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Teatro

- Publicada em 09 de Agosto de 2018 às 22:02

Entusiasmo e emoção

Arena selvagem é o título do mais recente espetáculo do grupo Cerco, que completa 10 anos de existência, inclusive inaugurando sede própria para desenvolvimento de cursos e outras atividades. O espetáculo realizou temporada no Teatro de Arena, em comemoração a seus 60 anos, e imediatamente o grupo cumprirá nova temporada no Theatro São Pedro, apresentando seu variado repertório, no qual se inclui esta peça.
Arena selvagem é o título do mais recente espetáculo do grupo Cerco, que completa 10 anos de existência, inclusive inaugurando sede própria para desenvolvimento de cursos e outras atividades. O espetáculo realizou temporada no Teatro de Arena, em comemoração a seus 60 anos, e imediatamente o grupo cumprirá nova temporada no Theatro São Pedro, apresentando seu variado repertório, no qual se inclui esta peça.
O Grupo Cerco, sob direção de Inês Marocco, apresentou, sucessivamente, dois trabalhos a partir de textos de Erico Verissimo: uma transcriação de O sobrado e, depois, Incidente em Antares. Também mostrou Puli-Pulá, em 2015, espetáculo que não conheço. No caso de Arena selvagem, baseado em dramaturgia de Celso Zanini, Elisa Heidrich e Marina Kerber, integrantes do grupo, há, desde a constituição do texto dramático, uma quebra de padrões anteriores, na medida em que o grupo não parte de um texto preexistente e de um enredo cronologicamente construído, mas de uma colagem de textos variados, do dramaturgo gaúcho Carlos Carvalho ao tchecoslovaco Franz Kafka, sem esquecer o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, que, aliás, encerra o espetáculo.
A segunda quebra decorre da primeira: o abandono de uma linguagem realista e a adoção de uma linguagem cênica francamente experimental, que se coloca desde a chegada do espectador à sala de teatro, quando os intérpretes estão portando máscaras de animais e, de modo geral, comportam-se como símios, o que se explica logo nas primeiras falas, quando um narrador explicita a origem animal do ser humano, valorizando a tradição da origem das espécies, de Darwin. Mais do que uma referência histórico-antropológica, a animalidade do ser humano também tem base numa perspectiva sociológica, o que se explicita, ao longo do trabalho, num dos quadros que constituem o espetáculo, e que envolve a história de uma empregada doméstica numa casa de família burguesa.
Inês Marocco aceitou o desafio, enquanto diretora do grupo, e propôs um espetáculo absolutamente inovador, sob todos os aspectos. Sinteticamente, passamos por 10 quadros dramáticos, desde a transformação de uma macaca em um ser humano "civilizado" (creio que inspiração em texto de Franz Kafka), até a relação de um homem com um robô feminino, a pretensa dominação da mãe sobre a filha - que se estabelece no alto das árvores para fugir dessa violência - a empregada doméstica transformada em objeto da casa burguesa; a explosão da violência física traduzida na luta de box que se segue; uma série de poemas explorados dramaticamente, até a sequência da mulher currada no Parque da Redenção etc.
Com trilha sonora de Celso Zanini, Martina Frölich e Philipe Philippsen, iluminação de Carolina Zimmer, figurinos de Daniel Lion, cenografia de Rodrigo Shalako e máscaras de Diego Steffani, o elenco, formado por Anildo Böes, Celso Zanini, Elisa Heidrich, Kasily Cabeda, Manoela Wunderlich, Martina Frölich, Marina Kerber e Philipe Philippsen, evidencia um forte amadurecimento e um bonito domínio de linguagem tal como proposta pela linha de criação do espetáculo. Todos atuam com convicção e segurança, deixando muito longe as interpretações que acompanhamos nos espetáculos anteriores e que, muitas vezes, eram instáveis, inseguras e sem maior convicção, tipicamente amadoras, ainda. Neste novo trabalho, de forte e constantes variações rítmicas, todos sabem exatamente o que fazem e como fazem, evidenciam segurança e mostram domínio absoluto de suas figuras, que variam constantemente, até pelo aspecto de colagem do espetáculo. É um prazer assistir a tal desempenho coletivo, que, por ser coletivo, ao mesmo tempo, não impede a caracterização de cada um, individualmente. A própria proximidade com a plateia, no caso do Arena, dificulta ainda mais a performance, sem afetar, contudo, a qualidade de seu trabalho.
Por tudo isso, Arena selvagem surge como uma bela surpresa, uma proposta concretamente realizada e um espetáculo renovador, que entusiasma e emociona.
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