A mais recente Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada nesta quarta-feira (11) pelo IBGE, dá sinais de avanço e recuo no mercado gaúcho, dependendo do período de comparação, o que pode indicar que o setor ainda tenta encontrar um solo mais firme de retomada, após um ano e meio de pandemia.
O indicador de volume de vendas do varejo restrito da PMC, que não inclui comércio de veículos e materiais de construção (que entram no conceito ampliado), teve queda de 5,1% em relação a maio e alta de 6,6% no confronto com junho de 2020, cuja base foi fortemente afetada pela crise sanitária. No ano, o desempenho é de avanço de 3,4% e, em 12 meses, de 1,5%. Os meses anteriores vieram mais fortes, numa recomposição após meses muito ruins.
Considerando o conceito ampliado, com materiais de construção e veículos, o Estado tem queda de 4,8% em relação a maio, alta de 8% na variação mensal, de 7,8% no ano e de 2,6% em 12 meses.
"O resultado reflete uma acomodação no período, pois em maio o comércio restrito no Rio Grande do Sul atingiu o recorde da série histórica", analisa Oscar Frank, economista-chefe a Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-POA).
O Rio Grande do Sul teve números inferiores ao da média do Brasil, mas com a mesma direção. O Brasil teve queda menor, de 1,7%, no comparativo com maio, e altas de 6,3% no mensal que confronta com o mesmo mês do ano passado, de 6,7% de janeiro a junho deste ano e de 5,9% em 12 meses no varejo restrito. No ampliado, o País teve queda de 2,3% no mês, e altas de 11,5% frente a junho de 2020, de 12,3% no ano e de 7,9% em 12 meses.
Vestuário aquecido e supermercados em baixa no volume e alta em receita
Supermercados tiveram queda no volume de vendas em junho, afetando o indicador geral. Foto: Patrícia Comunello/JC
Neste recorte setorial, o comportamento revela impactos em sentidos opostos na atuação no Estado. O segmento de tecidos, vestuário e calçados foi o mais exitoso, com elevação de 39,2% no volume de vendas em relação a 2020.
Este ramo do comércio sentiu em cheio as restrições e o distanciamento social da pandemia. Também o frio mais rigoroso este ano pode ter alavancado os números, sem contar que muitos estabelecimentos mantiveram os preços de produtos menos sujeitos ao efeito das novas coleções para zerar estoques herdados ainda do inverno do ano passado.
A receita de vendas cresceu no segmento 44% em relação a junho de 2020 e 36% no primeiro semestre, mas teve queda de 12,4% em 12 meses, o que sinaliza a manutenção ou redução de preços para atrair clientes. Até porque o custo do estoque é uma despesa financeira que o varejo precisa reduzir e uma das razões é o endividamento que cresceu na crise sanitária.
No varejo restrito, combustíveis tiveram alta mensal de 10,9%, mas queda de 3,8% no ano e de 7,2% em 12 meses. Mas a receita, alimentada por alta sucessivas da gasolina e diesel, está positiva, com aumento nominal (sem descontar a inflação) de 62,6% no mês, de 21,9% no ano e de 10,3% em 12 meses.
Supermercados apresentaram desempenho negativo em todos os períodos analisados: -6,3% frente a junho de 2020, -6,8% no ano e -0,9% em 12 meses. Isso em violume, que reflete a quantidade comercializada, porque o faturamento nomimal cresceu, indicando recomposição de preços, com itens subindo muito acima da correção oficial: elevação média foi de 8,4% no mês, 7,7% no ano e 12,4% em 12 meses.
Frank observa que os dados negativos de vendas dos supermercados e hipermercadlos acabam afetando o desempenho agregado do varejo devido ao peso na formação do indicador. O economista aponta impactos nesse desempenho do "mercado de trabalho ainda deteriorado e avanço consistente da inflação".
Segmento de móveis e eletrodomésticos tem queda de 1,9% no mês, mas alta de 6,8% e 7,5% no ano e desde julho do ano passado, respectivamente.
As vendas de livros e outros itens de papelaria e jornais, que andam de lado e com forte queda em toda a pandemia, tiveram pelo terceiro mês crescimento, agora de 22,2%. Mas no ano o número ainda está no vermelho, com queda acumulada de 24,1%, que segue nesta pegada em 12 meses, com redução de 30,2% no volume.
Construção e veículos não sentem a crise
O varejo ampliado mostra uma perda de fôlego, com altas menores, mas ainda descolando do segmento restrito. Materiais de construção venderam 6,1% mais em junho, 23,3% no ano e 21,6% em 12 meses. O segmento de veículos cresceu 15,4% no mês e 18,7% no ano. Apenas a trajetória desde julho de 2020 teve recuo, de 2,8%.
As revendedoras têm sido afetadas por menor oferta de modelos novos, devido à interrupção da produção associada à falta de peças. É o caso da fábrica da General Motors em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, parada desde abril e que
volta a operar na semana que vem.
Já a receita dos dois setores gaúchos está em alta em todas as comparações. Materiais supera 30% no mês, com aumento nominal de 32,8%. No ano, o desempenho é 48,3% maior e, em 12 meses, 37,6%. Automóveis, motos e autopeças faturaram 30% mais em junho, 31,3% no ano e 4,6% em 12 meses.