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Teatro

- Publicada em 21 de Setembro de 2018 às 01:00

Em cena: variedade marca primeira semana

Começaram na semana passada as atividades do 25º Porto Alegre em Cena, o mais antigo festival de artes cênicas da cidade. Na terça-feira retrasada, dia 11 de setembro - data aziaga, que relembra a destruição das duas torres norte-americanas e a entrada em uma nova etapa da história da humanidade neste planeta, - o Theatro São Pedro, escolhido para sediar o espetáculo de abertura da mostra, recebeu o grupo Höröyá, difícil de dizer na língua mandeng original, mas fácil de guardar, quando traduzida: a palavra quer dizer liberdade.
Começaram na semana passada as atividades do 25º Porto Alegre em Cena, o mais antigo festival de artes cênicas da cidade. Na terça-feira retrasada, dia 11 de setembro - data aziaga, que relembra a destruição das duas torres norte-americanas e a entrada em uma nova etapa da história da humanidade neste planeta, - o Theatro São Pedro, escolhido para sediar o espetáculo de abertura da mostra, recebeu o grupo Höröyá, difícil de dizer na língua mandeng original, mas fácil de guardar, quando traduzida: a palavra quer dizer liberdade.
Durante 75 minutos, os músicos liderados pelo maestro, arranjador e músico André Ricardo apresentaram seu repertório, constituído basicamente de obras idealizas para percussão, mesclando, porém, instrumentos musicais contemporâneos, tudo sendo alentado e amplificado por equipamentos eletrônicos de ponta. O espetáculo culminou com a participação de músicos do Senegal e do Guiné-Conacri, que colocou toda a plateia de pé e não seria de duvidar que todos saíssem dali absolutamente envolvidos pelas danças e percussões africanas.
Para o dia seguinte, escolhi assistir A Bergman affair, que o grupo francês The Wild Donkeys apresentou, a partir do romance Conversações privadas, do cineasta Ingmar Bergman (1996), com o que Porto Alegre somou-se ao conjunto de homenagens ao realizador cinematográfico, cujo centenário de nascimento ocorre neste ano. O texto traz o padrão conhecido da cinematografia do realizador: uma mulher trai o marido com um jovem estudante que se prepara para tornar-se pastor. Arrependida, confessa-se ao seu mentor que a orienta no sentido de dizer a verdade ao marido, também pastor, que a trata com certa distância e desdém, mas que dela depende. Confessa a verdade e afastados os amantes, a mulher permanece com o marido, a ser sempre humilhada e desqualificada, até que um reencontro da mulher e de seu mentor encerra a peça, marcada por terrível ironia e uma espécie de revolta extrema do realizador contra os mandamentos religiosos que impedem a felicidade humana. No elenco, destaca-se Olivia Corsini, única figura feminina e que encarna a anti-heroína. A direção de Serge Nicolai é bastante criativa, eis que em algumas passagens tanto a mulher quanto seu marido transformam-se em espécie de marionetes a serem guiados por um segundo ator. O espetáculo é esplêndido no rigor com que se desenvolve.
O que tem de comedimento o trabalho francês, tem de excessivo, de prosaico e de discursivo o trabalho brasileiro A tragédia e comédia latino-americana, idealização e direção de Felipe Hirsch. Com três horas de duração, imensos blocos de isopor a atopetarem o espaço do palco, e meio aos quais os atores deambulam em longos monólogos, paródias à carta de Pero Vaz de Caminha ou em textos que se repetem até três vezes, sempre os mesmos, embora em tonalidades diferentes, é um trabalho de proselitismo ideológico: dramaticamente, nada acontece. Saí na metade do primeiro para o segundo ato, assim como muita gente - ao menos na primeira noite do espetáculo. Nos dias seguintes, trocando ideias com quem gostou e quem não gostou do espetáculo, ficou evidente a identidade do público que se identificou com o trabalho. Para mim, é simples: em que pese um elenco de excelente qualidade, atrapalhado pela cenarização, tem concepção equivocada, a partir do momento em que seu idealizador preferiu discursar a mostrar, em cena, o que queria dizer.
Vindo do Recife, o Grupo Experimental, como se denomina, de dança, mistura dança e música, em duplo sentido: parte de seus integrantes toca atabaques, canta, assume momentos de diálogo com o público, tudo isso sem deixar, em momento algum, de ser bailarino. Assisti a dois trabalhos deste grupo: Zambo está próximo das raízes afro-brasileiras da maioria de seus integrantes; Breguetu (leia-se "brega é tu") é uma leitura bem humorada do "brega" na realidade brasileira, que termina numa grande festa em que todos os espectadores são levados a participar da cena, na finalização do trabalho. A direção de Mônica Lira, que também assina as coreografias, ao lado de Sonaly Macedo (no caso da primeira obra) evidencia uma criadora profundamente inspirada e corajosa no desenvolvimento dos desenhos de cena, que conhece muito bem seus bailarinos ou levou-os a desenvolver aptidões capazes de atender ao que ela propõe em suas obras. São movimentos difíceis. Que muitas vezes colocam o bailarino a desafiar as leis físicas e, em outros, a enfrentar a dureza do chão do palco, sobre o qual são literalmente atirados. Isso exige por certo treinamento para levá-los a saber como cair. Na segunda peça, o grupo evidentemente está mais solto e interage permanentemente com o público, pois todos os espetáculos ocorreram na Sala Álvaro Moreyra. Se a proximidade facilita a interação, certamente exige mais do acabamento e do detalhismo do trabalho, por parte dos intérpretes, que são precisos, e evidenciam, não apenas técnica, quanto disciplina.
No domingo, a fechar a primeira semana, fui assistir a Grande sertão: Veredas, mas isso merece comentário especial na próxima semana.
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