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Teatro

- Publicada em 08 de Maio de 2020 às 03:00

O dramaturgo Cervantes

Antonio Hohlfeldt
Em 2016, quando se completavam 200 anos da morte de Cervantes, já tive a oportunidade de escrever uma coluna a respeito da dramaturgia deste extraordinário escritor espanhol que é, obviamente, muito mais conhecido por seu A história do engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, publicado entre 1605 e 1615 e que se considera, de modo geral, a obra fundadora do gênero romance no mundo ocidental, o que não é pouca coisa. O texto de Cervantes sempre consta entre os primeiros títulos de qualquer lista de livros obrigatórios de serem lidos ou das obras mais importantes da literatura ocidental. Aliás, em 2000 a obra foi considerada a mais importante criação de ficção de todos os tempos.
Em 2016, quando se completavam 200 anos da morte de Cervantes, já tive a oportunidade de escrever uma coluna a respeito da dramaturgia deste extraordinário escritor espanhol que é, obviamente, muito mais conhecido por seu A história do engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha, publicado entre 1605 e 1615 e que se considera, de modo geral, a obra fundadora do gênero romance no mundo ocidental, o que não é pouca coisa. O texto de Cervantes sempre consta entre os primeiros títulos de qualquer lista de livros obrigatórios de serem lidos ou das obras mais importantes da literatura ocidental. Aliás, em 2000 a obra foi considerada a mais importante criação de ficção de todos os tempos.
Contudo, Cervantes não foi apenas romancista. Na verdade, foi, antes e constantemente, um guerreiro. Participou de batalhas as mais variadas, sendo ferido por diversas vezes e ficando inclusive prisioneiro, como refém, durante alguns anos, antes de ser resgatado. Neste sentido, uma obra autobiográfica do escritor seria quase tão aventureira quanto a de Dom Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança, sobre os quais já se usou muito papel e se gastou muita tinta. O nome do personagem popularizou-se de tal modo que se tornou referência: ser um Dom Quixote é brigar contra as adversidades às quais parece ser possível vencer, é ser um sonhador e um idealista.
Mas Miguel de Cervantes Saavedra foi também um hábil e produtivo dramaturgo, só não encontrando maior fama neste campo por dois motivos: estava vivendo no chamado Século de Ouro do teatro espanhol, que tinha como seus principais dramaturgos ninguém mais do que Lope de Vega e Calderón de la Barca, dentre outros. Cada um destes produziu centenas de obras que eram imediatamente encenadas e popularizadas nos espetáculos dos corrales espanhóis. Os corrales eram as áreas internas de estalagens de beira de estrada, distribuídas por todo o país, onde os viajantes se instalavam para descansar ou fazer suas refeições, e que podiam ser rapidamente transformadas em espaços para encenações de teatro, sendo as janelas e portas aéreas do estabelecimento as arquibancadas de onde o publico assistia aos espetáculos.
O segundo desafio enfrentado por Cervantes é que, por ser um guerreiro, estava quase sempre em viagem e, portanto, não possuía um grupo de teatro, composto por atores e atrizes que encenassem seus textos. Assim, dependia da boa vontade de outros grupos, enquanto Lope e Calderón possuíam suas próprias companhias. Cervantes bem que tentou: em vários dos prefácios às peças que escreveu ou mesmo no desenvolvimento de suas tramas, queixa-se da situação e tenta desenvolver uma teoria dramática mais moderna e que avançasse em relação aos colegas de ofício, mas foi, em vida, relativamente pouco reconhecido.
Um terceiro motivo, contudo, e mais importante, é o simples fato de ter se tornado de tal modo famoso com seu romance, que poucos queriam perder tempo com seus contos ou suas peças. Se ele escreveu um inolvidável romance, também produziu novelas e contos, como se disse, e na dramaturgia produziu especialmente na linha do que então se denominava de comédia nova, isto é, peças sobre os costumes espanhóis de então, como o são El gallardo español, El labirinto de amor ou El colóquio de los perros. No Brasil, são bastante conhecidas a peça O cerco de Numancia, em que ele recupera sua experiência militar, tendo participado deste episódio que recria, ou O retábulo das maravilhas, obra poética, muito bonita, e que tem atravessado os séculos encantando as plateias que a assistem.
O que pouca gente sabe, contudo, e já registrei isso em 2016, é que nosso tão popular Pedro Malasartes é criação de Cervantes, sob a denominação de Pedro Urdemales (ao pé da letra, Pedro Criador de Maldades). Trata-se de um tipo marginal, que desconhece sua origem, que vive de expedientes e depende de sua esperteza para sobreviver. Este personagem ganhou o mundo (Pierre Marche à Pied, na França), passando pela Rússia, Alemanha e chegando ao Brasil através de Portugal.
Romancista, contista ou dramaturgo: Cervantes foi, sempre, um criador, lembrando-se que, na dramaturgia, desenvolveu a forma do entremês, pequeno texto a ser encenado nos intervalos, antes ou depois dos grandes espetáculos (a palavra original do francês medieval - entre messe - entre as tarefas da colheita) indica um trabalho leve e alegre, mas no qual Cervantes se tornou também um mestre. Em suma, qualquer coisa que se queira falar a respeito de Cervantes sempre o será grande, porque ele foi grande.
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