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Opinião Econômica

- Publicada em 11 de Janeiro de 2022 às 20:24

A inflação muda as regras do jogo

Helio Beltrão
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
Enquanto você lê esta coluna nesta manhã de quarta-feira (12), o governo americano divulga a inflação acumulada em 2021. Pode superar 7%, a maior taxa em 40 anos.
Por aqui, a inflação medida pelo IPCA fechou o ano acima de 10%, ou mais de 2,5 vezes a meta estipulada. Desde o desastre inflacionário de Tombini (2015), o BC vinha cumprindo seu mandato de manter a inflação dentro do intervalo de IPCA determinado pelo Conselho Monetário Nacional.
Em razão do estouro do ano passado - bem mais acentuado que em 2015 -, o BC está obrigado a enviar carta pública ao CMN justificando por que deixou de cumprir seu mandato: manter a inflação abaixo do teto de tolerância da meta, de 5,25%.
A inflação americana é mais preocupante, não apenas por causa da deterioração do poder de compra dos americanos. A inflação muda as regras do jogo para o Fed e para a política monetária do dólar. Essa guinada pouco compreendida tem repercussão importante para a Bolsa de Valores, para os mercados de títulos de renda fixa e especialmente para os países emergentes, como o Brasil. Explico.
Nos últimos 40 anos, a cada queda relevante da Bolsa e a cada recessão, o Fed sempre pôs em marcha a seguinte receita: socorrer o mercado e a economia, inundando os bancos com dinheiro recém-criado.
A ideia é que o dinheiro criado do nada fosse despejado na economia e causasse uma injeção de ânimo e de gastos, sustentando a Bolsa e interrompendo a recessão. De fato, por reiteradas vezes o dinheiro novo animou a Bolsa e provocou gastos a curto prazo, mas não aboliu o ciclo econômico nem inibiu crises financeiras. E, como não há mágica em economia, houve um custo, ainda que invisível ao olho economicamente nu.
A alternativa teria sido deixar o mercado se ajustar naturalmente. Mas o Fed é uma marreta e vê pregos em tudo.
Essa receita de socorro automático ficou conhecida como o "Fed put", ou "seguro do Fed", uma espécie de licença para comprar Bolsa e outros ativos sem risco de perdas. O "Fed put" começou há 40 anos, com as enormes dificuldades dos bancos de Wall Street em razão da crise da dívida latino-americana de 1982 e em seguida com a quebra do sétimo maior banco, o Continental Illinois, em 1984.
O longo histórico de socorro condicionou os investidores e bancos a presumir que na próxima crise o Fed novamente resgatará a Bolsa e a economia. Mas a novidade é que, ao contrário das outras marretadas, agora há inflação de verdade. Será que o Fed voltará a ser o salvador da pátria, jogando gasolina na inflação ao criar mais dinheiro?
Hoje, a Bolsa americana está borbulhante, com ganância e euforia em retroalimentação. Parte da explicação tem a ver com a Tina, expressão da Margaret Thatcher, "There Is No Alternative". A dama de ferro se referia à economia de mercado, o melhor e único sistema que funciona. A analogia é que, como a renda fixa não paga nada, não parece haver outra opção do que colocar na "tina" da Bolsa.
Porém, se o Fed optar pelo combate inequívoco à inflação e eventualmente indicar uma trajetória de normalização dos juros (a níveis acima da inflação), a Bolsa poderá despencar, e a ganância, se tornar pavor. Nem investidores, nem bancos, nem gestores, nem os demais países anseiam por essa alternativa. Também não aplaudiram inicialmente quando Paul Volcker acertadamente partiu para cima do dragão aumentando os juros em 1981, o que propiciou a volta da estabilidade e décadas de lucros nos mercados.
O grau de liberdade do Fed desapareceu. A chamada "opção de graça" das injeções (na testa?) não inflacionárias expirou. A regra do jogo mudou, e os investidores precisam reler o manual para evitar as perdas.
Helio Beltrão
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