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Teatro

- Publicada em 14 de Setembro de 2018 às 01:00

Treinamento e aprendizado

Muitos espetáculos circulam pela cidade sem chamarem muito a atenção ou sem terem maiores registros na imprensa, ou porque são grupos iniciantes ou porque são apresentados em horários alternativos ou fora das casas mais institucionalizadas. Nos últimos dias, assisti a dois trabalhos, os quais registro a seguir.
Muitos espetáculos circulam pela cidade sem chamarem muito a atenção ou sem terem maiores registros na imprensa, ou porque são grupos iniciantes ou porque são apresentados em horários alternativos ou fora das casas mais institucionalizadas. Nos últimos dias, assisti a dois trabalhos, os quais registro a seguir.
O grupo Sarcáustico, que tem produzido excelentes trabalhos, mantém um laboratório de montagem e foi este grupo que idealizou e apresentou Interrupções, na última quinzena, na Sala Álvaro Moreyra. A partir do texto Corte seco, de Christiane Jatahy, 15 cenas são aparentemente improvisadas pelo elenco, a partir de um comando de um eventual diretor de cena, que se encontra ao lado do espaço de apresentações. Todo o jogo é montado a partir de exercícios de improvisação que, evidentemente, só são improvisados quanto à ordem em que devem ocorrer junto ao público, ainda que, em algumas passagens, o ator deva, efetivamente, improvisar - no caso, reagir a alguma palavra dita pelo diretor.
O espaço cênico está dividido em 16 quadrados e sua ocupação, cena a cena, ocorre segundo o comando do diretor, que os identifica mediante referência cruzada de letras e números, tipo 1D etc. O grupo preferiu chamar o espetáculo de Interrupções em alusão à casualidade da vida cotidiana.
Em pouco mais de uma hora de duração, as 15 cenas se sucedem rapidamente, claro que jamais numa mesma ordem, de modo que o espetáculo a que assisti não é, de modo algum, o mesmo espetáculo da noite anterior ou posterior. Só esta criatividade no trabalho já valeria a pena ser conferida. Mas o que avulta, de fato, é o ritmo da montagem, o que evidencia um excelente preparo do elenco de sete atores, todos em início de carreira - Alexandre Azevedo, Amanda Novinski, Ana Clara Lauffer, Cristiane Marçal, Fabiano Moreira, Mariana Bruni e Vitória Titton - que mostram disciplina e muita garra em suas atuações, que se dão em espaço livre da cena. Foi uma bela experiência e que chama a atenção para a importância do preparo de elencos para futuros trabalhos.
Já na sala Carlos Carvalho fui conhecer Meu irmão, o Medo, escrita e dirigida por Fernanda Moreno, que já tem experiência cênica e dramatúrgica anterior, com excelentes trabalhos. Neste novo texto seu, a referência histórica está ligada ao episódio da Legalidade, ocorrido em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros à presidência da República. O espetáculo teve excelente pesquisa de acontecimentos e elementos sonoros, de modo a ambientar o relato, que se fragmenta entre cenas de vida privada, digamos assim, e referências aos eventos históricos propriamente ditos. Fernanda Moreno tentou um caminho que é extremamente difícil, que é esta mistura de ficção e história, tentando entrelaçar os dois discursos. O resultado é cheio de percalços, pois encontra bons momentos, mas também cai em simplificações perigosas, inclusive com erros históricos de referência, como aquela menção de uma personagem ao fato de ter cursado uma pós-graduação, dado que certamente na época não tinha nenhuma circulação no meio social.
O grupo de atores é iniciante: Arthur Loureiro, Camila Salton, Ismael Goulart, Jacque Sabater, Juliana Katz e Márcia Schuler - evidencia dedicação, mas tem um defeito natural em estreantes, mas a ser necessariamente vencido: não guarda naturalidade em suas falas, que aparecem nitidamente decoradas e, em consequência, com pouca emoção.
A iluminação de Fabiana Santos é eficiente, porque marca espaços, tempos e sublinhar/destaca personagens e cenas. Mas não há propriamente um enredo e isso torna o espetáculo frouxo, perdendo a toda a hora o interesse. Fernanda Moreno precisa revisar o texto e encontrar uma linha de condução, que costure todas as cenas, o que inexiste, por enquanto. De qualquer modo, a presente encenação serve de exercício de aprendizado e certamente vai levar o grupo a amadurecimento.
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