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Teatro

- Publicada em 16 de Novembro de 2018 às 01:00

Isso é teatro

Vários conjuntos dramáticos da cidade juntaram-se em defesa da permanência dos espaços municipais para espetáculos de artes cênicas. Dentre eles, está o Projeto Gompa, que vem apresentando, em nova temporada, entre os vários espetáculos que produziu, Inimigos na casa de bonecas, dramaturgia de Marco Catalão, Pedro Bertoldi e Camila Bauer, para a direção desta última. Trata-se de uma releitura da dramaturgia de Henrik Ibsen, talvez o mais significativo dramaturgo norueguês do século XIX, cuja obra mescla admiravelmente a observação realista e, ao mesmo tempo, psicológica, de que Casa de bonecas é, talvez, o melhor exemplar, justamente a partir da figura de Nora, uma mulher que, acostumada a ter todas as suas necessidades atendidas - primeiro pelo pai, depois pelo marido - em certo momento, se vê obrigada a tomar decisões diante da doença do esposo. Cumprida sua missão, ela, no entanto, é acusada e condenada pelo que havia feito, e repentinamente tem, então, uma espécie de revelação, dando-se conta do quem até então, jamais vislumbrara, decidindo romper o casamento. O texto, que escandalizou a sociedade da época, tem resistido ao tempo e, mais, diria que tem se afirmado crescentemente com o passar dos anos. Ibsen foi um visionário.
Vários conjuntos dramáticos da cidade juntaram-se em defesa da permanência dos espaços municipais para espetáculos de artes cênicas. Dentre eles, está o Projeto Gompa, que vem apresentando, em nova temporada, entre os vários espetáculos que produziu, Inimigos na casa de bonecas, dramaturgia de Marco Catalão, Pedro Bertoldi e Camila Bauer, para a direção desta última. Trata-se de uma releitura da dramaturgia de Henrik Ibsen, talvez o mais significativo dramaturgo norueguês do século XIX, cuja obra mescla admiravelmente a observação realista e, ao mesmo tempo, psicológica, de que Casa de bonecas é, talvez, o melhor exemplar, justamente a partir da figura de Nora, uma mulher que, acostumada a ter todas as suas necessidades atendidas - primeiro pelo pai, depois pelo marido - em certo momento, se vê obrigada a tomar decisões diante da doença do esposo. Cumprida sua missão, ela, no entanto, é acusada e condenada pelo que havia feito, e repentinamente tem, então, uma espécie de revelação, dando-se conta do quem até então, jamais vislumbrara, decidindo romper o casamento. O texto, que escandalizou a sociedade da época, tem resistido ao tempo e, mais, diria que tem se afirmado crescentemente com o passar dos anos. Ibsen foi um visionário.
Inimigos na casa de bonecas parte desta obra, que aproxima de outra peça de Ibsen, Um inimigo do povo, para refletir a respeito da realidade brasileira, fazendo, deste modo, uma expansão do trabalho original de Ibsen, pois agrega a questão social e política imediata do Brasil deste conturbado ano de 2018, referindo-se, sucessivamente, ao acidente de Mariana e, ao mesmo tempo, à corrupção pública endêmica que avassala o País.
Este é, sem dúvida, o primeiro aspecto a ser valorizado e reconhecido como grande qualidade da obra aqui proposta, e que foi uma das cinco finalistas do prêmio Internacional Ibsen Scholarship do ano passado, promovido pela Noruega.
Mas a isso se deve agregar a linguagem estética escolhida e concretizada com absoluta fidelidade ao projeto original. Todo o grupo, que atua fortemente como um coletivo, realiza um dos trabalhos mais bem acabados e afirmativos que vi nestes últimos anos, porque é uma linha de criação extremamente complexa e difícil, tanto do ponto de vista dramático, quanto estético, mas que é absolutamente alcançado neste trabalho de pouco mais de hora e meia de duração, mas que pega o espectador pelo pulso e leva-o ao longo de toda a narrativa de maneira a apresentar-lhe uma reflexão sólida, lógica e densa, que não permite tergiversação.
Neste sentido, as experimentações de linguagens são um ponto alto e decisivo para que o espetáculo se efetue: a composição musical e o desenho sonoro de Álvaro Rosa-Costa que, além do mais, canta e interpreta; a iluminação e a videografia de Ricardo Vivian; a cenografia de Élcio Rossini, que é contida, mas extremamente flexível e atende a todas as ideias que o espetáculo explora; os figurinos e a maquiagem de Liane Venturella, com especial destaque aos figurinos, como se fossem roupas militares camufladas em campo de batalha (o que se justifica pelo título da obra). A se mencionar, igualmente, o elenco composto por Sandra Dani e Janaína Pelizzon (ambas vivendo Nora em diferentes momentos), Nelson Diniz, Liane Venturella, Lauro Ramalho - que surpreende ao fugir das interpretações a que estamos acostumados a encontrá-lo - o próprio Álvaro RosaCosta e a bailarina Fabiane Severo, com forte presença em cena.
Trata-se de um espetáculo que evidencia maturidade e competência, profunda preocupação e compromisso com a realidade brasileira imediata e que evidencia o papel estratégico do teatro numa sociedade, em especial, uma sociedade como a brasileira. Eis um trabalho que precisa cumprir mais temporadas entre nós, porque o que ele tem a dizer deve ser ouvido e valorizado por todos nós. E deve-se assistir a este espetáculo, não apenas uma, mas mais vezes, tal a emoção, contida, mas dinâmica, que nos provoca. Sinceramente, parabéns ao grupo e a toda a equipe. Isso é teatro.
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