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Teatro

- Publicada em 13 de Novembro de 2020 às 03:00

Experimentos e descobertas

Antonio Hohlfeldt
O 27º Porto Alegre em Cena terminou há 15 dias, mas seus espetáculos e propostas ainda reverberam. Por isso mesmo, registro mais alguns comentários a respeito de espetáculos a que assisti e, em especial, tento chegar a algumas conclusões abrangentes a respeito do que podemos aprender com esta mostra. Numa nova linha inaugura no ano passado, o festival manteve-se fiel à política de escolher um tema como condutor da seleção dos espetáculos. Neste ano, com muito mais motivos. Assim, Corpo futuro presente permitiu a produção de uma revista de altíssima qualidade, para ser lida cuidadosamente, porque propicia múltiplas reflexões.
O 27º Porto Alegre em Cena terminou há 15 dias, mas seus espetáculos e propostas ainda reverberam. Por isso mesmo, registro mais alguns comentários a respeito de espetáculos a que assisti e, em especial, tento chegar a algumas conclusões abrangentes a respeito do que podemos aprender com esta mostra. Numa nova linha inaugura no ano passado, o festival manteve-se fiel à política de escolher um tema como condutor da seleção dos espetáculos. Neste ano, com muito mais motivos. Assim, Corpo futuro presente permitiu a produção de uma revista de altíssima qualidade, para ser lida cuidadosamente, porque propicia múltiplas reflexões.
De outro lado, a seleção dos espetáculos teve maior liberdade de proposição, eis que, de modo geral, tudo era experimentação e indagação. A ênfase sobre o corpo abriu dois caminhos importantes: o caminho físico, por exemplo, discutindo a condição étnica, em especial as marginalização a que são condenados os negros em nosso País, mas, ao mesmo tempo, transformando esta discussão numa perspectiva social, que é o segundo caminho. Assim, Corpos ditos reuniu falas diversas de personalidades negras a partir de uma constatação irônica e, por isso mesmo, chocante: "Existe um lugar onde estão reunidas todas as pessoas de grande potencial. Este lugar é o cemitério". Com Bruno Cardoso, Camila Falcão, Kyky Rodrigues, Laura Lima, Manuela Miranda e Thiago Pirajira, o espetáculo de Bruno Fernandes e Silvana Rodrigues teve edição de imagem de Marina Kerber e Macumba Lab, com fotografia de Anelise De Carli, prendendo a atenção do espectador do primeiro ao último minuto, com excelente articulação entre imagens propriamente ditas e a edição/combinação dessas imagens.
Outro trabalho interessante, neste sentido, foi o que encerrou a mostra, Mini ball Coisa de pretes - Paê no (cis)tema, que improvisa performances com participantes de todo o Brasil, online, graças à potencialidade das tecnologias de informação, em homenagem à Nêga Lu, uma pioneira da luta dos negros homossexuais em nossa cidade e no País (que conheci, aliás, como solista do Coral da Ufrgs, pois possuía um timbre de baixo extraordinário).
Ao mesmo tempo, abriu-se espaço para experimentos variados, como As I collapse (Quando eu colapso), uma instalação corporal da coreógrafa/bailarina Tina Tarpaard, propondo analogias entre o corpo humano e a alga conhecida como Pyrocystis Fusiformis. A intérprete, bailarina Camila Ferraz, adota postura de yoga, não se movimenta como numa coreografia tradicional, mas com o auxílio de imagens coreografa partes de seu corpo. Nem sempre gostei do texto de Ida Marie Hede e Nelly Zagora, de que discordei em algumas passagens, mas a concepção do espetáculo, que dura cerca de meia hora, e a interpretação de Camila Ferraz são admiráveis.
Outro trabalho curioso, divertido, criativo, provocativo - e que foi mostrado apenas em parte, porque não está concluído - foi a audionovela - assim foi apresentada pelo grupo - Só tem um problema nesse amor. Trata-se literalmente de uma radionovela, como se diria antigamente, que promove uma paródia da história de Romeu e Julieta, consagrada por William Shakespeare, deslocada para Porto Alegre, num momento de Carnaval. A heroína Celina vem do interior para fazer vestibular. Mas seu sonho é desfilar numa escola de samba. Ocorre que sua tia, em casa de quem ficará albergada, é presidente de uma escola, tradicional adversária de uma outra, com a qual mantém rivalidade antiga e que vai dificultar o relacionamento da jovem com Wesley Calderón, seu apaixonado admirador. Brincando com as alusões reais ao contexto porto-alegrense, tipo as referências à construtora Negostein (Goldsztein), o desfile ocorre na Jorge de Leiteiros (Borges de Medeiros), e o estado é o Brooklin Grande do Sul. A parte apresentada foram os dois primeiros capítulos, com espaços publicitários, um promovendo o "Café Negão", verdadeiramente hilariante. Celina, por exemplo, é quase atropelada por uma ala de 66 baianas de uma escola, justamente aquela que é a adversária do grupo de sua tia. E Wesley é chamado de "meu Simba" (alusão ao desenho animado da Disney, O rei leão, por uma admiradora. Verdadeiro achado dramático, lembrou-me a criatividade da peça A maldição do Vale Negro que, há muitos anos, Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes propuseram, com enorme sucesso, em nossos palcos. Foi divertido e deixou expectativas para seu desdobramento.
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