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Repórter Brasília

- Publicada em 05 de Abril de 2021 às 03:00

Ainda sopram os ventos de 1964

João Goulart foi único presidente do Brasil que morreu no exílio

João Goulart foi único presidente do Brasil que morreu no exílio


/ARQUIVO EBN/DIVULGAÇÃO/JC
O País inicia este mês de abril sob o impacto de uma crise de disciplina militar, tal como em 1964, quando um grupo de generais se assenhorou do poder reagindo a um movimento de indisciplina nos quartéis e navios da armada, que teria o apoio do então presidente da República, João Goulart (foto). Desta feita, o presidente Jair Bolsonaro aparentemente não se deixou superar, mandando afastar os comandantes descontentes antes que eles pudessem demitir-se por conta própria. É a mesma crise com sinal trocado. Bolsonaro agiu, o que Jango não quis fazer.
O País inicia este mês de abril sob o impacto de uma crise de disciplina militar, tal como em 1964, quando um grupo de generais se assenhorou do poder reagindo a um movimento de indisciplina nos quartéis e navios da armada, que teria o apoio do então presidente da República, João Goulart (foto). Desta feita, o presidente Jair Bolsonaro aparentemente não se deixou superar, mandando afastar os comandantes descontentes antes que eles pudessem demitir-se por conta própria. É a mesma crise com sinal trocado. Bolsonaro agiu, o que Jango não quis fazer.
Sucessão tranquila
Os resultados ainda são incertos, embora todas as indicações sejam de que a crise não passará do âmbito administrativo do Ministério da Defesa. O fato político, efetivamente, foi a nota deixada pelo ex-ministro Fernando Azevedo e Silva, acolhida como sua pelo novo titular, general Braga Netto, para não alimentar mais especulações. A sucessão dos comandantes foi tranquila, com nomes reconhecidos nas forças: o general Paulo Sérgio Nogueira, no Exército; o brigadeiro Carlos Alberto Batista Jr., na Aeronáutica; o almirante Almir Garnier, na Marinha, este destacado por uma carreira ligada às áreas de alta tecnologia. Ou seja: a questão castrense propriamente está superada. Ficou a rusga política, por causa da nota sobre o 31 de março.
Indisciplina nas fileiras
Tanto barulho se faz porque a mudança dos comandos, mais que do ministro da Defesa, remeteria a um movimento de indisciplina nas fileiras. Sem simetria, teria sido o motivo detonador do golpe de 1964, pois o que de fato mexeu com os altos comandos, naquela época, foi a sequência de greves e manifestações de cabos, sargentos e subtenentes. O marinheiro Cabo Anselmo é o símbolo daquele levante iniciado pelo tocaio do atual vice-presidente, general Mourão Filho, ex-comandante em Santa Maria, então transferido para Juiz de Fora (MG), de onde se lançou sobre o Rio de Janeiro, ainda uma quase capital. Surpreenderia um historiador estrangeiro ver como o tema está vivo no Brasil e causa tamanha controvérsia. Ocorrido há mais de meio século, nenhum outro fato histórico teve tamanha duração.
Trabalhismo de Getúlio
O processo da maioridade de Pedro II sepultou inteiramente os conflitos do Primeiro Reinado; com a República, os conflitos do final do Segundo Império já tinham desaparecido, tais como questão militar, questão religiosa, abolição. A República Velha submergiu com a Revolução de 1930, não obstante as sangrentas Revolução de 1893, no Rio Grande do Sul, e a Revolta da Armada, no Rio de Janeiro. Quando chegou 1964, o inimigo exposto era o trabalhismo de Getúlio Vargas, ninguém mais falava dos anos do café-com-leite dos paulistas e mineiros.
Nova geração de militares
A Nova República já deveria ter absorvido a então chamada Revolução Redentora. Mas não, continua aí, ninguém consegue apagar sua memória. Talvez porque os últimos sobreviventes são os jovens das lideranças estudantis da época, quase todos octogenários. Como sobrevive nos corações e mentes? Inexplicável. E que problema para as novas gerações de militares, que herdaram uma história que não é a deles, mas que são obrigados a sustentar. A única explicação: 1964 foi um choque de gerações, os vencedores morreram de velhos e os perdedores ganhavam a guerra porque sobreviveram com saúde para não deixarem apagar uma história ainda viva, como prova a crise desta semana. Neste caso, a história é dos vivos.
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