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Opinião Econômica

- Publicada em 16 de Janeiro de 2020 às 01:13

Até quanto o desemprego pode cair?

Opinião Econômica - Solange Srour

Opinião Econômica - Solange Srour


/arquivo folhapress/jc
Solange Srour
Economista-chefe da gestora ARX Investimentos. É mestre em Economia pela PUC-Rio Um dos efeitos mais positivos da saída da pior recessão de nossa história é o alívio no mercado de trabalho. Ainda não temos o número final, mas estima-se que a taxa de desemprego média de 2019 fique em torno de 11,9%, ante 12,3% em 2018.
ARQUIVO FOLHAPRESS/ARTE JC
Economista-chefe da gestora ARX Investimentos. É mestre em Economia pela PUC-Rio
Um dos efeitos mais positivos da saída da pior recessão de nossa história é o alívio no mercado de trabalho. Ainda não temos o número final, mas estima-se que a taxa de desemprego média de 2019 fique em torno de 11,9%, ante 12,3% em 2018.
Em um país com um contingente perto de 13 milhões de desempregados, duas perguntas estão postas: é possível reduzir o desemprego mais rapidamente? Até quanto o desemprego pode cair sem gerar inflação?
As respostas dependem do conceito de Nairu, ou taxa de desemprego não inflacionária, que equilibra a oferta e a demanda por trabalho. Quanto mais longe a taxa de desemprego estiver da Nairu, mais espaço há para a redução do desemprego. O quão rápido esta distância será reduzida depende da flexibilidade do mercado de trabalho, da qualificação da mão de obra e das especificidades da demanda por trabalho.
É difícil ter uma estimativa precisa da Nairu. O que temos observado desde 2017 é um crescimento medíocre do PIB e uma queda muito lenta do desemprego. Ao comparar com o nosso passado -nos últimos 20 anos tivemos um crescimento médio de 2,2%, com desemprego médio de 9%-, muitos analistas afirmam existir uma enorme ociosidade na economia. O que nos faltaria seriam mais estímulos monetários ou fiscais.
No entanto, há um fenômeno ocorrendo que coloca em xeque essa tese. Depois de forte queda durante a recessão, a produtividade (o quanto produzimos por hora trabalhada) continua caindo. Deu um leve respiro de alta em 2017, mas perdeu fôlego em 2018 e cairá em 2019.
No terceiro trimestre de 2019, a produtividade agregada caiu 0,7% em relação ao mesmo trimestre de 2018, após queda de 1,0% e 1,6% no primeiro e segundo trimestre, respectivamente. O setor de serviços representou o 22º trimestre consecutivo de queda no último dado divulgado. Sem produtividade, o potencial do PIB cai, e o desemprego estrutural é maior.
A produtividade costuma cair em anos de recessão, mas é incomum tal fato ocorrer posteriormente. Há duas explicações -não excludentes. A primeira é que, diante da mediocridade do PIB, as contratações pelas empresas tendem a ser cautelosas. O emprego formal, mais produtivo e de mais alto custo, demora a aparecer.
O principal catalisador da redução do desemprego até agora tem sido justamente a ocupação informal de trabalhadores por conta própria, com menor produtividade. Esse movimento pode ser revertido à medida que o crescimento ganhe tração. Entretanto, se a incerteza dos empresários permanecer elevada, a Nairu aumentará, pois há fricções no deslocamento do trabalhador formal para a informalidade.
Outra explicação para a queda da produtividade aborda fatores mais duradouros, como o conhecido efeito histerese. A histerese no mercado de trabalho ocorre quando o ciclo econômico afeta a estrutura do emprego. Trabalhadores que ficam desempregados por um período prolongado desaprendem tarefas e rotinas, desatualizam-se e enfrentam dificuldade para retomar suas funções. A histerese deteriora o capital humano, afeta a produtividade e aumenta a Nairu.
O mercado de trabalho brasileiro passa por uma revolução com a incorporação das inovações tecnológicas. O resultado desse processo dependerá fundamentalmente da qualificação de nossa mão de obra.
A reforma trabalhista deu passo importante para formalizar as novas relações de trabalho e trará ganhos de produtividade. Mas não avançamos na acumulação de capital humano, e a recessão pode ter agravado nossa baixa qualificação.
O futuro do emprego e do crescimento está na educação, não no uso desenfreado de apps de entrega e transporte.
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