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Cultura

- Publicada em 17 de Julho de 2018 às 01:00

Os compassos da Bossa Nova: gênero completa 60 anos

João Gilberto é um dos expoentes do gênero

João Gilberto é um dos expoentes do gênero


ARI VERSIANI/AFP/JC
Rio de Janeiro, julho de 2018: João Gilberto está diante da televisão, assistindo com entusiasmo aos jogos da Copa da Rússia, torcedor entusiasmado de futebol que é. A aposta é de Zuza Homem de Mello, jornalista, pesquisador musical e interlocutor do pai da bossa nova há mais de 40 anos. Em julho de 1958, vencido o Mundial da Suécia pela seleção de Pelé, Garrincha e Nilton Santos, o músico baiano teve outra ocupação: no dia 10 daquele mês, 60 anos atrás, ele entrou no estúdio da gravadora Odeon, no Centro do Rio, para mudar a música brasileira de maneira indelével com apenas três minutos de som.
Rio de Janeiro, julho de 2018: João Gilberto está diante da televisão, assistindo com entusiasmo aos jogos da Copa da Rússia, torcedor entusiasmado de futebol que é. A aposta é de Zuza Homem de Mello, jornalista, pesquisador musical e interlocutor do pai da bossa nova há mais de 40 anos. Em julho de 1958, vencido o Mundial da Suécia pela seleção de Pelé, Garrincha e Nilton Santos, o músico baiano teve outra ocupação: no dia 10 daquele mês, 60 anos atrás, ele entrou no estúdio da gravadora Odeon, no Centro do Rio, para mudar a música brasileira de maneira indelével com apenas três minutos de som.
Era a gravação do compacto com Chega de saudade e Bim Bom - o cultuado marco inicial da bossa, tratado sobre beleza e acuidade, pela voz e o "violão dissonante" únicos de João, então com 27 anos recém-feitos. O 78 rpm foi lançado pouco depois de Canção do amor demais, de Elizeth Cardoso; este, o primeiro LP a conter a "batida diferente" de João, que tocou em duas faixas (a própria Chega de saudade e Outra vez) chamado por um Tom Jobim impressionado com seu "novo samba" (além do compositor das músicas, com Vinicius de Moraes, Tom era o produtor).
Como a bossa, o compacto torna-se sexagenário sem ter desbotado, acredita João Donato, precursor de tudo e todos. "A bossa não envelheceu, vai ser admirada pelo mundo para sempre. É como Debussy, que morreu há 100 anos. São só números", diz o compositor, desde fevereiro de 2017 à frente de uma residência artística na Sala Baden Powell, em Copacabana, vertida em Casa da Bossa e com shows também de jazz e MPB.
Zuza Homem de Mello lembra que, na visão de Tom, Desafinado, parceria com Newton Mendonça, é que continha os elementos formadores da bossa, e não a composição com Vinicius de Moraes à qual é comumente atribuída sua certidão de nascimento. "Tom considerava que Chega de saudade tinha uma estrutura mais de choro que de samba, ao passo que Desafinado, gravada exatamente quatro meses depois, no dia 10 de novembro de 1958, já inova também no aspecto da letra", conta Zuza, autor de Eis aqui os bossa nova (2008) e Copacabana: a trajetória do samba-canção (2017), entre outros livros sobre a música do Brasil.
"Chega de saudade não tem grande evolução em termos de letra. Foi uma composição feita para o álbum da Elizeth, de canções. Com Desafinado, deu-se o reboliço", relembra. "Havia uma indução a achar que João era desafinado, tanto que ele hesitou a gravar. Era mesmo o que as pessoas sem percepção auditiva pensavam." Sobre o João de hoje, de 87 anos e interditado pela filha, Bebel Gilberto, por problemas de saúde, Zuza não tem dúvidas: "Tenho notícias fidedignas de que ele está muito bem, em ótimo estado físico, cantando e tocando. A gente tem que ficar feliz, ele está fazendo o que gosta".
Na segunda leva de gravações de João, junto com Desafinado, ele interpretou Ho-bá-lá-lá, de sua autoria, como Bim Bom. Em janeiro e fevereiro de 1959, registraria Brigas, nunca mais, Lobo bobo, Saudade fez um samba, Maria ninguém, Rosa Morena, Morena boca de ouro, É luxo só e Aos pés da cruz, e estaria completo o seminal Chega de saudade, LP que traz na capa um João enfadado e na contracapa um Tom derramado.
Espalhado pelo mundo por seus bastiões e remanescentes, Donato, Roberto Menescal, Carlos Lyra e Marcos Valle, e por vozes femininas como Leny Andrade e Paula Morelenbaum, o repertório da bossa nova não está parado no tempo. "Canto canções que gravei nos meus primeiros discos (nos anos 1960), para diferentes plateias e com o mesmo frisson. Não dá nem para nomear. São eternas. Eu as reverencio hoje e daqui a 20 anos", diz Leny, que já levou seu "scat singing" a 55 países.
A exposição Bossa 60, passo a compasso, que o Espaço Cultural Bndes, no Centro do Rio, abre ao público nesta quarta-feira (18), cria experiências sonoras para os visitantes viajarem pelas transformações que a bossa trouxe em termos de ritmo, melodia, harmonia e interpretação. Fotos da época foram pinçadas dos acervos pessoais de Menescal, Lyra, Bebel Gilberto, Instituto Tom Jobim e outras instituições. A produtora é Valéria Machado Colela e o curador é o crítico musical Tárik de Souza.
Para ele, ainda há muito o que ser dito sobre a bossa. "É um movimento estético apto a muitas releituras e apropriações", afirma. "Como cantou recentemente o Caetano Veloso, 'a bossa nova é f...'".
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