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Opinião Econômica

- Publicada em 22 de Setembro de 2020 às 22:32

A volta do socialismo empresarial

Helio Beltrão

Helio Beltrão


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Helio Beltrão
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Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
Há 50 anos, Milton Friedman escreveu "A Responsabilidade Social das Empresas é Aumentar os Lucros". O artigo --um dos mais influentes destas cinco décadas-- foi publicado em uma época na qual muitos CEOs (presidentes-executivos) advogavam que suas empresas, além de pagar impostos e cumprir a lei, deveriam fazer mais pela sociedade: doar a causas nobres, eliminar a discriminação na sociedade, contribuir para a preservação do ambiente.
Segundo Friedman, a alta administração de uma empresa é subordinada a seus acionistas e deve gerir a empresa de acordo com suas diretrizes. Normalmente, os acionistas e investidores, em especial os de companhias cotadas em Bolsa, almejam o maior lucro possível e que a gestão respeite sempre a lei e altos padrões éticos.
O aniversário induziu uma onda de artigos com refutações à tese de Friedman, umas melhores que outras, mas todas deficientes.
O artigo original é assombrosamente atual e resiliente, além de rechaçar modismos contemporâneos como ESG e a soberania dos stakeholders em contraposição aos acionistas (shareholders).
Já no primeiro parágrafo, Friedman nomeia a doutrina que embasa o discurso daqueles presidentes-executivos: puro socialismo.
Para o economista, a "responsabilidade social" significa que os gestores são incentivados a perseguir interesses antagônicos aos de seus empregadores, os acionistas. Ou seja, perseguir algo que não seja o lucro. A aposta é que todos ganharão no final: o cliente comprará produtos melhores e mais baratos, a sociedade terá seus problemas mitigados, e os acionistas lucrarão. Será?
Tomemos, por exemplo, o caso em que a gestão, em prol de contribuir com o objetivo social de reduzir a desigualdade, contrate colaboradores menos qualificados do que poderia.
Caso esta ou outra ação agregue valor aos acionistas, a alegação de virtude em prol da responsabilidade social não passa de retórica ou marketing; afinal, como nas demais decisões empresariais, esta também persegue os interesses financeiros da empresa e de seus acionistas.
Porém, na medida em que tal decisão resulte em perda aos acionistas, o gestor estará fazendo caridade com o dinheiro dos outros.
Acionistas, clientes e colaboradores podem e devem doar do seu próprio bolso para causas nobres. No entanto, o exemplo acima ilustra a usual deficiência do denominado "principal-agent problem", ou o problema da relação entre mandante e mandatário. Ganha determinado stakeholder --muitas vezes o próprio gestor--, perde o acionista.
O mesmo ocorre no caso do acionista controlador que propõe que a empresa adote uma iniciativa destrutiva de valor, repassando parte do prejuízo aos demais acionistas. Nem sempre os interesses pessoais do controlador estão alinhados com os objetivos da empresa ou dos demais acionistas.
Nesses casos, afirma Friedman, o gestor (ou o acionista controlador) age simultaneamente como legislador, executivo e jurista, ao decidir sozinho quanto gastar e para que propósito, guiado apenas por suas preferências pessoais e desconsiderando o patrimônio dos acionistas.
Por isso Friedman denomina o fenômeno de socialismo: a alocação de recursos escassos no ESG se dá por mecanismos políticos, não por lógica econômica.
O professor Aswath Damodaran, especialista em finanças, é cético em relação ao ESG. A teoria das finanças advoga que o valor de uma empresa só cresce se uma decisão a) aumentar a geração de caixa ou b) diminuir o risco da empresa. Segundo Damodaran, a meta-análise dos estudos revela que o ESG não melhora a geração de caixa, porém pode diminuir o risco da empresa. O irônico é que os acionistas de empresas anti-ESG (tabaco, energia não renovável) tendem a ganhar mais.
Como diz um CEO amigo meu, sustentabilidade é a empresa durar 500 anos.
Helio Beltrão
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