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Opinião Econômica

- Publicada em 11 de Maio de 2022 às 20:26

Fed acordou tarde e está atrasado

Helio Beltrão
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
As Bolsas de Valores mundiais estão despencando desde a decisão do banco central dos EUA, na semana passada, de aumentar os juros em 0,5 ponto percentual. Os títulos de renda fixa (bonds) em dólares também caem. Insolitamente, ter dinheiro em caixa passou a ser atraente no momento, a despeito de uma corrosiva inflação em dólares de 8% ao ano. Em diversas colunas desde o ano passado, demonstrei como o banco central americano patrocinou uma inflação prolongada e uma bolha de ativos, por meio de uma injeção monetária sem precedentes.
Agora, o Fed parece ter acordado, mas está irremediavelmente atrasado. Precisará subir muito os juros, até pelo menos 4%, se quiser manter alguma credibilidade quanto ao controle da inflação. Diferentemente de Paul Volcker, em 1981, este Fed não parece ser corajoso ou ciente do fracasso de seu experimento de afrouxamento monetário perpétuo.
O atual presidente, Jay Powell, assegurava no ano passado que a alta de preços era temporária e por isso jurava manter os juros em zero até 2024. Até a semana passada, investidores pareciam acreditar. Sua maior certeza era que continuaríamos no bizarro mundo dos últimos 15 anos, no qual o Fed impulsiona continuamente a Bolsa e demais ativos de risco, apesar da inédita conjunção de fatores: a) baixo crescimento, b) ruptura das cadeias de suprimento, c) inflação galopante e d) risco de guerra mundial.
Agora, está caindo a ficha de que o Fed removerá mesmo a bandeja de heroína financeira que animou a rave dos mercados por muito tempo. A ilusão de riqueza -ações e ativos de risco em alta- foi e será exposta como um delírio. E pode apenas ser o início de um colapso. Afinal a bolsa sobe de escada e desce de elevador.
Os ases do mercado, que achavam que entendiam do babado, estão assustados e "nadando pelados", com diz Warren Buffett. Gestores como Cathie Wood, do Ark Innovation, e Chase Coleman, do Tiger Fund, perderam mais de dois terços dos recursos de seus investidores. Desde o seu ponto mais alto, as ações tech derreteram: Meta/Facebook (50% de queda), Amazon (42%), Mercado Livre (60%), Nu Holdings/Nubank (62%). O mercado como um todo já caiu quase 30%, segundo o índice Russell 2000, referência para a economia americana. Austríacos já sabiam.
O Fed, garantidor de sempre, está com um bote furado e quer se salvar primeiro. Powell, um dos piores comandantes que o banco já teve, não parece querer entrar para a história como o sujeito que enterrou de vez a moribunda credibilidade do Fed. Por isso subiu os juros.
Porém, ainda estão muito abaixo da inflação. Segundo uma sólida métrica, esnobada após a crise de 2008 -a regra de Taylor-, as taxas de juros do Fed deveriam estar acima de 9% ao ano, ante menos que 1% no momento.
A zona do euro está em situação ainda pior. Lá os juros estão negativos desde 2014 e a inflação assusta o continente. Joachim Nagel, presidente do Bundesbank, pede uma elevação das taxas do BCE a partir de julho, mas nada está decidido. Já aqui no Brasil, pelo menos neste aspecto estamos menos ruins: o Banco Central já elevou as taxas acima da inflação, e a Bolsa está com preços deprimidos desde 2016.
Muitos investidores acreditam (ou querem acreditar) que, caso as Bolsas sigam caindo, o Fed novamente socorrerá o mercado, reduzindo juros e injetando dinheiro. De fato, é o que fez nos últimos 40 anos. Ocorre que agora é diferente: há inflação alta, que corrói o poder de compra e afeta negativamente a popularidade dos políticos. O investidor, portanto, deve se preparar para o cenário de os juros em dólares seguirem subindo por bastante tempo. Uma nova queda de ativos de risco, principalmente os que mais subiram nos últimos anos, está longe de ser descartada.
Helio Beltrão
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