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Pensar a Cidade

- Publicada em 21 de Setembro de 2021 às 19:09

Pintura do Viaduto Otávio Rocha gera debate sobre patrimônio

Especialistas pedem obras estruturais no local e temem descaracterização; prefeitura defende ações provisórias

Especialistas pedem obras estruturais no local e temem descaracterização; prefeitura defende ações provisórias


/fotos: ANDRESSA PUFAL/JC
Na tentativa de melhorar a aparência do Viaduto Otávio Rocha - estrutura que além de ligar o Centro à Zona Sul de Porto Alegre pela avenida Borges de Medeiros se destaca pela beleza arquitetônica e artística -, a prefeitura de Porto Alegre começou, na semana passada, a lavar, retirar cartazes e pintar partes que estão pichadas.
Na tentativa de melhorar a aparência do Viaduto Otávio Rocha - estrutura que além de ligar o Centro à Zona Sul de Porto Alegre pela avenida Borges de Medeiros se destaca pela beleza arquitetônica e artística -, a prefeitura de Porto Alegre começou, na semana passada, a lavar, retirar cartazes e pintar partes que estão pichadas.
Chamada de intervenção rápida pelo governo, a ação tem recebido críticas de especialistas, que temem  descaracterização do patrimônio e uma tentativa de maquiar a real situação do viaduto, que tem problemas estruturais.
"Pintar não é a solução, é rasgar dinheiro. Tem problemas a serem resolvidos antes, como a infiltração e descolamentos que estavam deixando a ferrugem exposta", alerta o arquiteto e urbanista Alan Cristian Tabile Furlan, responsável pela elaboração do projeto de restauro e recuperação estrutural do Viaduto Otávio Rocha, contratado pela prefeitura em 2012 e apresentado em 2015. Para ele, cabe a analogia da pessoa que, precisando tomar banho, decide apenas colocar uma roupa limpa. "A pintura seria a última coisa."
No entanto, Furlan alerta que nem mesmo pintar é uma opção. Isso porque o revestimento das paredes é de material poroso, uma espécie de argamassa conhecida como cirex, que não é própria para receber tinta. Lucas Volpatto, arquiteto, urbanista e integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS), explica que testes de tinta podem ser feitos em edifícios tombados, com alguns cuidados, como saber se será reversível caso não dê certo. Mas reforça que isso não se aplica ao material do viaduto, conhecido justamente pela condição de manter sua aparência por décadas, se bem conservado.
Volpatto lembra de ação semelhante, feita há alguns meses no Viaduto da Conceição, próximo da rodoviária. A diferença, pontua, é que lá não se trata de patrimônio tombado, com valor cultural. "O Viaduto Otávio Rocha já nasce com a intenção de ser um símbolo para a cidade. Mexer nos elementos é mexer na imagética de Porto Alegre", sustenta.
O secretário municipal de Planejamento, Cezar Schirmer (MDB), questiona se quem reclama da pintura prefere a pichação, apontada como principal motivo para a intervenção rápida. Conforme Schirmer, o secretário de Cultura foi informado do que seria feito, mas a pasta irá acompanhar quando for executado o projeto definitivo. O que está se fazendo agora "são ações provisórias paralelas a ações definitivas". Para a restauração do viaduto, a prefeitura busca recurso da Corporação Andina de Fomento (CAF).
Além de despertar atenção da comunidade e grupos ligados ao patrimônio, há um setor diretamente interessado no que acontece no viaduto. Representante dos permissionários das lojas na parte baixa, Adacir José Flores questiona que o projeto para restauração não esteja sendo seguido e aponta que a prefeitura está "colocando os pés pelas mãos". Ele diz que os comerciantes não foram informados.

Pintar ou recuperar

Pintura está concentrada nas paredes com pichações

Pintura está concentrada nas paredes com pichações


ANDRESSA PUFAL/JC
Segundo Cezar Schirmer, a prefeitura não vai pintar toda a estrutura, somente as partes onde tem pichação. Para defender a ação, alega que a pichação já estragou o cirex e que o projeto prevê refazer toda essa estrutura. Mas Alan Furlan, que assina o projeto de restauração, contesta. O diagnóstico apresentado na época reconhecia a dificuldade de conservação do material, mas destacou a decisão por mantê-lo por se tratar de um "documento" que carrega consigo dados históricos e científicos.
Lucas Volpatto explica que, embora sejam caras, existem técnicas para remoção de tintas, o que poderia ser feito no caso das pichações. E, para que esse não seja um gasto recorrente aos cofres públicos, o ideal é manter uma política de prevenção. Nessa linha, o arquiteto e urbanista Oritz de Campos, gerente de fiscalização do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS) defende que "o restauro não é caro, o que torna caro é a falta de conservação".
 

Fiscalização

Por se tratar de intervenção em bem tombado, a coordenação do trabalho deve ser feita por um arquiteto, explica o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RS). Por isso, a prefeitura de Porto Alegre foi notificada na sexta-feira, dia 17 de setembro, e tem prazo de 10 dias úteis para informar se há um profissional responsável acompanhando a ação no Viaduto Otávio Rocha. O secretário Cezar Schirmer afirma que sim. O Ministério Público Estadual também está acompanhando a situação por meio da Promotoria do Meio Ambiente.

História

Em 1926, o intendente Otávio Rocha decide, com apoio do governador do Estado, Borges de Medeiros, abrir uma via para conectar o Centro de Porto Alegre - e seu recém inaugurado Cais - com a Zona Sul da cidade. A proposta executada é a que hoje carrega o nome destes dois personagens da política gaúcha: o Viaduto Otávio Rocha, que abre espaço para passagem da avenida Borges de Medeiros - o que torna a estrutura conhecida também como "Viaduto da Borges". Projetada já como uma obra de arte para a cidade, suas características arquitetônicas e sua relevância sociocultural levaram o município a inscrever o viaduto no Livro Tombo em 1988. A estrutura passou por uma restauração entre 2000 e 2001.
Fonte: Prefeitura de Porto Alegre