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Teatro

- Publicada em 26 de Julho de 2019 às 03:00

De volta à excelente atriz

A estreia de Diário secreto de uma secretária bilíngue, de Vinicius Piedade e Deborah Finocchiaro, com direção do primeiro e interpretação solo da segunda, é uma excelente oportunidade - na verdade, uma imperdível oportunidade - de a gente se reencontrar com a atriz Deborah Finocchiaro. Para quem se sinta surpreso com a afirmação, diante do sem-número de espetáculos que a atriz tem apresentado em cena, sucessivamente, quero explicar: Deborah Finocchiaro é essencialmente uma atriz cômica. Suas últimas incursões têm-se dado no universo do espetáculo poético, diga-se de passagem, com excelentes resultados; recentemente, ela viveu o universo de GPS Gaza, importante trabalho vinculado à denúncia sobre o Oriente Médio. Deborah é, hoje, uma das artistas mais completas de nossos palcos: preocupa-se em guardar em documentários de vídeo todos os seus trabalhos; registra-os em DVDs, grava pequenos vídeos para o YouTube a respeito de poesia, e assim por diante. Deborah Finocchiaro, por certo, não pode se queixar de marasmo ou falta do que fazer. Mas eu tinha saudades da atriz de comédias, e reencontrei-a neste Diário secreto, que é cômico, mas é amargo, também.
A estreia de Diário secreto de uma secretária bilíngue, de Vinicius Piedade e Deborah Finocchiaro, com direção do primeiro e interpretação solo da segunda, é uma excelente oportunidade - na verdade, uma imperdível oportunidade - de a gente se reencontrar com a atriz Deborah Finocchiaro. Para quem se sinta surpreso com a afirmação, diante do sem-número de espetáculos que a atriz tem apresentado em cena, sucessivamente, quero explicar: Deborah Finocchiaro é essencialmente uma atriz cômica. Suas últimas incursões têm-se dado no universo do espetáculo poético, diga-se de passagem, com excelentes resultados; recentemente, ela viveu o universo de GPS Gaza, importante trabalho vinculado à denúncia sobre o Oriente Médio. Deborah é, hoje, uma das artistas mais completas de nossos palcos: preocupa-se em guardar em documentários de vídeo todos os seus trabalhos; registra-os em DVDs, grava pequenos vídeos para o YouTube a respeito de poesia, e assim por diante. Deborah Finocchiaro, por certo, não pode se queixar de marasmo ou falta do que fazer. Mas eu tinha saudades da atriz de comédias, e reencontrei-a neste Diário secreto, que é cômico, mas é amargo, também.
A personagem é uma secretária bilíngue, como indica o título, beirando os 50 anos de idade, e que é convocada a treinar uma jovem recém-chegada, sem se dar conta, num primeiro momento, que está preparando sua própria substituta. O espetáculo, de pouco mais de uma hora de duração, é uma oportuna reflexão a respeito do atual contexto de desrespeito com os anos de dedicação dos profissionais, dos mais diversos ramos, às empresas em que atuaram, sendo, em algum momento, simplesmente descartados, como objetos velhos e inúteis.
O texto de Vinicius Piedade e da própria atriz permitem-lhe a exploração a melhor possível de suas capacidades. Deborah Finocchiaro é uma grande atriz, e a simplicidade aparente com que trabalha a versatilidade das diferentes situações bem o evidencia. Acho que o texto é um pouquinho comprido demais e repetitivo, mas isso será sentido pela própria equipe, à medida em que o espetáculo for sendo apresentado, até chegar ao timing ideal da encenação. A trilha sonora de Gigi Magno auxilia na criação dos climas e mudanças de cena, a partir de uma ambientação simples, mas eficiente, de Rafael Silva, que também assina os figurinos. A iluminação de Fabrício Simões faz boas transições de tempo e garante o ritmo do trabalho. De todo esse conjunto harmonioso, resulta um trabalho equilibrado, em que todos os elementos da performance estão seguros, com destaque especial para a própria atriz.
A direção de Vinicius Piedade tem a qualidade de ser atenta a detalhes, dispensando, assim, a palavra e a explicação óbvia. É na cena, é na sua ação dramática que a personagem deve se definir e se apresentar/identificar para o espectador. E isso ocorre às maravilhas neste trabalho. O detalhe de entrada: o guarda-chuva e a água pingada sobre o mesmo; a preocupação em arrumar a mesa; a ironia disfarçada de simpatia humana com que se dirige à jovem iniciante, cada passagem é uma evidência desta atenção e da boa compreensão do que seja a arte do teatro. Para além disso, o desafio que a atriz tem, por ser um trabalho solo, de dominar o espaço cênico. Daí a importância da movimentação em cena: não há que andar gratuitamente, mas o movimento deve ilustrar ou mesmo substituir a palavra. Os momentos em que a personagem roda por todo o espaço da sala, por exemplo; ou as interrupções dos pretenso diálogos com os espectadores, para cumprimentar um dos chefes ou atender às ligações telefônicas, são bem exemplo disso que estou dizendo: para cada momento, uma entonação diversa, mostrando que também na cotidianidade o sujeito põe suas máscaras e vivencia seus papéis dramáticos.
Diário secreto de uma secretária bilíngue dá continuidade, assim, a uma vitoriosa carreira de Deborah Finocchiaro, que evidencia maturidade, domínio absoluto de suas potencialidades e conhecimento de suas próprias qualidades. É um momento de prazer assistir a um espetáculo como este, prazer sobretudo para quem goste de teatro, verdadeiramente, e para quem o ator em cena é, enfim, aquilo que melhor caracteriza a arte teatral.
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