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Teatro

- Publicada em 06 de Janeiro de 2022 às 18:31

O medo que nos assola

Antonio Hohlfeldt
O ano de 2019 começou com muitas expectativas quanto aos espetáculos que teriam lugar, naquele ano, no Brasil. No entanto, já a chamada alta temporada europeia, que ocorre durante o inverno do continente norte, prenunciava: a partir da segunda metade de março daquele ano, salas de concerto, teatros e cinemas seriam fechados, bares, restaurantes e quaisquer espaços que apresentassem performances e que significassem aglomeração de público estavam proibidos.
O ano de 2019 começou com muitas expectativas quanto aos espetáculos que teriam lugar, naquele ano, no Brasil. No entanto, já a chamada alta temporada europeia, que ocorre durante o inverno do continente norte, prenunciava: a partir da segunda metade de março daquele ano, salas de concerto, teatros e cinemas seriam fechados, bares, restaurantes e quaisquer espaços que apresentassem performances e que significassem aglomeração de público estavam proibidos.
Primeiro, pensamos que era rápido: uma quinzena, um mês, o primeiro semestre, quem sabe. Mas o ano inteiro se arrastou sem que se pudesse retornar aos espetáculos. Houve tentativas, é certo, tivemos expectativas, mas a cada momento que se imaginou retomar os espetáculos presenciais, a pandemia recrudescia. Ela parecia jogar com nossas esperanças e frustrar nossas necessidades.
É certo que, durante todo este período, passados os primeiros momentos de in certeza, de depressão, de incompreensibilidade - que se poderia fazer, afinal? - os artistas começaram a buscar respostas e os primeiros espetáculos foram reinventados.
As tecnologias digitais ajudaram muito, tanto na substituição da presença física pela virtual quanto pela potencialidade de transporte a longas distâncias, da China para o Brasil, ou dos Estados Unidos para a África do Sul. Mais que isso, também a possibilidade da guarda dos arquivos e de sua reprodução tantas vezes quantas se pretendesse, e no momento em que se decidisse, foram elementos absolutamente novos, que ajudaram a enfrentar a crise.
É claro que muitas destas conquistas eram anteriores à pandemia. Desde os anos 1960, o surgimento do vídeo resolvera um dos problemas mais radicais da acessibilidade, guarda e economicidade de um produto, fosse ele artístico ou não. Mas, neste caso, tratava-se de uma midialização, isto é, de um processo intermediário entre a obra criada pelo artista e o público consumidor.
O desafio que se colocava agora foi um pouco diferente: se situou ao nível da linguagem, da expressão. E neste sentido, tanto a criatividade do artista quanto a existência de políticas públicas capazes de apoiar, fomentar e financiar tais iniciativas, foi fundamental, como, no caso brasileiro, a Lei Aldir Blanc, cujos resultados apareciam poucas semanas depois da divulgação dos editais.
Nesta primeira semana de 2022 vivemos uma outra experiência: de modo geral, os teatros e cinemas, auditórios e restaurantes e centros de exposição de todo o mundo reabriram e apresentaram, sobretudo no segundo semestre do ano que se findou, evidente interesse por parte das plateias. Embora as salas não pudessem receber a totalidade dos espectadores, os percentuais permitidos foram totalmente ocupados. E as pessoas, de modo geral, respeitaram e cumpriram os protocolos.
O balanço da maior parte das instituições em torno do ano passado é entusiasmante. E, por isso mesmo, voltaram as possibilidades dos patrocinadores, das tournées, das exposições produzidas por um museu poderem ser assistidas pelos públicos de outros. Os programadores dos espaços artísticos descobriram maior facilidade para pensarem este novo ano.
Mas eis que uma nova mutação da Covid 19, aparentemente menos perigosa, mas muito mais transmissível, voltou a provocar pânico. Na Europa, escolas estão voltando a fechar. No Brasil, festas - mesmo ao ar livre - foram canceladas. E se no hemisfério norte o risco é o inverno, que aumenta o risco do contágio, no Brasil o risco é exatamente o mesmo, pelos motivos contrários: o verão - sobretudo um verão em que as pessoas tendem a extravasar, compensando as dificuldades do ano anterior.
Os teatros europeus, novamente na alta temporada, ainda não manifestaram necessidade de cancelamentos de temporadas ou retorno a plateias diminutas. Mas os temores em torno de tais questões voltaram a nos visitar. Nos próximos dias, o Porto Verão Alegre retoma sua tradicional temporada presencial, depois de dois anos de desafios terríveis.
Outros festivais já estão em finalização, assim como as agendas dos principais teatros. Voltaremos aos cancelamentos nos primeiros dias de março? É óbvio que a vacinação é a grande novidade. Mas bastará? Mesmo que no Brasil, e apesar do governo de Brasília, os percentuais sejam significativos, isso será suficiente para a confirmação das novas temporadas?
Eis o medo que nos assola, o novo desafio que precisamos enfrentar nesta abertura de nova temporada.
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