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crítica

- Publicada em 14 de Janeiro de 2022 às 03:00

A dramaturgia do Modernismo

Antonio Hohlfeldt
No próximo mês de fevereiro estaremos completando o centenário da chamada Semana de Arte Moderna, que aconteceu no interior e nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, com espetáculos e saraus variados que ocorreram durante os dias 11, 13 e 15 de fevereiro, para escândalo e deleite das elites paulistas. O apoio que as elites urbanas deram ao movimento, inclusive a família Prado, mais a mais ampla divulgação viabilizada pelo jornal O Estado de São Paulo fez com que a repercussão do evento ganhasse repercussões nacionais que ultrapassaram o imediatismo dos acontecimentos e se tornaram história. Parte dos estudiosos da produção cultural brasileira dos anos 1920 considera, numa revisão histórica, que o movimento dos paulistas (ou melhor dito, paulistanos) teve menor significado do que eles mesmos se lhe emprestam. Seja como for, alguns artistas sediados no Rio de Janeiro, como Manuel Bandeira (poeta) e Villa-Lobos (compositor musical) aderiram ao movimento liderado, dentre outros, por Oswald de Andrade e Mario de Andrade (que, apesar do mesmo sobrenome, nada tinham em comum, nem nome nem temperamentos).
No próximo mês de fevereiro estaremos completando o centenário da chamada Semana de Arte Moderna, que aconteceu no interior e nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, com espetáculos e saraus variados que ocorreram durante os dias 11, 13 e 15 de fevereiro, para escândalo e deleite das elites paulistas. O apoio que as elites urbanas deram ao movimento, inclusive a família Prado, mais a mais ampla divulgação viabilizada pelo jornal O Estado de São Paulo fez com que a repercussão do evento ganhasse repercussões nacionais que ultrapassaram o imediatismo dos acontecimentos e se tornaram história. Parte dos estudiosos da produção cultural brasileira dos anos 1920 considera, numa revisão histórica, que o movimento dos paulistas (ou melhor dito, paulistanos) teve menor significado do que eles mesmos se lhe emprestam. Seja como for, alguns artistas sediados no Rio de Janeiro, como Manuel Bandeira (poeta) e Villa-Lobos (compositor musical) aderiram ao movimento liderado, dentre outros, por Oswald de Andrade e Mario de Andrade (que, apesar do mesmo sobrenome, nada tinham em comum, nem nome nem temperamentos).
Numa avaliação contemporânea, é provável que se deva corrigir a leitura ufanista de que o Modernismo teria rompido amarras e atualizado a cultura nacional. Na verdade, o movimento, ao quebrar radicalmente linhas de continuidade e desacreditar a ainda rarefeita produção literária, terminaria por colocar a imensa produção romântica, num esforço admirável então empreendido, como lata de lixo, o que prejudicou muito o futuro das letras nacionais. Seja como for, os modernistas conseguiram criar enormes polêmicas e o mais profundo e responsável deles, Mario de Andrade, tem uma obra admirável, mais no campo da crítica e da historiografia do que propriamente na poesia ou na ficção. Oswald de Andrade, por seu lado, que gostava de redigir manifestos provocativos, tem uma parte de sua poesia bastante interessante, ao renovar sua dicção, assim como alguns de seus romances servem como documentos de época de rara oportunidade.
Para o teatro e a dramaturgia, contudo, este Modernismo pouco ou nada contribuiu. Mário de Andrade, que odiava a ópera italiana, idealizou talvez a iniciativa mais renovadora, o libreto de uma "ópera coletiva" a que intitulou O Café, buscando levar, para a dramaturgia, a experiência dos grandes murais sociais das artes plásticas. Ele escreveu o libreto, mas faltava o compositor que criasse a música. Francisco Mignone havia sido o escolhido. Mas seja por temor de ferir susceptibilidades, seja por desinteresse ou incompreensão da verdadeira inovação que significaria a obra, ele jamais cumpriu a sua parte. O Café acabou sendo representado, algumas vezes, enquanto texto de teatro, inclusive aqui na Capital, num espetáculo dirigido por Júlio Zanotta, antecedendo o grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, num teatrinho da rua Ramiro Barcelos, entre a Cristóvão Colombo e a Farrapos.
Oswald de Andrade, que tinha formação europeia, chegou a escrever duas peças diretamente em francês - Mon coeur balance e Leus âme - em colaboração com o poeta Guilherme de Almeida, em torno do ano de 1916. Nenhuma foi encenada até sua morte. Depois, ele redigiu um roteiro para um espetáculo de balé, chamado Historie de la fille du roi (primeiro manuscrito de 1924), que teria música de Villa-Lobos e cenários de Tarsila do Amaral. Nunca chegou à cena. O autor voltaria à dramaturgia, mas num tom absolutamente diverso, com as peças O rei da vela (1933), O homem e o cavalo (1934) e A morta (1937). Nenhuma delas foi encenada durante a vida do dramaturgo. Na verdade, O rei da vela ganhou sobrevida quando, em 1967, o diretor paulista José Celso Martinez, com o grupo Teatro Oficina, fez uma leitura tropicalista, provocativa e, para muitos, escandalosa e pornográfica do texto. Em plena ditadura, a encenação, com dezenas de intérpretes, uma montagem ousada e caríssima e uma visualização até então impensável, deu o tom para a leitura desta tríade dramática do Oswald. E continua dando, no que toca a esta obra. A morta teve uma encenação em Porto Alegre, no Teatro de Arena, dirigida por Ana Maria Taborda.
Ao longo deste ano, vamos abordar, nesta coluna, cada uma destas obras, falando ainda da escassa outra contribuição, por exemplo, de Menotti del Picchia, com três ou quatro textos dramáticos. Mas foi isso. Nada mais. O Modernismo, no teatro brasileiro, só explodiria com Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues (1943), com direção do polonês Ziembinski, mas isto já é outro capítulo...
 
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