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Opinião Econômica

- Publicada em 16 de Março de 2021 às 21:22

A inflação atravessou o samba

Helio Beltrão
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Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
Nesta coluna de 8 de dezembro de 2020 ("Irresponsabilidade Ímpar e Inflação"), afirmei que o BC estava atrasado e que já deveria ter elevado a Selic àquela altura. Indiquei que seria tarde quando fosse obrigado a enfrentar a saliente inflação, da qual o próprio BC foi cúmplice.
Concomitante à coluna, o BC divulgava seu róseo e "dovish" Relatório Trimestral de Inflação, prevendo em seu cenário-base inflação IPCA de 3,4% em 2021 (presumindo Selic em 2% até agosto e 3% no final do ano, irrealisticamente baixa). Desconsiderou eventuais repasses dos preços do atacado: o IGP-M já acumulava 24% de alta em 12 meses.
Hoje, apenas três meses depois, o cenário inflacionário é dramático, com projeções de 4,7% e subindo (segundo o relatório Focus, que compila expectativas de participantes de mercado).
No fim do dia de hoje (quarta-feira, 17), o Copom, que se reúne a cada 45 dias, anunciará a nova meta da Selic. O consenso de mercado é que haverá aumentos sucessivos. O Focus, que em dezembro projetava Selic de 3% no fim de 2021, agora indica 4,5%.
O mercado espera alta de 0,5 ponto percentual, com palpites tanto de 0,25 ponto quanto de 0,75 ponto. Independentemente da decisão de hoje, estou seguro de que a mediana das projeções dos participantes de mercado será ajustada algumas vezes mais, para cima.
A Selic pode beirar 6% ainda em 2021, caso o BC cumpra seu mandato de perseguir a meta de 3,75% em 2021 e de 3,5% em 2022. Tanto o mercado quanto o BC estão, como dizem os americanos, "behind the curve", significativamente atrasados em relação aos fatos.
De fato, o mercado de gente que põe seu dinheiro em jogo - os traders de juros futuros - prevê Selic de 4,75% já em agosto, coerente com um aumento de 0,5 ponto percentual e três aumentos de 0,75 ponto. É o que o BC deveria fazer para ancorar as expectativas, uma vez que descartou alta nos compulsórios.
A inflação tem surpreendido o BC, que se espantou com o comportamento contrário aos seus modelos mentais e computacionais. Afinal, as expectativas de inflação subiram ao mesmo tempo que as projeções do PIB e da dívida bruta do setor público caíram!
Assim como na década de 1970 a impensável estagflação (inflação com recessão) arruinou os modelos macroeconômicos keynesianos ancorados na tese da curva de Philips (que indicava estatisticamente uma relação inversa entre desemprego e inflação), agora a inflação galopante está colocando em xeque os modelos usados pelo BC, replicados pelo mercado.
Em linha com boa parte dos bancos centrais no mundo, o BC utiliza um modelo estocástico de dezenas de variáveis e coeficientes, denominado Samba, após tropicalização. Ocorre que a inflação atravessou o Samba.
Como dizia Roberto Campos, a estatística é como o biquíni (ou a sunga): o que revela é importante, mas o que esconde é fundamental. Modelos simplificadores da realidade não se confundem com a própria: a pandemia não foi propriamente modelada, por exemplo.
O que está ocorrendo só é surpresa para quem vive em uma planilha de Excel. O Brasil é recordista mundial de taxas de juros negativas: a inflação atual de 5% corre três pontos percentuais mais rápido que a Selic, corroendo o poder de compra da população e induzindo uma alta do dólar, que potencializa o aumento de preço das commodities.
Apenas nos últimos 12 meses foram impressos impressionantes 40% de todo o estoque de reais criados desde o início do Plano Real. É um Everest de dinheiro recém-criado correndo atrás de menos produtos e serviços, prejudicados pela pandemia.
A inflação é, em todos os lugares e em todos os tempos, um fenômeno monetário. Leia-se: uma produção dos bancos centrais.
Helio Beltrão
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