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Teatro

- Publicada em 13 de Setembro de 2019 às 03:00

Imagens de um insano cotidiano

A palavra 'frame", no inglês, quer dizer "invenção", "armação", no sentido de criação de uma imagem. F.R.A.M.E.S., do dramaturgo Diones Camargo, é um pouco isto: embora recriado enquanto uma sigla, na verdade mantém o sentido original da palavra inglesa. Assim, o texto propõe e o espetáculo busca concretizar um conjunto de imagens aparentemente desconexas que, em sua fragmentação, apresentam um conjunto de imagens a respeito da sociedade contemporânea.
A palavra 'frame", no inglês, quer dizer "invenção", "armação", no sentido de criação de uma imagem. F.R.A.M.E.S., do dramaturgo Diones Camargo, é um pouco isto: embora recriado enquanto uma sigla, na verdade mantém o sentido original da palavra inglesa. Assim, o texto propõe e o espetáculo busca concretizar um conjunto de imagens aparentemente desconexas que, em sua fragmentação, apresentam um conjunto de imagens a respeito da sociedade contemporânea.
O núcleo do enredo - se é que existe um núcleo - é o fato de a casa de um escritor ter sido invadida e seus escritos roubados e/ou destruídos. Em torno dele, uma série de personagens vivem situações variadas que se alternam na cena em sucessões não cronológicas: a conferencista a respeito do significado do amor; a garçonete que não compreende seus clientes; uma equipe de filmagens que não alcança a concretização do filme, etc.
F.R.A.M.E.S. é, neste sentido a metáfora do universo contemporâneo, descosido e sem sentido, mas que, em sua fragmentação, é um fiel reflexo da realidade imediata. Para a realização do espetáculo, a partir do texto de Camargo, o diretor Carlos Ramiro Fensterseifer e a diretora Liane Venturella reuniram um elenco de 13 atores, alguns dos quais bastante conhecidos, como Elison Couto e Fernanda Petit. Camargo ganhou destaque, no ano passado, com a autoria da peça A mulher arrastada - este novo texto nada tem a ver com aquela dramaturgia e evidencia a criatividade do autor. Liane responde pela direção dos atores - talvez o aspecto mais evidente do espetáculo, pela multiplicidade de cenas e o ritmo alucinante de sua sucessão - enquanto Carlos Ramiro assina a direção geral. O resultado é uma espécie de trama multifacetada, meio incongruente, mas que cativa e prende a atenção do espectador ao longo das quase duas horas de encenação.
A coreografia de Raul Voges procurou dar leveza ao movimento dos atores em cena; a cenografia de Valeria Verba e de Sheila Marafon buscou compor os múltiplos espaços cênicos com elementos variados que vão de uma simples mesa de madeira nua a espelhos de grandes dimensões que pretendem refletir os atores/personagens; os figurinos do próprio diretor são variados, bem coloridos e dão uma boa dinâmica ao espetáculo. Por fim, a trilha sonora de Ian Ramil garante a variedade de tonalidades das diferentes cenas, de modo a permitir-lhes diferentes ritmos de desenvolvimento. Em suma, trata-se de uma equipe extremamente bem afinada, que enfrenta, inclusive, a dupla dificuldade de apresentar-se no reduzido espaço da Galeria La Photo, utilizando, ao mesmo tempo, como camarins, outro espaço lateral, visível ao público, de modo que as trocas de figurinos e a alternância de cenas precisam ser realizadas com eficiência e sem qualquer titubeio, sob pena de quebrar completamente o espetáculo.
No que toca ao elenco, houve uma preocupação quanto ao conjunto sem maiores destaques para este ou aquele intérprete. Mas a figura da conferencista acaba por centralizar a atenção de todos, quer pela situação que apresenta, quer por sua interpretação hilária. No mais, ressalta-se, de fato, a ideia do coletivo, pois muitas vezes ocorrem cenas mínimas, que exigem, contudo, a concentração do ator para suas entradas e saídas ou troca de adereços em cena, o que foi feito sob absoluto rigor.
Liane Venturella, como diretora, tem-se destacado pelas múltiplas e diferentes propostas que assina. Quando a Carlos Ramiro Fensterseifer, seu trabalho sempre se coloca como uma quebra de paradigma do espetáculo mais tradicional. A junção de ambos os realizadores resulta, em última análise, neste desafio que muito apropriadamente a Fábrica da Experiências Cênicas traz ao público, com o melhor resultado, pois, mesmo em se levando em conta o espaço restrito da alegria, é motivo de regozijo que todas as sessões do espetáculo tenham alcançado a absoluta lotação do espaço - assim como o recente espetáculo 2068 também teve o mesmo resultado, no Instituto Ling, o que evidencia que a diretora Liane Venturella alcançou um bom crédito junto ao público local.
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