Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 05 de Junho de 2020 às 03:00

A história do Grupo Galpão

Antonio Hohlfeldt
No último Porto Alegre em Cena, tivemos a oportunidade de reencontrar um referencial do teatro brasileiro, o Grupo Galpão, de Belo Horizonte. Além do espetáculo, eles traziam DVDs de alguns de seus trabalhos e um livro, assinado por Eduardo Moreira, ator e diretor e um dos fundadores do conjunto mineiro. Por que comprei o livro? Primeiro, porque gosto de enriquecer minha biblioteca sobre teatro, já que escrevo e trabalho com o tema. Segundo, porque estes livros que contam histórias de grupos ou de artistas são sempre referenciais: é difícil você narrar uma história desse tipo sem, ao mesmo tempo, relacioná-la com o contexto cultural em que as coisas acontecem. Terceiro, porque eu próprio tenho coordenado ou escrito alguns livros do tipo, e a gente tem sempre oportunidade de aprender alguma coisa ou de descobrir novidades.
No último Porto Alegre em Cena, tivemos a oportunidade de reencontrar um referencial do teatro brasileiro, o Grupo Galpão, de Belo Horizonte. Além do espetáculo, eles traziam DVDs de alguns de seus trabalhos e um livro, assinado por Eduardo Moreira, ator e diretor e um dos fundadores do conjunto mineiro. Por que comprei o livro? Primeiro, porque gosto de enriquecer minha biblioteca sobre teatro, já que escrevo e trabalho com o tema. Segundo, porque estes livros que contam histórias de grupos ou de artistas são sempre referenciais: é difícil você narrar uma história desse tipo sem, ao mesmo tempo, relacioná-la com o contexto cultural em que as coisas acontecem. Terceiro, porque eu próprio tenho coordenado ou escrito alguns livros do tipo, e a gente tem sempre oportunidade de aprender alguma coisa ou de descobrir novidades.
Grupo Galpão - Uma história de encontros está bem pensado em sua conceituação, e isso já transparece no título, quando se refere aos "encontros". Desdobra-se na organização: além da narrativa seguir cronologicamente a história do grupo, cada capítulo está centrado num determinado personagem, começando com o ator - que então se torna diretor - argentino, na época exilado no Brasil, Fernando Linares.
O Grupo Galpão surgiu em 1982, ainda em plena ditadura, num contexto que, como evidencia Moreira, muito se aproxima do que Porto Alegre também vivia: uma certa efervescência cultural, um bom número de grupos dramáticos, mas tudo sem qualquer horizonte de sobrevivência. Uma carreira de ator ou de atriz significaria deixar a Capital, seguindo para o Rio de Janeiro, prioritariamente ou, eventualmente, São Paulo. Isso significa dizer que muitos surgiam, mas poucos sobreviviam, depois de uns poucos espetáculos. Pois o Galpão começou a se organizar justamente para ultrapassar esta vulnerabilidade.
Artisticamente, desde o início, os integrantes tinham preocupações evidentes com a pesquisa sobre as linguagens dramáticas e as inovações cênicas. Iam do teatro de rua ao de bonecos, passando pelo mais tradicional espetáculo do teatro italiano. Essa multiplicidade que, de um lado, poderia sugerir falta de organização, por outro, permitiu experimentações produtivas, formação de repertório e, por consequência, melhores alternativas de sobrevivência, nos anos que se seguiram ao da fundação. Deve-se igualmente destacar que o sucesso dos espetáculos do Grupo Galpão levou o conjunto a festivais, o que, depois, provocou no próprio agrupamento a decisão de organizar seus próprios festivais. E assim a história foi-se fazendo, ampliando e enriquecendo, aumentando, em muito, os horizontes iniciais do coletivo. E digo coletivo propositadamente, porque, como escreve Moreira, desde os primeiros anos, o Grupo Galpão sempre tendeu a um trabalho eminentemente coletivo, o que nem sempre deu certo, mas se tornou uma espécie de sua identidade.
O livro passa por figuras icônicas da história do grupo, assim como os aprendizados e experiências referenciais, como as máscaras da commedia dell'arte de Ariel Genovese, as oficinas com Aderbal Freire-Filho, as direções de Ulysses Cruz ou Gabriel Villela, Cacá Carvalho e Paulo José ou Paulo de Moraes, na sua primeira parte. Na segunda, a obra vai se desdobrar por um outro caminho, focalizando, sucessivamente, o público, as viagens, os festivais, os grupos de teatro, além dos diferentes aspectos dos próprios espetáculos, como trilhas sonoras, dramaturgia, a importância das percepções do corpo, figurinos, cenários, iluminação e som, chegando os últimos capítulos a indicar todos os desdobramentos que as conquistas do Grupo Galpão permitiram, inclusive a constituição do Centro de Pesquisa e Memória, que coordenou a concretização do livro.
A publicação da obra, em 2010, assim como as próprias atividades do Grupo Galpão, ao longo dos anos, contou com o apoio da Petrobras (que, aliás, também patrocinava o Grupo Corpo, de dança, igualmente de Belo Horizonte). Não sei o que acontece neste exato momento com o conjunto, diante da reorientação da atual administração federal em relação a tais ações. Mas, por isso mesmo, ler e refletir sobre a história desta instituição é um excelente momento para se refletir a respeito do verdadeiro desserviço a que se está condenando o País. Pensava nisso, inclusive, no último domingo, quando assisti ao vídeo do show de luzes que a administração de Paris produziu na reabertura da Torre Eiffel para visitas turísticas... Quando teremos políticas públicas que evidenciem tais sensibilidades?
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO