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Cultura

- Publicada em 21 de Novembro de 2018 às 01:00

Filme de Spike Lee sobre investigação de célula da KKK estreia no Brasil

Adam Driver e John David Washington contracenam em Infiltrado na Klan

Adam Driver e John David Washington contracenam em Infiltrado na Klan


UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO/JC
Ricardo Gruner
Ron Stallworth não só foi o primeiro detetive afro-americano da polícia de Colorado, nos Estados Unidos, como também a peça fundamental na investigação de uma célula da Ku Klux Klan em seu país. Para vigiar e prevenir ações da organização, ele elaborou um esquema que lhe garantiu até mesmo uma carteira de membro - ainda que seus "colegas" defendessem a supremacia branca e outros horrores. É ele o centro do longa-metragem Infiltrado na Klan, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, em maio, e dirigido por Spike Lee. Com estreia no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (2), o filme mistura ação e comédia em um enredo que retrata os conflitos sociais e a luta por direitos civis nos anos 1970.
Ron Stallworth não só foi o primeiro detetive afro-americano da polícia de Colorado, nos Estados Unidos, como também a peça fundamental na investigação de uma célula da Ku Klux Klan em seu país. Para vigiar e prevenir ações da organização, ele elaborou um esquema que lhe garantiu até mesmo uma carteira de membro - ainda que seus "colegas" defendessem a supremacia branca e outros horrores. É ele o centro do longa-metragem Infiltrado na Klan, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, em maio, e dirigido por Spike Lee. Com estreia no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (2), o filme mistura ação e comédia em um enredo que retrata os conflitos sociais e a luta por direitos civis nos anos 1970.
Em 2014, o ex-detetive publicou um livro de memórias sobre os bastidores da operação - já despertando o interesse de produtoras em levar a história para o cinema. Após uma cautela para vender o projeto para uma empresa que entendesse todas as dimensões da história, os direitos para a adaptação ficaram com a QC Entertainment, que se uniu a Monkeypaw de Jordan Peele - do sucesso independente Corra!, também dedicado a questões raciais - para o trabalho. Spike Lee, de Faça a coisa certa (1989) e da cinebiografia de Malcom X (1992), surgiu naturalmente como nome para dirigir a obra.
Como a maior parte das adaptações para a sétima arte, há ficção em Infiltrado na Klan. A essência, no entanto, é uma remontagem dos fatos. Pouco conhecido do grande público, John David Washington (da série Ballers, da HBO) é o responsável pelo papel principal. Ron Stallworth é apresentado como um jovem disposto a conquistar seu lugar em um departamento da polícia local, mesmo que precise enfrentar o racismo até dentro da entidade. Quando ele se depara com um anúncio da Ku Klux Klan no jornal, convocando novos integrantes, resolve fazer uma ligação e, para sua própria surpresa, se aproxima da entidade. Para isso, o protagonista precisa, obviamente, esconder ser negro. A solução encontrada é alinhar com um colega branco e judeu (papel de Adam Driver) a missão de representá-lo nos encontros presenciais com os extremistas, enquanto ele próprio se responsabiliza pelas conversas ao telefone e por tudo que pode dar errado a partir desse plano.
Apesar da seriedade do caso e do perigo envolvido na investigação, há muito espaço para Spike Lee destilar seu humor ácido ao longo da trama. Como resultado, o espectador ri ao mesmo tempo em que percebe a exposição de feridas abertas até hoje na sociedade. Muito deve-se ao desempenho de John David Washington, mesmo que seja Driver aquele cotado para a temporada de prêmios - ele concorre ao Spirit Awards, e há quem aposte até em indicação ao Oscar de ator coadjuvante. O principal intérprete do filme tem o mérito de construir uma relação de cumplicidade tanto com o colega de elenco quanto com o público - que ri dos diversos absurdos enquadrados, muitas vezes de contornos que deveriam ser pura ficção.
Também é verdade que o longa-metragem tem vilões claros, beirando a caricatura, o que facilita a comédia. Um deles é David Duke, quem, segundo o verdadeiro Ron Stallworth, chegou a telefonar preocupado sobre como seria representado nas telonas. Duke foi líder da Ku Klux Klan - na época, tentando disfarçar o discurso para atrair novos seguidores - e atuou na política. Ele é papel de Topher Grace, que afirma ter vivido o pior mês de sua vida ao preparar-se para o filme, lendo biografia e escutando discursos do personagem. Sem entrar em spoilers, pode-se dizer que a preocupação não foi em vão.
Se, em determinada sequência, um ativista fala sobre poder, política e arte, Spike Lee também cumpre sua parte por trás das câmeras. O realizador faz de tudo para passar sua mensagem, seja através de indiretas ou de exposições evidentes: a produção se passa na década de 1970, mas não esquece de Charlottesville em 2017 ou do que pode acontecer quando discursos são menosprezados. Há mais contemporaneidade em cena do que o cineasta gostaria.
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