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Teatro

- Publicada em 15 de Outubro de 2021 às 03:00

Grupos precisam compreender melhor a nova linguagem

Antonio Hohlfeldt
A realização do Palco Giratório, que chega a seus 22 anos de existência, por iniciativa do Sesc, depois de suspenso, no ano passado, recebe uma versão totalmente digital neste ano, num total de 17 espetáculos representativos de 13 estados brasileiros. Como tem ocorrido nos últimos anos, o Palco Giratório, como seu nome o indica, faz um giro por todo o Brasil e traz espetáculos da maior parte dos estados brasileiros, de modo que se pode ter um resumo do que se realiza nos palcos do país.
A realização do Palco Giratório, que chega a seus 22 anos de existência, por iniciativa do Sesc, depois de suspenso, no ano passado, recebe uma versão totalmente digital neste ano, num total de 17 espetáculos representativos de 13 estados brasileiros. Como tem ocorrido nos últimos anos, o Palco Giratório, como seu nome o indica, faz um giro por todo o Brasil e traz espetáculos da maior parte dos estados brasileiros, de modo que se pode ter um resumo do que se realiza nos palcos do país.
O Palco Giratório deste ano foi aberto com o espetáculo Vaga carne, concepção, texto e atuação de Grace Passô, hoje, sem dúvida alguma, uma das mais importantes vozes da cena brasileira. Ela reúne perspectivas variadas que englobam a questão do feminino, a questão da negritude mas, sobretudo, a questão da pós-contemporaneidade e as atuais condições de sobrevivência. A dramaturga Grace Passô sempre surpreende e provoca. Neste caso, um animal se encarna no corpo de uma mulher e assim, durante cerca de uma hora, vai conversando com o espectador. O vídeo incluído no festival foi realizado durante uma performance com público e isso, certamente, ajudou à intérprete. Para aquele que assiste ao vídeo, contudo, inclusive porque a câmara, em boa parte, está em primeiro plano ou plano americano, isso não interferiu: a gente se sente muito perto da personagem e a sente quase que dentro da gente, como se cochichasse para cada um. Há um traço histriônico no texto, característica da dramaturga, certo deboche, certa ironia, mas também um aprofundamento significativo das reflexões a respeito da atual condição humana e de nossa sobrevivência. E, ao final, a decisão do animal parece indicar que, apesar de tudo isso, a humanidade ainda pode encontrar saídas para as suas contradições.
Bastante diverso é o universo proposto por Ikuãni, vindo do Acre, com pesquisa, coreografia e performance de Regina Maciel, sintetizando a vida de uma mulher indígena, do nascimento à morte, no meio da floresta. Merecem destaque muito especial, pelos efeitos que provocam e produzem alta dramaticidade, a iluminação de Ivan de Costela e sonoplastia de Núbia Alves. O trabalho da Cia. Teatro da Garatuja, contudo, teve alguns problemas técnicos: ao menos no meu caso, o vídeo trancou muitas vezes, o som não era muito claro e isso, evidentemente, atrapalhou um pouco a fruição do trabalho. Além do mais, do ponto de vista da concepção, parece-me que o trabalho acabou parcialmente frustrado, porque muito antropológico, de um lado e, de outro, pouco coreográfico.
Roda, vindo de Pernambuco, concepção de Christianne Galdino e Rapha Santacruz, este último seu intérprete, é um trabalho ingênuo, relativamente simples, com alguns números de prestidigitação, que busca certa dramatização com uma pretensa plateia a sua volta (a roda mencionada). Para crianças, certamente, pode ser engraçado.
O mesmo problema enfrenta Interior, do Ceará, com dramaturgia de Rafael Martins, que também assina a assistência de direção. Temos duas anciãs que se negam a morrer. Elas se encontram numa espécie de arquibancada enfeitada por fitas coloridas típicas dos ex-votos. O texto carece de unidade, porque salta de um foco para outro, encontrando maior consistência apenas no final. A direção de Yuri Yamamoto não conseguiu sanar este problema, assim como não contornou certas afetações e artificialidades das duas intérpretes, Débora Ingrid (stand by) e Tatiana Amorim, nas suas personificações. Há um bom diálogo com a câmara do videomaker, algumas referências ao público do outro lado da câmara; algumas aproximações entre o tradicional - o interior, algumas artistas importantes dos anos 1950 - com o presente - o uso de pen drives e de smartphones - mas tudo fica sem maior amarração e consequência.
Em síntese, espetáculos-solo, na sua maioria, e com a intermediação da câmara, ao menos estes aqui mencionados, ficaram devendo. Meu sentimento e de que alguns dos grupos ainda não conseguiram compreender plenamente a nova linguagem.
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