De Alegrete para Porto Alegre. Criada em 1983 no Interior, desde o ano 2000 a Geda Cia. de Dança Contemporânea está presente na Capital. Em 2018, quando completa 35 anos, a companhia organiza uma série de apresentações do projeto De lá pra cá, sendo uma das últimas Às vezes, eu Kahlo e a volta de Verde (In)Tenso, ambas ocorrendo no Theatro São Pedro (praça Mal. Deodoro, s/nº) amanhã, às 20h, no valor de R$ 40,00.
A história do Geda se iniciou antes mesmo de sua criação. Sua fundadora, a coreógrafa Maria Waleska van Helden, já contava com experiência no mercado há pelo menos 10 anos, com a escola de dança que leva seu nome em Alegrete. Passado uma década com a Escola Maria Waleska, a diretora de Às vezes, eu Kahlo percebeu a necessidade de uma maior qualidade estética e de movimento, passando de um ensino da dança do nível escolar para o profissional. Focada na dança contemporânea, a companhia disseminou o gênero com diversas apresentações na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.
A mudança para Porto Alegre no início do século se deu como uma forma de expansão para a Geda, que passou a atuar também com a dança-teatro. É daí que vem o nome do projeto: De lá pra cá é uma analogia à mudança da escola de Alegrete para a Capital. Tendo já criado espetáculos elogiados, como Cem metros de valsa e um grama (prêmio Açorianos de Dança em 2011), sobre a vida de Frédéric Chopin; e Não me toque estou cheia de lágrimas - Sensações de Clarice Lispector; agora a nova apresentação é sobre Frida Kahlo, uma das mais importantes e influentes artistas mexicanas. A vida da mexicana é contada na peça solo Às vezes, eu Kahlo pela bailarina-intérprete Graziela Silveira. "Graziela é uma bailarina contemporânea, que dança sem nenhum tipo de vaidade, com entrega completa para a personagem", define Maria Waleska.
Bem como as outras montagens da companhia, a produção se deu a partir de uma extensa pesquisa de personagem, ainda mais por contar somente com Frida em cena. A trajetória da pintora mexicana é contada a partir do ponto em que ela sofre um grave acidente, quando ainda tinha 18 anos, e que a causou lesões e dores para o resto da vida. "O retrato da dor não somente física, mas também sentimental, era o que queríamos transmitir ao público. Mesmo que tivesse que lidar com a dor, ela continuava a criar sua arte", conta a coreógrafa, reforçando que a Frida que queria abordar é "aquela que não está nas canecas".
A dificuldade de produção do espetáculo não se restringe em retratar alguém com dores. Em decorrência das lesões, a movimentação da artista era menor e debilitada. E como ficou o resultado final? Isso poderá ser visto pelo público. "Queríamos trazer a contradição da imobilidade móvel ao palco. Trabalhar com a imobilidade na dança é algo quase esquizofrênico." Também haverá apresentações no Largo Glênio Peres nos dias 27, 28 e 29 de setembro.
Além do espetáculo inédito, também retorna a montagem vencedora do Prêmio Klauss Vianna 2016, Verde (In)Tenso. Trata-se de uma leitura contemporânea do Estado, com uma representação da identidade do gaúcho - a peça conta com uma alteração se comparada ao original: agora, estão todos os participantes da Geda na apresentação.
O projeto De lá pra cá, que conta com todas as montagens da companhia neste ano, ainda terá Vaga. A peça será parte do Gestos Contemporâneos, no dia 11 de novembro, no Multipalco do Theatro São Pedro. Última apresentação em Porto Alegre no ano, Vaga fala sobre o processo de mudança dos migrantes de seu local de origem para o ambiente em que se estabelecem. "Por mais que a maior parte do elenco seja da Geda, haverá migrantes africanos, haitianos e venezuelanos", afirma Maria Waleska. Um dos mais ativos dos migrantes será Loua, responsável pelo segmento de percussão do espetáculo.
Envolvida com a dança desde seus quatro anos, a coreógrafa faz um balanço de quão presente é a mesma em sua vida. "Após meus três filhos, dançar é o que eu mais valorizo."