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reportagem cultural

- Publicada em 20 de Dezembro de 2018 às 22:08

A temporada de Rubem Braga na Porto Alegre dos anos 30

Em 1939, Rubem Braga escolheu Porto Alegre para se refugiar por um tempo

Em 1939, Rubem Braga escolheu Porto Alegre para se refugiar por um tempo


CELIO JR/AE/JC
O cronista Rubem Braga passou uma temporada trabalhando em Porto Alegre há quase 80 anos. De julho a outubro de 1939, ele ocupou uma mesa na sala de redação do Correio do Povo, na qual passava algumas horas do dia resumindo notícias do País e do mundo que chegavam por "telegramas", então o mais moderno meio de transmissão de textos. Depois de cumprir sua jornada como redator, escrevia a crônica que seria publicada na Folha da Tarde, vespertino lançado três anos antes pela Cia. Jornalística Caldas Junior.
O cronista Rubem Braga passou uma temporada trabalhando em Porto Alegre há quase 80 anos. De julho a outubro de 1939, ele ocupou uma mesa na sala de redação do Correio do Povo, na qual passava algumas horas do dia resumindo notícias do País e do mundo que chegavam por "telegramas", então o mais moderno meio de transmissão de textos. Depois de cumprir sua jornada como redator, escrevia a crônica que seria publicada na Folha da Tarde, vespertino lançado três anos antes pela Cia. Jornalística Caldas Junior.
Nos quatro meses da temporada na capital gaúcha, Braga publicou 91 crônicas que, bem ou mal, registraram suas reações diante de acontecimentos triviais da cidade, como o desfile de estudantes na Semana da Pátria, ou tragédias como a invasão da Polônia pela Alemanha, episódio inicial da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
No final de outubro de 1939, foi-se embora, após escrever duas crônicas fazendo alusões a falcatruas de um religioso responsável pela administração de uma missão indígena na Amazônia. Nos bastidores, consta que foi por pressões da cúpula religiosa gaúcha que o cronista teve de partir. Na realidade, ele não viera para ficar, e sim para "dar um tempo" fora do Rio de Janeiro, onde sua barra ficara subitamente pesada.
Jovem ainda, com apenas 26 anos, o jornalista-cronista saiu do Rio à sorrelfa, escapando de um caso amoroso complicado. Alto, magro, alinhado, Rubem Braga tinha pinta de galã. Diz a lenda espalhada por amigos que era muito considerado pelas mulheres, embora não se gabasse de conquistas amorosas ou proezas sexuais.
Já politicamente era mais saliente. Tendo começado a escrever aos 17 anos no jornal do pai em Cachoeiro do Itapemirim, a maior cidade do interior do Espírito Santo, era um inquieto antigovernista que se identificava com as posições do Partido Comunista, mesmo sem dele ser sócio-militante.
Por ter suas crônicas publicadas em diversos jornais dos Diários e Emissoras Associados, rede nacional criada por Assis Chateaubriand (1892-1968), Braga era conhecido em diversas capitais, inclusive em Porto Alegre, onde seus escritos saíam no Diário de Notícias. A partir de 1937, com o golpe de Getulio Vargas, censores do Departamento de Imprensa e Propaganda (o famoso DIP) do Estado Novo liam tudo que sairia na imprensa, mas respeitavam os textos de Braga, que não desfraldava bandeiras políticas.
Consciente de que seus passos podiam estar sendo seguidos pela polícia política do Estado Novo, ele tomou uma medida providencial: quando seu vapor fez escala em Paranaguá (PR), desceu e foi à agência local dos Correios, de onde telegrafou a um amigo jornalista pedindo que fosse esperá-lo no cais da capital gaúcha.
Sem saber dos motivos da viagem inesperada do colega, o repórter Carlos Reverbel foi ao seu encontro. No cais, os dois mal se cumprimentaram quando receberam voz de prisão de um policial, que cumpria ordem expressa do chefe de polícia do governo federal, o implacável Filinto Müller, que gostava de trancafiar intelectuais esquerdistas - caso de Graciliano Ramos, por exemplo.
A principal característica pessoal de Braga era o comedimento. Reservado, só falava o essencial. Ao desembarcar, não teve tempo de contar ao amigo Reverbel o real motivo de sua viagem. No silêncio que se seguiu à voz de prisão, deixou ficar subentendido que era procurado por alguma atividade subversiva no campo político.
Aos binóculos da polícia, parecia francamente suspeito que um jornalista viajasse às pressas para o Sul do País, onde as comunidades alemãs e italianas estavam submetidas a vigilância especial por simpatizar com o nazifascismo em voga na Europa. Isso sem falar do fantasma do comunismo soviético.
Na delegacia onde seria lavrado o boletim da prisão dos suspeitos, Reverbel telefonou para Breno Caldas, dono do jornal em que trabalhava. Não demorou, apareceu na repartição policial ninguém menos do que o doutor Plínio Brasil Milano, delegado-chefe do recentemente criado Departamento de Ordem Política e Social (Dops). Cunhado de Breno Caldas, Milano dispensou o policial e indicou a saída do impasse: a única forma de livrar Rubem Braga da cadeia seria que o interventor Cordeiro Farias falasse com o chefão Filinto Müller.
O cronista foi não apenas libertado, mas contratado para trabalhar como redator do Correio do Povo e cronista da Folha da Tarde. Sem pressa de voltar, dispondo da fiança do patrão, assinou um contrato de aluguel de um apartamento no alto da rua Dr. Flores, defronte à Confeitaria Rocco, um dos pontos chiques da cidade.
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A temporada gaúcha do grande cronista

Discreto, Rubem Braga levou uma vida pacata nos meses em viveu em Porto Alegre

Discreto, Rubem Braga levou uma vida pacata nos meses em viveu em Porto Alegre


divulgação/museu lingua portuguesa/jc
Dadas as circunstâncias de sua "fuga" para Porto Alegre, a temporada de Rubem Braga na imprensa gaúcha foi um hiato numa carreira de grande sucesso. Durante quatro meses, suas crônicas não foram reproduzidas em nenhum outro lugar. Só saíram na Folha da Tarde. Não se sabe se ele se ressentiu do isolamento. O fato é que esse período da vida profissional de um dos maiores cronistas brasileiros teria ficado restrito aos arquivos da imprensa, não fosse o empenho do amigo Carlos Reverbel. Antes tarde do que nunca.
Em 1993, já nos últimos anos de vida, Carlos Reverbel (1912-1997) dedicou a Braga várias páginas de suas memórias (Arca de Blau, Artes & Ofícios/Zero Hora), baseadas em depoimento à repórter Cláudia Laitano. No ano seguinte, releu as crônicas porto-alegrenses de Braga, tendo escolhido 40 delas para um livro póstumo (Uma fada no front - Rubem Braga em 39, Artes & Ofícios, Porto Alegre, 1994) - obra que não consta no catálogo geral da editora fundada em 1991.
Na apresentação da obra, Reverbel conta que conhecera Braga em 1935, quando o jovem repórter de 22 anos esteve em Porto Alegre para cobrir os festejos do centenário da Revolução Farroupilha. Sob o governo de Flores da Cunha, o Estado montara uma grande exposição em que cada unidade da federação tinha um pavilhão para mostrar sua produção, sua cultura.
Mais do que uma festa riograndense, foi um evento nacional que serviu como propaganda do governo federal de Getúlio Vargas. Participaram da exposição oito estados, cada qual custeando o seu estande-pavilhão no Parque Farroupilha. Braga veio na delegação de Pernambuco, onde trabalhava como repórter da Folha do Povo, jornal que algum tempo depois seria fechado pelo governo. Ele era tão conhecido em Porto Alegre que, no final dos festejos, foi homenageado por colegas com um jantar. Tinha a mesma idade de Reverbel, amigo para sempre.
Na capital gaúcha, Braga não produziu grandes crônicas. É provável que se sentisse deslocado geograficamente. Tendo chegado no inverno, talvez estranhasse o frio, fator ausentes de locais como Cachoeiro do Itapemirim, Belo Horizonte, Rio ou Recife. Também pode ter sentido saudade da boemia carioca.
Levou vida modesta em Porto Alegre, com a vida social restrita ao círculo de colegas do jornalismo como Telmo Vergara, Nilo Ruschell e Rivadavia de Souza, o uruguaianense Nego Riva, repórter político que se vangloriava de duas coisas: de ter descoberto Lupicínio Rodrigues em Porto Alegre e da amizade do presidente Getúlio Vargas, de quem ganhou um cargo na representação diplomática do Brasil em Paris no início dos anos 1950.
Segundo Reverbel, o cronista não frequentou a roda de intelectuais que se reunia na Livraria do Globo, onde se destacava Erico Verissimo (1905-1974). Numa de suas crônicas, Braga questionou Verissimo por ter-se gabado a um repórter local de que no Brasil um escritor podia viver de literatura, dando-se a si como exemplo, pois estaria ganhando 3 mil contos por mês.
Abusado, aconselhou Verissimo a "não generalizar" o que lhe parecia um privilégio não desfrutado nem por Jorge Amado, já então mais popular do que o gaúcho de Cruz Alta. Somente 10 anos depois, o autor de Clarissa e Caminhos cruzados lançaria o primeiro volume de O tempo e o vento, romance histórico que se tornaria um clássico da literatura brasileira.
*Geraldo Hasse é jornalista. Teve passagens por veículos como Veja, Exame e Guia Rural, todos na capital paulista. Também trabalhou em Curitiba, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Vitória e Florianópolis. Voltou para o Rio Grande do Sul em 2005 e já escreveu dezenas de livros.

Carlos Reverbel, o fiel amigo dos pampas

Jornalista recebeu Rubem Braga no Cais do Porto em 1939

Jornalista recebeu Rubem Braga no Cais do Porto em 1939


dulce helfer/divulgação/jc
Embora sem a fama precoce do cronista capixaba, Carlos Reverbel também era movido pela inquietação. Ancorado na redação do Correio e da Revista do Globo, era um repórter que ia além dos fatos. Era comum, ao voltar de uma reportagem, ter material suficiente para gerar livros. De Pedras Altas, trouxe dois livros sobre os Assis Brasil; em Pelotas, garimpou a biografia do esquecido João Simões Lopes Neto. Além disso, no início dos anos 1950, Reverbel foi o editor da primeira fase da revista Província de São Pedro, um raro acontecimento litero-histórico da Editora Globo, consagrada nos anos 1930 sob a direção de Erico Verissimo.
O resgate da obra passageira de Rubem Braga em Porto Alegre foi uma oportuna recuperação de um material soterrado pelo tempo. Falecido aos 77 anos em dezembro de 1990, o cronista capixaba ainda estava bem vivo na memória dos leitores. Com seu gosto pela arqueologia da palavra, Reverbel qualificou como uma das melhores a crônica publicada no dia 1 de setembro de 1939. Título: Setembro, Chuva. O cronista começa falando que o rádio ligado na Gaúcha transmitia a voz fina de uma mulher cantando um samba molengo e melancólico. "Mas de repente o samba recuou, quase sumiu, baixinho, e uma voz grossa de homem leu um telegrama: 'A Alemanha acaba de declarar oficialmente a guerra à Polônia...' A voz grossa falou em 200 aviões bombardeando uma cidade, tropas avançando por quatro pontos da fronteira, aviões lutando sobre o mar, generais conferenciando com ministros. Depois, a voz forte parou e se ergueu outra vez a melancólica voz de mulher cantando o seu samba mole. A seguir, veio um blues soluçando, com pistões em surdina, depois um raid de aviões poloneses, mobilização total na França, discurso de Hitler". E a crônica segue, intercalando coisas banais aos fatos gerados por Hitler na Europa.

Ode à professora

Uma fada no front, crônica publicada no dia 6 de setembro de 1939, era uma reverência à professora pública. Emocionado após assistir a um desfile em comemoração à Semana da Pátria, Braga pede "ao homem de rua de Porto Alegre para contemplar com respeito e amizade essa figura modesta de mulher que faz e renova todo o milagre antigeográfico da união nacional: a professora pública". Esse era Braga: com duas pinceladas, pintava um quadro.
Em setembro de 1939, ele sentiu necessidade de declarar-se solidário à responsabilidade da professora diante da juventude ameaçada pelo totalitarismo em ascensão no Brasil e no mundo. Estava particularmente preocupado com o futuro dos jovens descendentes de alemães.
Dias antes, Braga visitara Joinville, e escreveu uma crônica sobre o dilema daquela gente loira em território brasileiro no momento em que a Europa mergulhava no horror da guerra. Ele conhecia a discriminação em sua terra natal, o Espírito Santo, onde viviam descendentes de diversas origens.
Se mudava com frequência, sempre no exercício do jornalismo. Nacionalista, expressava os sentimentos do homem do povo. Como tal, tinha uma queda pela oposição ao governo. Como repórter, aos 20 anos, fora enviado pelo jornal O Estado de Minas para cobrir a Revolução Constitucionalista de 1932, com que os paulistas se insurgiram contra a Revolução de 1930. Mais tarde, participaria de movimentos contra os governos de Vargas, sentimento discretamente compartilhado por Carlos Reverbel.

Sisudo, Braga brilhava mesmo era na crônica

Rubem Braga era um tipo bizarro. Formado em Direito, nunca exerceu outro ofício senão o jornalismo. Foi repórter e redator anônimo, daqueles que fechavam páginas nas redações sem assinar suas matérias. Era nas crônicas que seu nome brilhava. Foi um dos primeiros brasileiros a ter seus textos retransmitidos por mais de um jornal. Era assim que ganhava dois ou mais salários. E tirava mais algum dinheiro fazendo traduções. Sua única experiência como funcionário público foi num cargo diplomático de alto nível - embaixador do Brasil no Marrocos entre 1961 e 1963, um agrado feito por Jânio Quadros e mantido por João Goulart. Rubem Braga diplomata?! Ele parecia gostar de bancar o durão. De fato, era homem de falar pouco.
Em julho de 1972, o redator desta matéria foi ao Rio entrevistar o escritor Fernando Sabino, de quem Braga era sócio na Editora Sabiá, que fora vendida à José Olympio Editora. A Sabiá publicara dezenas de escritores. Entre os brasileiros, lançara o contista Dalton Trevisan. Dos estrangeiros, seu mais célebre autor foi o Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, cujo livro Cem anos de solidão lhes rendeu muito dinheiro.
A entrevista com Sabino, para a revista Veja, durou mais de uma hora. Mineiro de Belo Horizonte, ele era jovial e falante. Na mesa ao lado, na mesma sala, havia um sujeito lendo e tomando notas. Era um cara sério, carrancudo até. Durante todo o tempo que durou a entrevista, ele não disse palavra. De vez em quando lançava um olhar de revesgueio para o lado da mesa do sócio e enfiava novamente a cara em sua tarefa. Estava revisando ou avaliando um texto. Ou seria o balancete do primeiro semestre da editora? Seria ele o contador da firma? O revisor? O advogado envolvido na operação de venda dos títulos?
Era Rubem Braga, o sócio. Sisudão, não fazia questão de parecer simpático. Segundo Afonso Romano de Sant'Ana, mesmo ganhando dinheiro na Sabiá, Braga não gostou de ser editor. Com tudo isso, ou por isso mesmo, era querido pelos colegas e respeitado pelos leitores numa época em que os cronistas como ele eram vistos como subliteratos, poetas do jornalismo, nada mais. Sem ser mal-humorado, apenas carrancudo, Braga se converteu paulatinamente em personagem. Àquela altura de sua carreira, provavelmente não se importaria se alguém o chamasse de medalhão da crônica.
No Rio dos anos 1970, empoleirado no cume da glória, ele chamava a atenção por morar num apartamento de cobertura onde cultivava plantas de porte e criava passarinhos. Era nesse recanto da rua Barão de Gravataí 42 que ele recebia os amigos da boemia e da literatura. Os mais assíduos eram Paulo Mendes Campos, Vinicius de Moraes, Otto Lara Resende e Afonso Romano de Sant'Ana. Os jornalistas que o entrevistavam saíam com a impressão de que ele era uma criatura que operava numa frequência incomum.
O crítico José Castello viu nesse apego à natureza uma alma sensível que se manifestava em crônicas inspiradas em fatos reais, mas elaboradas com os recursos da ficção. Na crônica Ai de Ti, Copacabana, datada de 1958, Braga extrapolou os limites da criação ao prenunciar a degradação do bairro símbolo do Rio às vésperas da mudança da capital federal para Brasília. "Urso de Ipanema", definiu-o o jornalista mineiro Humberto Werneck.
O certo é que ninguém ficava indiferente diante de sua figura ou de seus escritos. Tocado por sua obra, o jornalista conterrâneo Marco Antonio Carvalho pesquisou durante uma década até concluir a biografia Rubem Braga - O cigano fazendeiro do ar (Globo, 2007), Prêmio Jabuti de 2008. Uma das revelações desse livro é que o grande amor de Rubem foi a atriz Tonia Carrero (1922-2018). Em 2013, no centenário do nascimento do cachoeirense do Itapemirim, a Secretaria da Cultura do Espírito Santo organizou no Palácio Anchieta, em Vitória, uma exposição sobre a vida e a obra do escritor que passou a maior parte da vida longe da terra natal.
Embora se referisse afetuosamente à sua cidade, Rubem Braga tinha má vontade com seu estado. Tanto que, numa crônica, lascou: "O Espírito Santo é uma fórmula geográfica de não ser coisa nenhuma". Em outro texto, sugeriu que o território capixaba deveria ser inundado pelo oceano, tornando-se um golfo propício ao veraneio dos mineiros, que se condoíam por não ter um litoral próprio, como a maioria dos estados brasileiros.
 

A morte sem cortejo

Na véspera do dia em que morreria, abatido por um câncer de laringe, Rubem Braga escreveu ao seu único filho, o jornalista carioca Roberto Seljian Braga (1937-2017), uma carta que sintetiza seu estilo seco, sóbrio, solenemente simples.
 

Texto comparável à música de Noel Rosa

O charme de suas crônicas estava na combinação do realismo com certo rebuscamento literário recheado de romantismo. Ele partia de fatos e divagava. No livro As cem melhores crônicas brasileiras, organizado pelo jornalista Joaquim Ferreira dos Santos em 2005, Rubem Braga comparece com quatro textos. Entre 64 autores, empataram com ele apenas Luis Fernando Verissimo e Carlos Heitor Cony.
Na introdução do livro, Joaquim compara as crônicas de Braga à música de Noel Rosa. Situa a origem de gênero literário ligeiro nos folhetins do século XIX, quando alguns escribas de valor eram escalados para comentar os fatos da semana. Bem humorados, esses textos foram moldados inicialmente por escritores como José de Alencar e Machado de Assis, ambos trabalhando para veículos de imprensa do Rio.
No correr das décadas, inúmeros jornalistas ou artistas deram vida às crônicas, principalmente na então capital da República. João do Rio, Antonio Maria, Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Chico Buarque, Caetano Veloso, Paulo Mendes Campos e Vinicius de Moraes trilharam esse caminho, sempre afinado com o espírito brincalhão dos cariocas. Mas onde houvesse um jornal de mediana qualidade despontava um escriba talhado para ser cronista.
Segundo o poeta Manuel Bandeira, Braga era magnífico escrevendo sobre qualquer assunto, mas quando não tinha assunto era melhor ainda. Foi assim, com leveza e uma aparente falta de compromisso, que Braga se manteve na crista da onda por mais de 50 anos, atravessando diversos governos, a maioria deles autoritários.