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Teatro

- Publicada em 02 de Agosto de 2019 às 03:00

O espetáculo presente do futuro

História do futuro, de Antonio Vieira, foi editada pela primeira vez em 1718, a que se seguiram mais seis edições, uma das quais, a de 1982, da Casa da Moeda de Lisboa, é a que consulto. Mas o texto já circulava em Portugal, tendo valido a seu autor a prisão, por ordem da Inquisição, em 1665 e a condenação, em 1667. O diretor e ator Caco Coelho revela que há cerca de 20 anos tinha vontade de transformar este difícil e relativamente pouco conhecido texto do sacerdote jesuíta em espetáculo, sonho de que participava o ator Lima Duarte, que tem importante intervenção na montagem. Pois em 2018, 300 anos depois do lançamento da obra, o espetáculo começou a se concretizar, resultando neste trabalho que cumpriu uma primeira temporada no teatro do Centro Histórico-Cultural da Santa Casa.
História do futuro, de Antonio Vieira, foi editada pela primeira vez em 1718, a que se seguiram mais seis edições, uma das quais, a de 1982, da Casa da Moeda de Lisboa, é a que consulto. Mas o texto já circulava em Portugal, tendo valido a seu autor a prisão, por ordem da Inquisição, em 1665 e a condenação, em 1667. O diretor e ator Caco Coelho revela que há cerca de 20 anos tinha vontade de transformar este difícil e relativamente pouco conhecido texto do sacerdote jesuíta em espetáculo, sonho de que participava o ator Lima Duarte, que tem importante intervenção na montagem. Pois em 2018, 300 anos depois do lançamento da obra, o espetáculo começou a se concretizar, resultando neste trabalho que cumpriu uma primeira temporada no teatro do Centro Histórico-Cultural da Santa Casa.
Todo esse antecedente justificava uma expectativa muito forte em relação ao espetáculo. Lembrando que o texto do Padre Antonio Vieira tem mais de 300 páginas, uma performance de cerca de uma hora de duração é um extraordinário desafio. O que escolher, o que deixar de fora, como ler o texto profético, bastante enigmático - como era comum nos trabalhos do grande pregador - aproximando-o do presente? O quê, afinal e de fato, haveria entre aquela época e a contemporaneidade? Como trazer todas estas questões num espetáculo que, ao mesmo tempo, fosse comunicativo para o público atual?
A equipe mobilizada por Caco Coelho é impressionante. Não só a participação, através de vídeo, de Lima Duarte, quanto a direção cênica do bailarino Eduardo Severino, a supervisão de direção da atriz e diretora Vera Holz e o grupo tecnológico, que inclui Jana Castoldi (projeção mapeada, perfeita, encaixando-se exatamente nossa espaços e no corpo do ator), Eduardo Kramer e Guto Greca (iluminação - elemento absolutamente fundamental e executado com absoluta perfeição ao longo de todo o trabalho), Rodrigo Shalako (cenotécnica que relembra indiretamente o espaço de bordo de uma embarcação em meio ao oceano, conforme a projeção inicial em que o barco corta um mar relativamente encapelado), Mariane Collovini (figurino), Renato Velho e Dryko Oliveira (trilha sonora). Reconheça-se que raras vezes houve uma mobilização assim tão grande, sobretudo levando-se em conta, como revela o adaptador do roteiro e ator Caco Coelho, que não houve nenhum financiamento para a produção, assinada pela excelente atriz Gisela Sparremberger, para a Tradeberger Cultural. O texto clássico encontra um espetáculo de vanguarda.
Caco Coelho tem ideias e convicções. Enquanto artista do palco, é um militante do que considera o ideal democrático. Sua adaptação de História do futuro é exatamente isso, um trabalho de extrema fidelidade a seu autor, que tanto se distancia do texto original quanto é capaz de distendê-lo até onde entendeu o adaptador, para dizer o que pretendia expressar. O texto original está organizado em três grandes blocos, de que Caco Coelho tirou o que lhe pareceu essencial - por exemplo, o Livro Anteprimeiro e o final do Livro Primeiro, quando Vieira se refere aos antípodas do reino da Etiópia, entendendo-o como sendo o Brasil. Há passagens específicas, no texto de sacerdote, quando ele se refere aos "maranhões" como espécies de demônios, usurpadores de riquezas, responsáveis pelo morticínio dos índios, dizimação de bens naturais etc.
É a partir destas ideias que Caco Coelho constrói seu trabalho. De Vieira, fica relativamente pouco, a não ser este tom oratório e profético, quase apocalíptico com que o ator apostrofa os atuais exploradores e mandatários do país. Se Vieira era um pregador exímio, Caco Coelho é um polemista provocador. O espetáculo é bonito, visualmente, mas pouco congruente na imagem profética do personagem. É um espetáculo pessoalíssimo e, neste sentido, ou se gosta ou não se gosta. Fiquei fascinado, mesmo que não concorde com um sem número de soluções trazidas no seu desenvolvimento. Licenças poéticas que precisam ser respeitadas. De qualquer modo, é um trabalho importante, porque quebra a rotina de nossas produções, ousa propor ideias e discussões, provoca debates e discute o presente.
P.S.: Na crítica sobre Merda!, de duas semanas atrás, devo fazer uma correção: onde escrevi Paulo Olivo, responsável pelo figurino e o cenário, leia-se Paula Olivo. Dedinho travesso errou na digitação. A Paula merece a correção.
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