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Teatro

- Publicada em 26 de Maio de 2022 às 18:55

Palco Giratório: retomada com emoção e qualidade

Antonio Hohlfeldt
Festival promovido anualmente pelo Sesc/RS, o Palco Giratório chega à 22ª edição, depois de enfrentar dois anos de pandemia, em que precisou se reinventar. Mas parece que chega com toda a pujança possível, reunindo, mais uma vez, trabalhos que discutem a realidade imediata do país.
Festival promovido anualmente pelo Sesc/RS, o Palco Giratório chega à 22ª edição, depois de enfrentar dois anos de pandemia, em que precisou se reinventar. Mas parece que chega com toda a pujança possível, reunindo, mais uma vez, trabalhos que discutem a realidade imediata do país.
A abertura da mostra ocorreu no dia 12 de maio, com dois espetáculos, Ensina-me a fazer arte, uma espécie de happening, com Tânia Alice, trabalho este vindo do Rio de Janeiro, e Sambaracotu, coreografias de Carlota Albuquerque, com o Coletivo de Dança de Canoas. Eu já havia assistido a este espetáculo no Instituto Ling, em 2019, mas a mudança de local para a performance mudou também, e completamente, o espetáculo, que ampliou seus horizontes e possibilitou que se pudesse envolver e emocionar com a proposta que une intimamente a trilha sonora de Álvaro RosaCosta à iluminação e videografia de Ricardo Vivian e, enfim, a cenografia de Rodrigo Shalako, para as interpretações criativas de Carini Pereira, Carol Fossá, Danielle Costa, Leslie Taube, Tiago Ruffoni e Tom Peres, mais a participação especial de Alex Gonzaga. A direção do espetáculo vem triplamente assinada por Carlota Albuquerque, Álvaro RosaCosta e Simone Rasslan. Trata-se de uma experiência de múltiplas linguagens. Não dá para imaginar a coreografia sem a trilha sonora. Mas a trilha sonora só ganha vivacidade a partir da cenografia, da videografia e da iluminação, tudo se somando aos figurinos de Gustavo Dienstmann. Neste sentido, o festival abriu com muita força, porque mostra a recriação de uma obra que ganha em vivacidade e dinâmica, traz um grupo local que não de Porto Alegre (a mostrar a autonomia de alguns agrupamentos fora da capital) e, enfim, apresenta uma bela "provocação" (estou usando expressão de Alvaro RosaCosta) para os espectadores que, não fosse a disposição de teatro italiano da sala do Teatro Renascença, certamente adeririam ao espetáculo.
O festival continuou com outro trabalho de dança, Se piscar já era, vindo de São Paulo, sob a direção de Rodrigo Vieira, e culminou com a dupla performance de A hora da estrela ou o canto de Macabéa, de André Paes Leme, na magistral e profundamente emocionante interpretação de Laila Garin e seu pequenino grupo de intérpretes. O Theatro São Pedro lotou absolutamente nas duas sessões, e justificadamente. Já conhecemos Laila Garin de outros espetáculos, mas em Macabéa ela se supera, em todos os sentidos.
Aliás, a concretização deste espetáculo é uma superação só. O último romance escrito por Clarice Lispector, conquanto seja, para muitos, o mais legível e o mais sociologicamente posto, narrando a história de uma jovem migrante nordestina absolutamente alienada, que acaba morrendo atropelada numa avenida de cidade grande, para o que Lispector apresenta uma dolorida ironia, até pelo seu tema e pelo estilo narrativo de Clarice Lispector não apresenta nenhuma facilidade de transposição para o teatro e, sobretudo, enquanto um musical! Até porque teatro musicado, para muitos, é sinônimo de frivolidade e de descomprometimento.
Pois André Paes Leme, que responde pelo roteiro e pelo texto, e Chico César, que assina as canções, mais Marcelo Caldi, que responde pela direção musical e os arranjos, alcançaram o milagre. O espetáculo tem hora e meia de duração. Laila Garin dá corpo à desvalida personagem, ao lado de Cláudia Ventura e Leonardo Miggiorin, enquanto cantores intérpretes, mais os músicos Fábio Luna, Pedro Franco e Pedro Aune que estão em cena. Os figurinos de Kika Lopes e a iluminação de Renato Machado compõem com eficiência o espaço cênico, mas é a cenografia altamente flexível e plástica de André Cortez que dá a unidade ao trabalho, que tem uma cuidadosa preparação corporal de Toni Rodrigues. A experiência é contraditória: a gente chora pela miséria - real - da personagem e de tantas outras que como ela perambulam pelo Brasil, mas ao mesmo tempo se emociona e se encanta com o milagre que o teatro consegue produzir. Lembrei-me muito da reflexão teórica de Vitor Hugo, ainda no século XIX, a respeito da importância do grotesco, na obra de arte, para explicar sua importância.
Com estes trabalhos, o Palco Giratório, sem dúvida, começou muito bem.
 
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