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Teatro

- Publicada em 09 de Abril de 2020 às 03:00

Sim, o teatro ainda existe entre nós!!!

Antonio Hohlfeldt
Nestes tempos de desalento quanto à possibilidade de circulação ao vivo dos mais variados trabalhos culturais, temos sido salvos pelas tecnologias e pelas redes sociais, resgatando material arquivado, muitas vezes esquecido, ou "descobrindo" antigas produções que ganham outro sentido neste momento difícil ou servem, inclusive, para uma reavaliação de grupos e de artistas os mais variados. Tive, no entanto, nesta última quinzena, uma experiência ao mesmo tempo entusiasmadora e emocionante, ao acompanhar o desenvolvimento do edital de seleção para os espetáculos que virão a ocupar o Instituto Ling, num futuro, esperamos, o mais breve possível.
Nestes tempos de desalento quanto à possibilidade de circulação ao vivo dos mais variados trabalhos culturais, temos sido salvos pelas tecnologias e pelas redes sociais, resgatando material arquivado, muitas vezes esquecido, ou "descobrindo" antigas produções que ganham outro sentido neste momento difícil ou servem, inclusive, para uma reavaliação de grupos e de artistas os mais variados. Tive, no entanto, nesta última quinzena, uma experiência ao mesmo tempo entusiasmadora e emocionante, ao acompanhar o desenvolvimento do edital de seleção para os espetáculos que virão a ocupar o Instituto Ling, num futuro, esperamos, o mais breve possível.
Como o edital exigia que o grupo/artista proponente tivesse sua sede social no Rio Grande do Sul, o conjunto de propostas apresentadas acabou abrindo espaço para grupos de Pelotas, Caxias do Sul, Novo Hamburgo e Santa Maria, por exemplo, que guardam certa tradição de produção nas artes cênicas no Estado e têm trazido excelentes contribuições a este panorama. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, o edital acabou recebendo 69 propostas para espetáculos dirigidos ao público adulto e 18 para espetáculos dirigidos às crianças, com toda a sua multiplicidade de ideias.
Só estes números são absolutamente surpreendentes! Mas, mais que isso, a leitura dos projetos apresentados provoca entusiasmo e emoção ao verificarmos o grau de criatividade, persistência e variedade que encontramos num conjunto muito amplo de realizadores, reunindo diretores, dramaturgos, atores e atrizes, compositores de trilhas sonoras, cenógrafos, iluminadores, figurinistas... Enfim, uma gama imensa de artistas no meio dos quais começamos a vislumbrar novas gerações, recém-formadas pelo Departamento de Arte Dramática da Ufrgs, pelo curso da Uergs de Montenegro, por cursos livres que existem em várias cidades, notadamente em Porto Alegre, evidenciando uma pujança e uma dinamicidade extraordinárias na nossa cena teatral.
Chama a atenção, ainda, a tendência fortemente inovadora dos projetos na mescla de linguagens, o que me parece um corolário da renovação de gerações. Os jovens não se limitam mais apenas a encenações clássicas, por melhores que elas possam ser, mas querem misturar tecnologias e performances cênicas, atores ao vivo com projeções de imagens que aumentam a dinamicidade do espetáculo etc. Outro dado importante é a preocupação com o contexto que esta dramaturgia apresenta: questões de gênero, questões vinculadas ao próprio contexto de pandemia que atravessamos, os desafios de aceite em relação às diferenças e aos diferentes, a valorização da criança enquanto ser autônomo em específico, o reconhecimento das diversas gerações, a importância das experiências de vida.
De modo geral, posso acompanhar, pelo espaço desta coluna, que reparto com os leitores do Jornal do Comércio, aquilo que chega à produção, que encontra a luz do palco. Mas depois desta experiência de ler quase 90 projetos para espetáculos os mais variados, fico imaginando a potencialidade de concretização que temos, se maior apoio e mais espaço dispuséssemos. Daí a importância de um edital como este do Instituto Ling. Nos anos 1970, apesar da ditadura militar e mau grado toda a censura, havia concursos de dramaturgia e possibilidades de editoração de textos, sobretudo através do Serviço Nacional do Teatro. Até recentemente, a prefeitura de Porto Alegre mantinha um concurso de dramaturgia, o Prêmio Carlos Carvalho que, se não garantia a montagem do vencedor, ao menos editava os textos finalistas... O que temos, agora? Quanto aos espaços, quantos teatros temos fechados atualmente, por força da necessidade de obras (exceptualizada a situação específica que atravessamos nestas semanas...)? E em que condições de poderem efetivamente receber produções e atender às demandas de nossos grupos?
Em meio a tantos desafios e dificuldades, quero deixar aqui um depoimento: temos, sim, e muita, muita gente fazendo e querendo fazer teatro. Com projetos maravilhosos (o difícil é sempre selecionar quais), absolutamente merecedores de apoio, de espaço e de serem conhecidos. Ao menos isso. Apesar de tudo. Que bom!
 
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