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Opinião Econômica

- Publicada em 27 de Abril de 2022 às 03:00

Mulheres em Stem

Cecilia Machado
Economista, professora da EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças) da FGV
Economista, professora da EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças) da FGV
Muitas barreiras que as mulheres enfrentavam para ingressar e progredir no mercado de trabalho puderam ser superadas ao longo das últimas décadas. Há, por exemplo, mais mulheres com ensino superior que homens (IBGE, Estatísticas de Gênero 2021).
Se, de um lado, a convergência educacional entre homens e mulheres confere credenciais para iguais oportunidades de emprego, de outro, fatores subjacentes ao diploma universitário, como as escolhas de cursos, o acesso a postos de trabalho de alta remuneração e progressão de carreira, são onde muitas discrepâncias ainda se observam.
Em particular, é emblemática a baixa adesão das mulheres às carreiras em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (Stem). O setor contribui para a inovação e a difusão de novas ideias e processos na economia, possuindo salários atrativos e boas perspectivas de carreira. A inerente flexibilidade de trabalho, favorecida pela adoção de tecnologias nessas carreiras, é vantagem adicional para as mulheres, que demandam e valorizam essa amenidade no equilíbrio de suas duplas jornadas.
Em levantamento que fiz com Rachter, Schanaider e Stussi, mostramos que há importantes perdas ao longo do caminho e que as dificuldades se acumulam e se sobrepõem ao longo de toda a trajetória de carreira das mulheres em ocupações Stem. Pelo mais recente Censo (2010), 37,5% dos indivíduos com diploma em Stem são mulheres e 62,5% são homens, o que confere desvantagem a elas já na largada. Considerando a escolha de cursos, análise detalhada revela que homens e mulheres fazem opções distintas mesmo dentro do setor Stem: mulheres são maioria em áreas que remuneram menos, como biologia e química, e minorias em áreas que remuneram mais, como engenharia.
Segundo, as mulheres se mostram menos propensas a atuar em suas respectivas áreas de especialização Stem, e a transição da universidade para o mercado de trabalho gera maiores perdas para elas. Também com base nos dados do Censo de 2010, calculamos que apenas 24% das mulheres graduadas em Stem atuam na área, ante aproximadamente 36% dos homens. Essa diferença não é uma particularidade do Brasil -cálculos similares para os Estados Unidos indicam que a proporção de mulheres ocupados com diploma em Stem atuando na área é de 23%, ante 40% dos homens.
Terceiro, homens conseguem se inserir em empresas que pagam salários maiores -o que começa no momento do primeiro emprego e persiste ao longo da carreira. Grande parte da diferença salarial que emerge entre homens e mulheres no setor Stem está relacionada ao prêmio salarial que as empresas pagam, ainda que homens e mulheres tenham qualificações equivalentes e desempenhem funções similares. O acesso a bons empregos é tão relevante quanto o diploma no retorno salarial.
E, por fim, a progressão é mais lenta entre as mulheres. Em nosso levantamento, mostramos que, no início da carreira, a distribuição por gênero de formados em Stem que trabalham em profissões Stem é próxima da distribuição de graduados em Stem. No entanto, a taxa de participação diverge ao longo do tempo à medida que as mulheres deixam de trabalhar nessas ocupações.
A baixa representatividade de mulheres em Stem tem implicações reais para economia, seja para o crescimento -equipes diversas inovam mais-, seja para a redução das desigualdades -salários no setor Stem são mais altos, especialmente nas áreas mais intensivas em matemática. A análise reforça que grande parte das diferenças que se observam no mercado de trabalho é resultado de escolha de cursos e decisões de emprego que acompanham toda a trajetória de carreira das mulheres, em um fenômeno que ficou conhecido por "leaky pipeline" (encanamento com vazamentos, em tradução livre).
Ampliar a representatividade das mulheres em Stem envolve combater desigualdades prévias, como normas culturais e estereótipos de gênero que vêm desde muito cedo, influenciando o interesse, a aceitação e a persistência das mulheres em ocupações de alto retorno.
Cecilia Machado
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