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Teatro

- Publicada em 30 de Novembro de 2018 às 01:00

O melhor visitante deste ano

Há duas semanas, Porto Alegre recebeu, pela primeira vez, a Agrupação Teatral Amacaca, de Brasília, trazida pela Phosphoros Novas Ideias que, com esta iniciativa, estreou consagrando-se e mostrando que, de fato, a referência a novas ideias não fica só no papel. O grupo é dirigido pelo uruguaio Hugo Rodas, que se encontra no Brasil há mais de 40 anos. Assistimos a dois diferentes trabalhos, bem diferentes, aparentemente até contraditórios: Punaré & Baraúna, do folclore nordestino, e Ensaio geral, um trabalho mais autoral e - eu diria - até ensaístico, refletindo sobre o amor e, no final, sobre a realidade brasileira no atual contexto.
Há duas semanas, Porto Alegre recebeu, pela primeira vez, a Agrupação Teatral Amacaca, de Brasília, trazida pela Phosphoros Novas Ideias que, com esta iniciativa, estreou consagrando-se e mostrando que, de fato, a referência a novas ideias não fica só no papel. O grupo é dirigido pelo uruguaio Hugo Rodas, que se encontra no Brasil há mais de 40 anos. Assistimos a dois diferentes trabalhos, bem diferentes, aparentemente até contraditórios: Punaré & Baraúna, do folclore nordestino, e Ensaio geral, um trabalho mais autoral e - eu diria - até ensaístico, refletindo sobre o amor e, no final, sobre a realidade brasileira no atual contexto.
Lendo o material de imprensa enviado, ficamos sabendo que o primeiro espetáculo viaja com apoio do governo do Distrito Federal, e o segundo foi produzido através de financiamento do Ministério da Cultura. Que bom que, sobretudo no caso do segundo, não houve problemas de censura. Mas isso me deixa bastante preocupado com o futuro. Porque a diferença entre as duas obras não é apenas formal, mas também de propostas e de reflexões, ainda que em ambas o tema seja o mesmo: a violência presente na vida cotidiana.
Punaré & Baraúna é um rico trabalho inspirado no folclore nordestino, envolvendo a disputa de dois homens pelo amor de uma jovem. A moça faz a sua escolha, mas isso desencadeará uma série de situações conflitantes. A peça narra a mesma história a partir das duas perspectivas, sem um final explícito, pois sabemos apenas que ela escolheu um dos dois, com quem partiu.
O que mais chama a atenção no grupo é seu preparo técnico e sua criatividade. Todos atuam, cantam, dançam, e tocam pelo menos algum instrumento musical. Assim, o conjunto transforma-se numa trupe circense, com um ritmo constante e rápido no espetáculo, de modo que o espectador não pode se distrair. O texto, por certo, é importante, mas é sobretudo o que se vê e se ouve, de música e de movimento, de colorido e de sonoridade que encanta e nos envolve. É pena que não se explicitam os criadores de trilha sonora, figurinos, cenários, mas imagino que tudo resulte de um trabalho criativo coletivo, porque isso pode ser reconhecido, de certo modo, no DNA do grupo.
Tive a oportunidade de assistir os espetáculos praticamente ao lado do diretor, que fica na plateia. Isso significa, também, que o diretor reconhece a maturidade e a autonomia do conjunto. E de fato, o espetáculo se desdobra sempre como uma caixinha de surpresas, os personagens vão surgindo e se transformando, e eu, ao menos, me senti dentro de um verdadeiro conto de fadas, ora alegre, ora triste, ora dramático, ora poético. Nesse sentido, vale destacar o belo texto que imagino seja do próprio Rodas, sensível e capaz de captar a poesia popular destas histórias de amor de traição, valorizando inclusive a importância do mar que existe no imaginário sertanejo.
A segunda peça, Ensaio geral, foi apresentada sem intervalo. Ou melhor, suspensa a primeira narrativa, que não se encerra, o elenco troca figurinos, modifica o espaço cênico, constitui-se uma banda e todo o elenco aparece em um novo ambiente. Agora, estamos no presente, e a discussão se situa em torno do amor e do que se pode esperar da vida. Não sei quando a peça foi idealizada, mas sem dúvida é de enorme oportunidade para este momento. O espetáculo se transforma, então, numa espécie de ritual leigo em torno da celebração da vida. Parte do elenco, anônimo na obra anterior, porque compunha figuras de fundo, agora ocupa lugar de destaque. Como não dá para identificar cada um, que fique registrado, aqui, o nome de todo este conjunto admirável e profundamente dedicado à arte teatral: André Araújo, Abaetê Queiroz, Camila Guerra, Dani Neri, Diana Poranga, Flávio Café, Iano Fazio, Juliana Drummond, Luiz Felipe Ferreira, Nobu Kahi, Pedro Tupã e Rosanna Viegas: todos simplesmente admiráveis, notáveis, inesquecíveis. Para mim, entre todos os espetáculos que nos visitaram nesta temporada, o grupo mais importante e mais criativo. Pena que, com o feriadão, encontrou, ao menos na primeira noite, uma plateia pequena, mas vibrante e entusiasmada. Aliás, mais do que merecidamente.
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