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FESTIVAL DE GRAMADO

- Publicada em 21 de Agosto de 2018 às 01:00

Produções de jovens com temáticas sociais marcam prêmio de curtas em Gramado

Problemas atuais do mundo pautaram o Prêmio Assembleia Legislativa - Mostra Gaúcha de Curtas

Problemas atuais do mundo pautaram o Prêmio Assembleia Legislativa - Mostra Gaúcha de Curtas


DIEGO VARA/PRESSPHOTO/JC
Com muitos representantes recém-saídos das faculdades de cinema, a geração de jovens realizadores audiovisuais do Rio Grande do Sul demonstra grande preocupação com temas sociais e enxerga como responsabilidade do seu trabalho uma reflexão sobre a realidade. E, assim, novamente, problemas atuais do mundo pautaram os destaques do Prêmio Assembleia Legislativa - Mostra Gaúcha de Curtas.
Com muitos representantes recém-saídos das faculdades de cinema, a geração de jovens realizadores audiovisuais do Rio Grande do Sul demonstra grande preocupação com temas sociais e enxerga como responsabilidade do seu trabalho uma reflexão sobre a realidade. E, assim, novamente, problemas atuais do mundo pautaram os destaques do Prêmio Assembleia Legislativa - Mostra Gaúcha de Curtas.
Foi com os ganhadores entre as produções regionais que se encerrou o primeiro fim de semana do 46º Festival de Cinema de Gramado. No domingo (19) à noite, no palco do Palácio dos Festivais, a cerimônia contou com o embalo do som da banda Ale Ravanello Blues Combo. Com os troféus de melhor filme e melhor roteiro, Um corpo feminino, de Thais Fernandes, saiu vencedor.
A tendência de engajamento social se mostra também na mostra nacional de produções em curta-metragem. A animação sensorial do Rio de Janeiro Plantae, de Guilherme Gehr, mostra a destruição de uma floresta, sua fauna, flora e beleza, por motosserras. Já Majur é um documentário de Rafael Irineu sobre a personagem homônima, que, como Gilmar, é chefe de comunicação em uma aldeia indígena no interior de Mato Grosso.
A obra termina com uma contundente crítica política sobre o tema indígena e homossexual por parte das autoridades. No discurso de apresentação do trabalho, o diretor falou sobre a indignação com o fato de o primeiro candidato na pesquisa de votos para presidente ser contra às ações para esses públicos e disse que "o agro nem sempre é belo, não sendo nem um pouco pop" - em referência à uma propagada televisiva. Ambos os filmes foram exibidos na noite de domingo, antes do Prêmio Assembleia Legislativa.
Gênero, feminismo, migração, população sem teto: os títulos premiados deixaram reflexões acerca desses temas. Um corpo feminino faz parte de um projeto transmídia, propõe um jogo aparentemente simples onde pergunta para mulheres de gerações opostas definições sobre a mulher, suas características emocionais e físicas. Uma avaliação temporal sobre essas noções também acaba sendo traçada. Além de Gramado, o filme já passou pelos festivais IV Cine Jardim - Festival Latino-Americano de Cinema de Belo Jardim e 20º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte.
A opção do júri por eleger Um corpo feminino para roteiro surpreendeu por ser um documentário. Em função disso, Thais Fernandes recebeu o troféu e agradeceu as mulheres que emprestaram as suas histórias para o filme. Foram ouvidas 40 entrevistadas, permanecendo 12 na edição final. A diretora ainda fez uma crítica forte direcionada a todos os políticos que acreditam que a cultura não é prioridade, defendendo a necessidade de incentivos para o cinema por parte do poder público.
No entanto, foi a produção Sem abrigo, de Leonardo Remor, que levou mais troféus: melhor montagem, melhor fotografia, melhor atriz para Rejane Arruda e prêmio da crítica ACCIRS. Com quatro láureas, o curta mostra a luta de uma andarilha nas ruas para sobreviver ao frio do inverno em Porto Alegre.
De Pelotas, a animação artesanal iniciada em 2014 A formidável fabriqueta de sonhos Menina Betina - escrita, dirigida e montada por Tiago Ribeiro - recebeu Menção Honrosa "pela universalidade e comunicabilidade do tema e a delicadeza de sua realização".
Dos 20 títulos concorrentes, oito saíram com alguma distinção. Henrique Lahude, auxiliado pelo músico haitiano Alix Georges, foi eleito o melhor diretor por Fè Mye Talé, sobre os ecos da diáspora haitiana em solo gaúcho. A obra começou a ser pensada em 2013, em Encantado, no interior do Estado. O projeto foi contemplado com um edital do FAC/RS (Fundo de Apoio à Cultura) para pessoa física. Georges alertou para a invisibilidade que os imigrantes de seu país e do Senegal experimentam nas ruas das cidades, frisando que cada um carrega suas histórias.
Exemplar do feminismo no gênero fantástico, Mulher Ltda, de Taísa Ennes, foi reconhecido em direção de arte e produção executiva. A obra é bastante calcada na ironia, e, conforme a diretora, contrapõe o papel de vítima que as personagens femininas sempre têm nos lançamentos desse estilo cinematográfico.
Os veteranos Sirmar Antunes e Clemente Viscaíno dividiram o prêmio de melhor ator por Grito - roteiro escrito por Luiz Alberto Cassol especialmente para eles, apresentando uma penosa despedida. Nos agradecimentos ao diretor, emocionados, manifestaram-se sobre a amizade antiga e brincaram sobre a veracidade do beijo que protagonizaram.
Somando as 12 categorias, foram distribuídos R$ 48 mil em dinheiro aos vencedores. A premiação por parte da ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul) foi promovida em função de a entidade estar completando seus 10 anos.

Os premiados

Melhor filme: Um corpo feminino, de Thais Fernandes
Melhor direção: Henrique Lahude, por Fè Mye Talé
Melhor ator: Sirmar Antunes e Clemente Viscaíno por Grito
Melhor atriz: Rejane Arruda por Sem abrigo
Menção honrosa: A formidável fabriqueta de sonhos Maria Betina
Melhor roteiro: Thais Fernandes por Um corpo feminino
Melhor fotografia: Marco Antonio Nunes por Sem abrigo
Melhor direção de arte: Taísa Ennes por Mulher LTDA
Melhor música: Jonts Ferreira por Nós Montanha
Melhor montagem: Germano de Oliveira por Sem abrigo
Prêmio do Júri da Crítica: Sem abrigo, de Leonardo Remor
Melhor edição de som: Guilherme Cássio por Abismo
Melhor produção executiva: Rafael Duarte e Taísa Ennes por Mulher LTDA