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Opinião Econômica

- Publicada em 19 de Abril de 2021 às 21:19

Brasil em estagflação

Rodrigo Zeidan
Professor da New York University Shangai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ
Professor da New York University Shangai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ
O Brasil está em estagflação, fenômeno raro que combina fraqueza econômica e preços em alta. No país, o efeito de uma estagflação, mesmo que temporária, é muito pior que em outros países, pelo altíssimo custo do crédito e pela indexação de muitos contratos ao IPCA e ao IGP-M.
Estagflação é algo incomum porque normalmente crescimento econômico e inflação caminhos juntos; quando a economia cresce, há pressão para aumento de preços, mas, quando a atividade econômica desaba, é menos provável que empresas subam seus preços, tanto no atacado quanto no varejo.
Mas, sob certas condições, como crises cambiais, quebra de confiança nas políticas governamentais ou racionamento de energia elétrica, acontece o pior: desaceleração econômica e preços em alta simultaneamente (por exemplo, por repasses de custos inevitáveis).
O IGP-M já explodiu, fechando 2020 acima dos 24% e provavelmente batendo 12% neste ano. E a expectativa de economistas e analistas de mercado é que o IPCA, que no mais recente relatório Focus, que é publicado semanalmente pelo Banco Central e resume as expectativas de mercado para índices de preços e atividade econômica, vai superar os 5%, acima da meta de inflação deste ano, que é de 3,75%.
Enquanto as expectativas de inflação no Brasil sobem, as de crescimento caem. De junho de 2020 a fevereiro de 2021, projetava-se que o crescimento do PIB brasileiro em 2021 seria de 3,5%. Mas hoje se espera que o crescimento do PIB termine 2021 em 3,08% (e em 2,33% em 2022). Se essa projeção se concretizar, o PIB será, ao fim de 2021, menor do que quando o atual presidente assumiu o poder.
Com crescimento de 1,1% em 2019, -4,1% em 2020 e 3,08% neste ano, o PIB brasileiro fechará 2021 em R$ 7,63 trilhões, um total menor que os R$ 7,62 trilhões, em valores atualizados, de quando Paulo Guedes assumiu a cadeira de superministro.
No resto do mundo, vemos o oposto de estagflação: recuperação econômica sem preocupação inflacionária, pois a pandemia é uma crise deflacionária: com as pessoas em casa, distanciamento social e incerteza sobre emprego e produção, os preços tendem a subir pouco.
A inflação americana foi somente de 1,25% em 2020 e não deve passar de 2% neste ano. Nos países da OCDE, a inflação em 2020 foi, na média, 1,35% e deve ser de 1,47% em 2021 e 1,68% em 2022. A União Europeia deve crescer 3,8% tanto em 2021 quanto em 2022, mas, se há alguma preocupação com os preços na região, é que a inflação estaria muito baixa, sinal de que haveria espaço para um crescimento ainda maior.
Mas o que causa o enfraquecimento da economia brasileira com preços subindo cada vez mais? A pior gestão econômica desde que o país conseguiu sair da hiperinflação. Guedes está conseguindo superar, em destruição da economia brasileira, a gestão de Guido Mantega, que entregou um país quebrado e em recessão.
Por exemplo, a disparada da inflação é em parte resultado da incapacidade da equipe econômica de gerar confiança para investimentos, o que levou à fuga de capitais, à disparada do dólar e ao aumento de preços no atacado.
Guedes conseguiu uma façanha única: colocar um país em estagflação no meio de uma crise mundial deflacionária. Só sairemos do caos e do risco de a estagflação se aprofundar quando este governo acabar. Até lá, só nos resta tentar sobreviver, ao vírus e à incompetência do governo.
 
Rodrigo Zeidan
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