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Opinião Econômica

- Publicada em 25 de Abril de 2022 às 19:53

Netflix derrete e põe à prova tese de investimento em gigantes de tecnologia

Marcos de Vasconcellos
Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado
Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado
A tese que arrastou milhões de investidores para apostas em empresas que torram dinheiro para ganhar escala, mesmo antes de se tornarem rentáveis, está sendo duramente testada neste exato momento.
No tubo de ensaio estão as ações da Netflix. Depois de despencarem em janeiro, com a divulgação dos números do último trimestre de 2021, bastante abaixo das expectativas, os papéis derreteram na última semana, com a divulgação de números ainda piores. Em menos de um dia, as ações chegaram a cair 36%.
Em resumo, a gigante do streaming, que revolucionou a forma de consumir televisão, chegou ao fim de março com 200 mil assinantes a menos do que tinha em dezembro do ano passado - a previsão era fechar o período com 2,5 milhões de contas a mais.
Vá lá que cerca de 700 mil assinantes foram cortados por estarem na Rússia, nas sanções em resposta à guerra da Ucrânia. Mas não foi essa a parte que mais doeu. Ainda que se descontem os russos, o saldo positivo deveria ter sido de 1,8 milhão de contas.
E apertem os cintos, investidores: para o segundo trimestre, a Netflix já projeta um novo déficit, dessa vez de 2 milhões de contas.
Os números alarmantes vêm justamente num momento difícil para as empresas que dependem de crescimento rápido, dado o aumento da taxa de juros nos EUA, que faz o Estado competir com os empreendedores pelo dinheiro dos investidores.
Olhando o mercado de ações nos últimos seis meses, das gigantes da tecnologia chamadas pelo acrônimo Faang (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google), apenas a Apple teve desempenho melhor que o S&P 500, índice que reúne os principais papéis do mercado internacional.
Além de anunciar o fim de uma possível terceira superbolha dos EUA, como destacado pelo megainvestidor inglês Jeremy Grantham (e comentado aqui), o mais recente mergulho das ações da Netflix coloca em xeque uma das principais teses de investimentos usadas na hora de investir nas empresas de tecnologia.
Trata-se da tese chamada de "winner takes all" - "o vencedor leva tudo", em tradução literal. Ou "ao vencedor, as batatas", em tradução literária.
Simplificando, a tese diz que, em determinados setores, principalmente os de tecnologia, a corrida deve ser pautada por ser o maior de todos e, assim, não haverá espaço para a concorrência ganhar relevância. O crescimento forçado levaria ao crescimento natural.
As empresas que atuam nesse tipo de mercado correm para ser as maiores, queimam caixa para comprar concorrentes, expandir suas campanhas de marketing e sedimentar seus nomes no mercado. Com isso, quem chegar depois ou não tiver a relevância necessária fica sem chance.
Pense em Uber, Netflix, iFood. A verdade é que você não quer instalar vários aplicativos para fazer uma tomada de preço ou de cardápio a cada vez que for pedir uma pizza, um carro ou assistir a um filme. E essa "preguiça" movimenta o mercado.
No caso da Netflix, o crescimento de plataformas concorrentes como Amazon Prime Video, HBO Go e Google Play Store está levando ao limite o teste dessa tese de investimentos. A previsão de perder 2 milhões de assinantes nos próximos três meses parece tirar as batatas do prato do vencedor e renovar as apostas em uma briga de concorrentes.
O Facebook (hoje, Meta) está às vésperas de seu aniversário de dez anos na Bolsa de Valores. Nesse caminho, conseguiu a façanha de figurar entre as cinco empresas com maior valor de mercado do mundo. Foi com tudo. Na cartilha do "winner takes all", atropelou ícones como o Orkut.
Agora, corre para inovar com o metaverso, para ser de novo pioneiro e apostar, de novo, que o vencedor leva tudo.
No Brasil, empresas como Nubank, Traders Club e Méliuz se acotovelam pela liderança de seus setores.
O filme da Netflix vai dar pistas sobre o que esperar da próxima temporada das gigantes de tecnologia.
A chance de correrem (queimando dinheiro do caixa) e acabarem sem batatas, ainda que na liderança, faz seus papéis parecerem mais arriscados neste momento.
 
Marcos de Vasconcellos
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