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Teatro

- Publicada em 29 de Março de 2019 às 03:00

Respeito e homenagem a Nathalia Timberg

Assumi com os leitores desta coluna o compromisso de que, enquanto vinculado à administração do Theatro São Pedro, por questões de ética, não escreveria a respeito de espetáculos quem nele fossem apresentados. Mas isso não me impede se fazer uma homenagem à atriz brasileira Nathalia Timberg, no ano em que completa 90 anos de idade e 72 anos de teatro.
Assumi com os leitores desta coluna o compromisso de que, enquanto vinculado à administração do Theatro São Pedro, por questões de ética, não escreveria a respeito de espetáculos quem nele fossem apresentados. Mas isso não me impede se fazer uma homenagem à atriz brasileira Nathalia Timberg, no ano em que completa 90 anos de idade e 72 anos de teatro.
Nathalia Timberg apresentou, neste fim de semana, a peça-solo Através da Iris, escrita por Caco Hygino, com direção de Maria Maya. Trata-se de uma espécie de documentário cênico, como ela preferiu caracterizar, a respeito da grande figura da moda e do design norte-americano Iris Apfel, hoje com 97 anos de idade. Os fatos de Iris Apfel estar viva e em plena atividade, e de Nathalia Timberg, aos 90 anos, continuar atuando, merecem, cada qual a seu jeito, nossas celebrações. As celebrações pela vida são o tema desta coluna.
Por força da função junto ao Theatro São Pedro, tive a oportunidade de, na sexta feira, três horas antes de iniciada a primeira sessão da temporada de Através da Iris, receber a atriz. Numa entrevista anterior, ela se mostrara temerosa de regressar ao teatro: seria a primeira vez que ali estaria sem a presença de Eva Sopher, de quem se tornara verdadeira amiga, desde que ambas se conheceram. Antes, na quinta feira, eu participara de seu encontro com o reitor da Pucrs, Irmão Evilásio Teixeira, e depois acompanhei a conversa que ela desenvolveu com alunos e professores da universidade, por mais de uma hora, com as participações de Luiz Paulo Vasconcelos e Sandra Dani.
A emoção de Nathalia, no teatro, foi evidente porque, como ela mesma dizia, ao longo dos três dias em que aqui esteve, Eva Sopher havia transformado o Theatro São Pedro em sua verdadeira casa. Por isso, Nathalia entendia que todo aquele que pretendesse tornar-se administrador de um teatro, deveria, primeiro, passar um tempo ao lado de Eva, aprendendo o que significa, verdadeiramente, administrar um teatro. Todos que conhecemos Eva sabemos que, na verdade, ela fez mais do que administrar. Ela reconstruiu um teatro, o São Pedro, e se dispôs a concretizar uma outra utopia, o Multipalco. O São Pedro encontra-se íntegro, 34 anos depois, e o Multipalco, embora interrompido em suas obras, que já somam 16 anos, tem evidenciado suas múltiplas potencialidades.
Nathalia estava emocionada e aceitou, de bom grado, visitar o Memorial do teatro, que já conhecia, quando soube que havia uma ala nova, inteiramente dedicada a sua amiga. Para quem não conhece este espaço, aberto diariamente ao público, de maneira gratuita, pela tarde (entrada logo ao lado da bilheteria do teatro), uma das peças em exposição é um piano, ao lado do qual um boneco em tamanho natural de Eva Sopher surpreende a todos por seu realismo. A atriz também se emocionou e fez questão de tirar uma foto abraçada à efígie da amiga.
Das conversas que tivemos, naquela sexta feira, e depois, no domingo, à noite, após o espetáculo que encerrou a temporada, quando ela pode saborear uma paleta de ovelha no galpão do teatro, fiquei com a absoluta certeza de que, se Eva Sopher viveu o Theatro São Pedro, Nathalia Timberg vive a arte teatral, em sua essência. Ela não perde tempo em expressar suas ideias, em criticar o que considera uma perda de ideais e de sentimentos verdadeiramente fiéis ao teatro, o que a deixa profundamente indignada. Nathalia Timberg, com toda a sua experiência, precisa de três horas para se preparar, cada noite, para a encenação que não dura mais que uma hora! Mas como ela diz, o ator tem que ser capaz de dar vida à personagem e por isso, de certo modo, interpreta mais a vida do outro do que o próprio psicanalista.
Nathalia Timberg tem uma força de expressão e um conjunto de convicções admiráveis. Neste sentido, ela é uma militante cultural, mais do que apenas uma atriz. Teatro, para ela, é responsabilidade, é querer dizer algo a seus semelhantes, é buscar encontrar o ser humano em cada espectador e em cada personagem. É emoção. Esta é a admirável e inesquecível Nathalia Timberg a quem todos devemos respeito e homenagem.
 
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