Catador de materiais recicláveis desde muito cedo, ofício que herdou dos pais, Alexandro Cardoso deixou a escola antes de concluir o Ensino Fundamental. Na época, a prioridade era trabalhar - o dinheiro era pouco e a falta dele muitas vezes deu lugar à fome e ao frio. Mesmo com pouco estudo, a capacidade de articulação e o dom da oratória fizeram dele uma liderança de movimentos de catadores. Há anos, Alex (como é mais conhecido) representa a categoria em encontros e palestras no Brasil e no exterior, em universidades e organismos como a ONU.
Mas, sentindo falta da educação formal - especialmente por ser apontado como exemplo para os mais jovens da sua comunidade - voltou para a escola passados mais de 20 anos e conquistou uma vaga no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A história, desde a primeira relação com a escola até a graduação que está em andamento, é contada pelo próprio Alex no livro “Do lixo a bixo: a cultura dos estudos e o tripé de sustentação da vida”, lançado neste mês pela editora Dialética.
Na narrativa são compartilhadas memórias da infância de dificuldades que viveu com a família em Passo Fundo, na Vila Bom Jesus, e em Porto Alegre, na Vila Cai Cai. O trabalho, que sempre esteve presente em sua memória, aparece primeiro como brincadeira para a criança que precisava ajudar os pais, depois como a obrigação do jovem que se tornou pai ainda adolescente. Na sua visão de hoje, as relações com o trabalho e com o estudo são apresentadas a partir de uma perspectiva crítica, refletindo sobre o lugar que diferentes categorias profissionais e posições de saber ocupam na sociedade.
Com um texto leve que lembra uma conversa - cada capítulo poderia ter sido contado por Alex no intervalo de uma aula, em meio a uma roda de chimarrão - o livro tem a proposta de ser compreendido por qualquer pessoa interessada, principalmente pelos pares de Alex: catadoras e catadores de materiais recicláveis e pessoas que também tiveram pouco ou nenhum acesso à educação formal na idade regular.
Para quem já leu “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus (1960), a lembrança de sua obra ao ler o livro de Alex é natural. Ambos são catadores, mas não apenas por isso, e nem por semelhança dos relatos, já que a publicação de Carolina reproduz seus diários, diferente de Alex que conta suas memórias. A semelhança está no efeito que os dois livros causam: tirar quem os lê de uma pretensa posição de conforto ao instigar uma análise mais profunda das relações sociais, acompanhado de um forte impulso por ação.
À venda por R$ 39,90, o custo da produção será pago com a venda dos primeiros exemplares, que podem ser adquiridos pelo
site da editora ou diretamente com o autor pelo instagram
@alexcatador.