançados (e bem-recebidos), os Repli, mais uma vez, inovavam na cena porto-alegrense. Dessa vez, com uma proposta, seria correto dizer, "multimídia" (isso quando tal palavra ainda estava bem longe de ser cunhada).
De acordo com Heron Heinz, no começo, a ideia era que o Vórtex servisse como estúdio de ensaios dos Replicantes. Mas logo as pessoas e bandas foram se chegando: "Com o tempo, a gente acabou alugando o estúdio para todo tipo de banda que se possa imaginar. E aí, naturalmente, a coisa começou a se incrementar: tinha o bar, uma lojinha que vendia fitas cassetes, outra com 'coisinhas de rock'", recorda o baixista.
O mais significativo de tudo, porém, é que, de quebra, a iniciativa acabou sendo fundamental no fomento da cena roqueira de Porto Alegre daqueles dias, com a criação do selo Vórtex. O saudoso produtor Carlos Eduardo Miranda foi quem viabilizou os primeiros lançamentos do selo.
Em 1988, a Vórtex lançou um dos mais venerados artefatos da música pop local (e nacional também): a fita K7 Com amor muito carinho, da Graforreia Xilarmônica. Em outra K7 lançada pela Vórtex, no ano anterior, o selo colaborou para deixar o rock rio-grandense literalmente de pernas para o ar. O objeto em questão, a cultuada Vórtex Demo dos Cascavelletes, que continha petardos como Menstruada, Morte por tesão e Ugagogobabago. Nitroglicerina pura. 

A verdadeira corrida espacial

Em 1991, sem gravadora, os Replicantes lançam seu quarto disco, Androides sonham com guitarras elétricas. A novidade é o acréscimo de Luciana Tomasi (produtora da banda desde o início), que passa a assumir os teclados e vocais de apoio. Dois shows de lançamento do disco depois, Wander Wildner toma a decisão de deixar a banda. O baterista Carlos Gerbase torna-se então o vocalista e, para assumir as baquetas, é chamado Cleber Andrade.
Um dos membros honorários do Replicantes desde o início, o saxofonista e ex-Garoto da Rua King Jim é tão parte da banda que suas participações já tiveram início nas gravações do primeiro compacto, onde emprestou sua voz em várias faixas. "Fizemos muitos shows juntos", diz ele, "mas o mais lembrado é o de 1991, no Porto de Elis, que começa com a música Sinal de Alah, uma pérola que os Replicantes nunca chegaram a gravar. Quem viu, viu". 

Go ahead, Replicantes!

A formação atual do grupo: Cleber Andrade, Heron Heinz, Julia Barth 
e Cláudio Heinz

A formação atual do grupo: Cleber Andrade, Heron Heinz, Julia Barth e Cláudio Heinz


/FERNANDA CHEMALE/DIVULGAÇÃO/JC
Em 2002, Carlos Gerbase sai dos Replicantes. Wander Wildner reassume os vocais num show no Bar Ocidente, em maio, no aniversário de 18 anos da banda. Em janeiro de 2003, lançam o CD Go ahead e, em maio, partem para a Europa em sua primeira tour internacional, fazendo 24 shows em 27 dias.
O registro dessa turnê sai em janeiro de 2004, no DVD Go ahead: A primeira tour na Europa a gente nunca esquece. Em maio de 2006, o grupo volta para a Europa na tour Old School Veterans Braziliasta. Wander decide então ficar somente tocando sua carreira solo "punk brega". Junta-se à banda, então, a vocalista Julia Barth.
Vocalista dos Alcaloides, um dos grupos de punk mais originais surgidos na cidade, em meados dos anos 2000, Júlia diz que, disparado, os Replicantes sempre foram sua banda nacional favorita. Detalhe que, de certa forma, ajudou a facilitar sua entrada no grupo. Ela chama atenção para a profusão de bandas punk comandadas por mulheres que, hoje em dia, proliferam-se em regiões da Grande Porto Alegre, localidades onde a qualidade de vida ainda carece de muitas melhoras. Uma dessas bandas, Júlia destaca, é a As Devastadoras.
Com uma trepidante estrada que já contabiliza nove discos (o último foi Replicantes 2010, que traz o hit Maria Lacerda; e o novo, Libertà!, lançado no ano passado), os Replicantes parecem ser daquelas bandas que, sinceramente, não terão hora nem dia para encerrar suas atividades. Hoje em dia, ressalta a vocalista, o grupo está completamente sintonizado, por exemplo, com os temas que versam sobre a violência contra as mulheres e as minorias em geral.
Já outras letras lamentam as pessoas que, cercadas de gente que grita desesperadamente em protesto pela a profunda crise que vivemos, na verdade estão completamente sozinhas numa multidão de incautos. Mas não pense que a diversão não continua. Em Punk de boutique, os Repli tiram uma forte onda com os vários tipos de "ativismo" em uma levada clássica ramoniana.
Os Replicantes, mais que meros androides sobreviventes do distópico Blade Runner, ainda possuem circuitos de sobra para continuarem brandindo um dos gritos de guerra que os tornaram distintos entre turbas punk mundo afora. Para os porto-alegrenses, até o final dos tempos, esse lema será "mandando chumbo até o cano derreter".
Júlia, a qual nem era nascida quando banda iniciou, também concorda com outra alegórica metáfora a respeito dos Repli - talvez a maior delas: "O futuro, sim, ainda é vórtex".
Metaforizando perfeitamente com esses tempos de ódio e desentendimento que se apoderaram da sociedade, Júlia prefere citar a letra de Princípio do nada, que foi por onde tudo começou. Como tudo o que os Replicantes fez em 35 anos, a música não faz quaisquer concessões: "Só vamos parar / Quando o mundo acabar / Quando a bomba explodir / Quando o sangue jorrar". 

Videografia replicante

Com a consultoria de integrantes da banda, a reportagem traz uma seleção de clipes para nenhum replicante botar defeito. 

Nicotina

Surfista calhorda 

Festa Punk 

Replicantes - Hippie Punk Rajneesh 

Os Replicantes em Vórtex (1987)

Os Replicantes ao vivo no Porto de Elis (1991)

Replicantes - Show comemorativo: 30 Anos

Maria Lacerda

Os punks versus punks

Márcio Jr. (Mechanics)

Os Replicantes chegaram tardiamente na minha vida. Mas chegaram na hora certa. Em 1994, quando o Mechanics nasceu, Sandina e Mistérios da sexualidade humana faziam parte de nosso repertório. Apesar da simplicidade punk das músicas, elas transbordavam drama, energia e inteligência. Letras matadoras, pressão sonora e um frontman único faziam dos "Replica" uma banda sem pares na cena nacional. Influenciou meio mundo. A mim também. O primeiro show dos caras em Goiânia permanece histórico. 

Ana Paula Polaca (3-D)

Gosto quando uma coisa ou alguém muda a vida das pessoas. E os Replicantes mudaram a vida de muitas pessoas, sobretudo no Interior do Rio Grande do Sul. Por causa deles, os jovens sentiram-se pertencentes a um grupo, representados por alguém. Esse foi o grande legado d’Os Replicantes para a sociedade – uma espécie de libertação. Tipo: eu não sou obrigado! Na minha vida não foi diferente. O Cláudio Heinz, por exemplo, deu um novo rumo à minha vida me convidando para trabalhar com a banda. A partir dali, comecei a me envolver diretamente com arte e nunca mais parei.

Eduardo Normann

Os Replicantes estão presentes minha vida desde muito cedo. Em 1985, com 17 anos recém-completados, fui ao show de lançamento do primeiro compacto deles, no teatro da Reitoria da Ufrgs. Eu era adolescente, criado na Igreja Metodista, e a experiência foi super impactante. Desde a entrada em cena, os integrantes (com enormes capacetes de astronauta do tipo “cheguei de Marte”), a sonzeira paulada, a loucura do público – tudo era muito novo para mim. E a primeira roda de pogo a gente não esquece. Hoje eu toco com a atual vocalista dos Repli, a Júlia Barth, que é baixista na nossa banda, a Cine Baltimore. E convivo diariamente com o Heron, que frequenta o Dubstudio, onde trabalho, e para o qual não pode faltar um bom vinho.

Felipe Messa (Pupilas Dilatadas)

Os Replicantes foram deveras importantes na minha formação musical e, eu diria, até na forma como encaro a vida. Eu tocava guitarra nos tempos de escola, mas, no final de 1983, fui convidado pelo Gustavo Brum, vocalista da banda Pupilas Dilatadas, da qual eu era o baixista, para assistir a um show dos Replicantes no Bar Ocidente. Foi então que minha vida mudou radicalmente. Eu já conhecia Sex Pistols e Ramones, de discos e videoclipes, mas assistir Os Replicantes ao vivo eram uma experiência única. Além de incorporar e traduzir a filosofia punk, a música que propunham foi o que me pegou de jeito. A partir daí assumi o punk como ideologia de vida. Go ahead Replicantes! Obrigado por tudo!

Silvio Essinger (autor do livro Anarquia Planetária e a cena brasileira)

Os Replicantes representaram, melhor do que qualquer outra banda brasileira, o tipo de punk que eu gostaria de vir a ser: culto, aberto a uma vasta gama de temas e experiências, louco para mexer com todo tipo de autoridade e senso comum, mais furioso que musicalmente virtuoso e com um humor daqueles que fazem tudo mais valer a pena.

Castor Daudt (Defalla)

Eu era muito fã dos Replicantes. Tanto que ia nos shows deles em cidades do Interior. Pegava o meu carro e ia - às vezes, com eles no ônibus deles. E, eventualmente, fazia participação especial em algumas músicas; teve uma vez que fiquei como “operador de luz” deles. A nossa turma, que também era a deles, era mais de vanguarda: punk, gótico, new wave. Os roqueiros tradicionais eram (e ainda são) um tanto reacionários. Por incrível que pareça, eles diziam: “Vocês andam com gays e punks! Que horror!” Nós íamos ao Bar Ocidente, que tinha fama de ser “bar gay”, mas, para os surfistas playboys de Porto Alegre, era pecado botar os pés lá. Surfista calhorda foi a nossa grande “vingança”, nosso triunfo maior sobre a playboyzada da época.

Cristiano Bastos

É jornalista, autor de Júpiter Maçã: Aefervescente vida & obra (Plus Editora). Atualmente, prepara uma biografia sobre Nelson Gonçalves, que deve ser lançada neste ano.