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Teatro

- Publicada em 24 de Setembro de 2021 às 03:00

Setecentos anos condignamente celebrados

Antonio Hohlfeldt
Esta coluna tem-se ocupado, fundamentalmente, de espetáculos de artes cênicas, em sentido estrito. O cenário pandêmico em que nos encontramos, porém, fez com que, muitas vezes, aqui registrássemos espetáculos híbridos, mas que estendemos abrirem novos caminhos, em futuro próximo, para esta área de expressão. A coluna de hoje faz uma outra concessão, parcial é verdade, mas importante. Vai-se registrar a estreia, no Theatro São Pedro, da ópera A paixão de Dante, cujo libreto resulta de uma seleção de passagens da primeira parte de A divina comédia, de Dante Alighieri, traduzida pelo escritor José Clemente Pozenato. Este simples conjunto de informações já justificaria este registro, levando em conta que a parceria entre Pozenato e o compositor Vagner Cunha, mais o maestro Antonio Borges Cunha, iniciou-se há cerca de cinco anos, com a transposição do romance O quatrilho, de Pozenato, para a cena, em versão operística. Mais que isso, a presença de um coro numeroso, o cuidado com a estrutura cênica do próprio espetáculo e uma atenção muito especial com a iluminação, criada por Cláudia de Bem e realizada por André Hanauer, faziam pressupor que não era apenas uma ópera em forma de concerto, mas alguma coisa mais.
Esta coluna tem-se ocupado, fundamentalmente, de espetáculos de artes cênicas, em sentido estrito. O cenário pandêmico em que nos encontramos, porém, fez com que, muitas vezes, aqui registrássemos espetáculos híbridos, mas que estendemos abrirem novos caminhos, em futuro próximo, para esta área de expressão. A coluna de hoje faz uma outra concessão, parcial é verdade, mas importante. Vai-se registrar a estreia, no Theatro São Pedro, da ópera A paixão de Dante, cujo libreto resulta de uma seleção de passagens da primeira parte de A divina comédia, de Dante Alighieri, traduzida pelo escritor José Clemente Pozenato. Este simples conjunto de informações já justificaria este registro, levando em conta que a parceria entre Pozenato e o compositor Vagner Cunha, mais o maestro Antonio Borges Cunha, iniciou-se há cerca de cinco anos, com a transposição do romance O quatrilho, de Pozenato, para a cena, em versão operística. Mais que isso, a presença de um coro numeroso, o cuidado com a estrutura cênica do próprio espetáculo e uma atenção muito especial com a iluminação, criada por Cláudia de Bem e realizada por André Hanauer, faziam pressupor que não era apenas uma ópera em forma de concerto, mas alguma coisa mais.
Já registrei, nesta mesma coluna, o trabalho de compositor de Vagner Cunha, em O quatrilho. Neste caso, o compositor se superou e surpreendeu. O andamento lento, como dos caminhantes, ao adentrarem pelo inferno, que se desdobra em quase meia hora de espetáculo, é um tour de force extraordinário, pela sonoridade proposta e pelas dificuldades colocadas aos intérpretes, tanto os músicos, quanto os cantores. Por outro lado, o final da obra, quando aos solistas se somam outros três sopranos, aliás, de excelente qualidade e de registros precisos, claros e fortes, que se impuseram à orquestra, dão á composição um tom grandiloquente, emocionado, contagioso mesmo, quebrado, porém, repentinamente, pela flauta que encerra a obra. A isso se chama imaginação musical do compositor e Vagner Cunha evidenciou ter esta qualidade.
Quanto aos intérpretes, a orquestra liderada pelo maestro Cunha foi precisa, de maneira constante, inclusive nos momentos mais doces e pianíssimos, na concretização dos ritmos propostos pela partitura. O regisseur, de seu lado, embora tivesse a partitura à sua frente, raramente a consultava, pois dominava toda a composição, inclusive atento às entradas dos solistas. Ou seja, a combinação era perfeita. O tenor Flávio Leite tem um timbre excepcional, pela musicalidade e clareza, mas carece de alguma projeção de voz, o que ficou evidente em algumas passagens em que a orquestra soava mais forte. Talvez ele precisasse usar algum microfone de lapela que lhe facilitasse a tarefa. Leite viveu o poeta Dante com sentimento e simplicidade. O barítono Carlos Rodriguez incorporou a figura do poeta Virgílio. Sua amplitude de registro é excelente e, neste sentido, deu conta do recado. O soprano Paola Bess interpretou Beatriz, a musa do poeta. Ela tem uma voz muito bonita, forte, com excelente amplitude e projeção, e quando ocupou seu espaço sempre cumpriu com a tarefa. Ao final, como destaquei, outro soprano - Elisa Lopes, com enorme dramaticidade - interpreta Francesca, complementada, ao término da obra, pelas ninfas Carla Knijnik e Carina Fick, outros dois excelentes sopranos. Ficamos querendo ouvir mais dessas intérpretes, tal o impacto que causam na plateia.
O espetáculo compunha-se, além da orquestra, formada por músicos selecionados pela equipe e ainda pelos violoncelistas da Orquestra Jovem Recanto, pelo numeroso Coral Madrigal Presto, além de solistas convidados. A direção geral do espetáculo, de Cláudia Carrara, com produção de Isadora Aquini, evidencia um esforço imenso em consolidar o projeto e uma dedicação admiráveis para concretizar o trabalho. Mais que um concerto, por isso mesmo, o que já seria impressionante, A paixão de Dante revelou-se, em suas mais de duas horas de duração, um espetáculo que, especialmente se levarmos em conta o momento de pandemia, traduz paixão, como seu título indica pela arte, e especialmente pela música operística. Graças a esta equipe, os 700 anos de Dante Alighieri não passaram em silêncio entre nós.
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